Venda de importado fica estável mesmo com real valorizado
09/01/2009
O crescimento da importação de veículos no Brasil é muito mais amparada pelos acordos de intercâmbio comercial com outros países do que pela vantagem cambial. A venda de importados nesse setor ainda é limitada e equivale a 6% do mercado. A participação dos carros da Argentina e México, que não recolhem Imposto de Importação, responde por mais de 70% do total de veículos vindos do exterior. A tendência é crescer mais.
A alíquota de Imposto de Importação para carros, de 35%, ainda serve como proteção à indústria nacional. É por isso que o mercado dos modelos estrangeiros, que não vêm da Argentina ou México, continua predominantemente formado por luxuosos ou os chamados nichos, que sofrem pouca concorrência do produto nacional.
O próximo acordo de intercâmbio comercial com o exterior deverá ser com a Europa. As negociações devem começar em setembro. É por isso que os importadores independentes se preparam para disputar com as montadoras as cotas com isenção de imposto que deverão ser negociadas com a Europa, de onde vem grande parte dos carros estrangeiros.
Luiz Carlos Mello, diretor da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos (Abeiva), que representa as marcas sem fábricas no país, diz que a entidade vai encaminhar o pedido ao governo nos próximos dias.
O ritmo das importações do México, o acordo mais recente, vem dando saltos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, durante 2005 o país importou 2.750 veículos mexicanos. Nos seis primeiros meses de 2006 foram 7,9 mil.
As montadoras com fábricas no Brasil são responsáveis pela importação dos maiores volumes de carros da Argentina e México. “A oscilação do câmbio não é suficiente e nem causa única para o crescimento nas vendas de carros importados”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb.
Sem os acordos internacionais que eliminam o imposto fica praticamente impossível competir com a indústria nacional, mesmo com o real valorizado. O mercado dos importados fica, assim, restrito ao consumidor de alto poder aquisitivo. E nesse segmento, a oscilação do câmbio tem pouca influência.
“O que mexe no nosso mercado não é a variação do dólar, mas o nível de otimismo”, afirma o diretor comercial da Via Europa, importadora de Ferrari e Maserati, Cláudio Marmo. Ele trabalha com previsão de vender este ano 27 unidades Ferrari e 35 Maserati, nada muito diferente dos anos anteriores.
Segundo Marmo, o tamanho do mercado de um veículo que chega a custar R$ 1 milhão não muda muito. “O que muda é a mão que detém o dinheiro”, afirma. O executivo lembra que há 10 anos, Maserattis e Ferraris poderiam ir para as garagens dos endinheirados que plantavam soja. A mudança no rumo do agronegócio levou boa parte a se desfazer do carro.
Entre as marcas que desfrutam de um estilo de sofisticação e esportividade que não sofre concorrência nacional, a alemã Porsche cresce amparada em um ambiente econômico estável. Há quatro anos foram vendidos no país 51 carros Porsche. No ano passado, as vendas foram para 214. Para este ano, Marcel Visconde, um dos sócios da Stuttgart, importadora da marca, será possível chegar a 280 veículos.
Esse crescimento não vem da vantagem cambial, segundo Visconde. O aumento de demanda por essa marca surgiu com o lançamento da Cayenne, uma van voltada para o dia-a-dia, diferentemente do restante da linha, com apelo mais esportivo. “O Brasil pegou carona numa estratégia mundial.”
A Porsche é uma das poucas marcas que faz as tabelas de preços em dólar. E usa o câmbio do dia. Concessionários de outras marcas reclamam que a moeda americana balizou os preços quando o real estava desvalorizado e agora ocorre o inverso.
Mas, como a alta ou a baixa do dólar não afeta as vendas, os preços dos importados também não obedecem a nenhuma oscilação cambial. O preço do sofisticado Jaguar, um clássico do mercado, saltou de R$ 192,9 mil em abril de 2002 para R$ 218,5 mil, em novembro do mesmo ano, véspera da última eleição presidencial, mês em que o dólar chegou a R$ 3,65. Agora, com a moeda americana oscilando em R$ 2,16, o mesmo modelo é vendido a R$ 262,2 mil.
Para o presidente da Anfavea, hoje, os estímulos ao financiamento de carros fazem muita gente querer mudar de categoria. Isso abre espaço para os carros mais luxuoso que vêm do México. É o caso do recém-lançado Fusion, fabricado pela Ford. O Accord, da Honda, que atende a um público de alto poder aquisitivo, também vem do México. Os preços variam entre R$ 90 mil e R$ 135 mil.
Outros modelos já conhecidos pelo brasileiro completam uma lista de importações do México: o Sentra, da Nissan; o PT Cruiser, da Chrysler, e o recém-lançado sedã de luxo Jetta, da Volkswagen.
Para Golfarb, a ausência do Imposto de Importação favorece a compra de carros do México, mas não é só isso. “A importação desses mesmos carros seria inviável com o dólar a R$ 4”, afirma o executivo.
As importações de veículos do México ainda estão limitadas a uma cota que será de 210 mil unidades este ano. O sistema de cotas vai, no entanto, desaparecer em 2007, o que deverá aumentar os volumes vindos daquele país.
O peso da Argentina também é muito grande nas importações de veículos. Este ano, até julho, foi equivalente a 65,5% dos volumes de veículos que vieram de outros.
“É preciso lembrar que hoje se vende apenas a metade do que se vendia em 2001”, afirma Mello, da Abeiva. As importações, este ano, devem ficar em torno de 6 mil unidades. No auge da abertura do setor automotivo, em 1995, o mercado brasileiro absorveu 369 mil veículos estrangeiros.
Fonte:
Valor Economico