Venda da TIM é opção para italianos, mas depende de cenário complexo

30/11/2008

Em meio à crise financeira internacional, a Telecom Italia estuda alternativas para aliviar seu pesado endividamento e a venda da TIM Brasil é uma dentre as possibilidades cogitadas, informou ao Valor fonte que acompanha o assunto.
A possível compra dos ativos brasileiros da TIM pela espanhola Telefónica é tema recorrente desde o ano passado, quando os espanhóis tornaram-se acionistas da Telecom Italia, mas voltou à tona ontem por causa de uma reportagem publicada pelo jornal italiano "Il Sole 24 Ore". A notícia fez disparar as ações da operadora de celular na Bovespa. As ordinárias fecharam o dia valendo R$ 7, com alta de 18,44%, enquanto as preferenciais subiram 11,85%, para R$ 3,87.
A euforia do mercado baseia-se na perspectiva de um desfecho para a TIM, desgastada pelos problemas financeiros da matriz e pela perda de competitividade no mercado brasileiro. Segundo o jornal italiano, o executivo-chefe da Telecom Italia, Franco Bernabè, solicitou ao conselho de administração que estude medidas para a companhia enfrentar a crise. Vender o negócio de telefonia fixa ou a TIM Brasil seriam algumas idéias em pauta.
O Valor consultou interlocutores ligados à companhia, que negaram a informação. "Vai contra tudo o que a gente tem conversado com a matriz", diz um executivo da empresa. Outras fontes de mercado, entretanto, afirmam que a possibilidade existe, mas não há nenhuma definição sobre ela por enquanto.
Nada indica que o processo, caso ocorra, seja iminente ou tenha um desdobramento rápido. Há uma série de fatores que precisam ser alinhados antes que a TIM possa mudar de mãos. Em primeiro lugar, é necessário estabelecer uma nova correlação de preços. Há dois anos, a América Móvil, dona da Claro, ofereceu 7 bilhões de euros pelas operações da TIM no Brasil e na Argentina. Houve negociações, mas os italianos acabaram desistindo de vender os ativos.
Desde então, o dólar valorizou-se, as condições do mercado se deterioraram e a TIM perdeu o segundo lugar no ranking de celulares do Brasil para a Claro. "Esse preço seria alto demais hoje", observa o analista Valder Nogueira, do Itaú. Fonte ligada a uma operadora concorrente aponta na mesma direção: "Esse valor seria um teto. As negociações teriam que acontecer daí para baixo".
Nogueira observa que a venda da TIM pouco aliviaria a dívida da Telecom Italia, de 37 bilhões de euros.
Mas preço não é o único fator em jogo e talvez até seja o mais simples deles. Vender a TIM para a Telefónica passa necessariamente pela delicada relação entre o grupo espanhol e a Portugal Telecom, que dividem o controle acionário da Vivo.
É inegável que a Telefónica tem interesse em tornar-se uma operadora de telefonia fixa e móvel integrada no Brasil – como Oi e Brasil Telecom já conseguem fazer e farão com mais força ainda depois de se unirem. A operadora espanhola controla a Telesp, concessionária fixa de São Paulo, mas não consegue integrar a ela as operações móveis da Vivo. No setor de telecomunicações, a integração entre esses serviços é sinônimo de sinergia. No entanto, faz anos que a Telefónica tenta comprar a participação da Portugal Telecom na Vivo, sem sucesso.
Num cenário de compra da TIM, essa questão volta a ser fundamental. Uma hipótese é os espanhóis comprarem a operadora italiana e manterem a parceria com a Portugal Telecom na Vivo, mas unir esses ativos implicaria diluir a fatia dos portugueses na empresa resultante. Segundo o Valor apurou, a idéia é mal vista por eles.
Outra opção é a Portugal Telecom, mais uma vez, tentar comprar a participação da Telefónica na Vivo. Mas a operadora portuguesa também tem índice de endividamento elevado e provavelmente teria de encontrar um investidor – em pleno momento de crise – para a empreitada. A fatia espanhola na Vivo já foi avaliada em cerca de 3,5 bilhões de euros.
Se a Telefónica comprar a TIM e mantiver a participação na Vivo, a operadora espanhola terá mais da metade do mercado brasileiro de telefonia móvel, em número de assinantes. E, nesse caso, terá de enfrentar a resistência dos concorrentes. Sinais dessa reação já despontaram ontem, quando fonte de uma grande operadora afirmou ao Valor que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) terão que olhar cuidadosamente esse negócio, se ele for adiante.
A possível venda da TIM Brasil veio à tona no fim de 2006, com a investida da América Móvil. Mas, em vez disso, a Pirelli, antiga controladora da Telecom Italia, passou a negociar a venda de suas ações no bloco de controle da matriz.
Em abril de 2007, um consórcio do qual faz parte a Telefónica adquiriu as ações da Pirelli na Olimpia, a holding que controla a Telecom Italia. Dessa forma, o grupo espanhol já se tornou acionista indireto da TIM Brasil. Para não entrar em conflito com a regulamentação brasileira, que impede a sobreposição de licenças, a Telefónica concordou em se abster de participar da gestão da operadora brasileira. Existem apostas de que os espanhóis poderiam, na verdade, aumentar sua participação na Telecom Italia, o que lhe daria o controle da TIM indiretamente.

 

Fonte:
Valor Online