Trem-bala entre Rio e SP ganha impulso com caos aéreo

09/01/2009

EXAME Após anos avançando ao ritmo de uma maria-fumaça, o governo federal finalmente decidiu acelerar o projeto do trem-bala entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Pressionado pelo caos aéreo que tomou conta do país desde a queda de um avião da Gol em setembro do ano passado e que se agravou com a explosão do avião da TAM na semana passada, o Executivo agora corre para lançar o edital de concessão da linha ferroviária até o final do ano ou, no máximo, no início de 2008. O projeto é apontado pelos especialistas como uma das melhores soluções para desafogar a rota entre as duas maiores metrópoles brasileiras, pois atrairá passageiros que hoje se deslocam tanto de avião quanto de ônibus e carro.

“É preciso criar uma alternativa. O setor aéreo está em colapso e o transporte urbano, também”, afirma José Roberto Zaniboni, diretor-executivo da Agência de Desenvolvimento de Trens Rápidos entre Municípios (ADTrem), uma organização não-governamental criada no ano passado para divulgar esse meio de transporte no país. A associação é mantida por grandes companhias interessadas em implantar linhas de alta velocidade no país. Além do trem-bala ligando cariocas e paulistanos, há propostas para linhas até Campinas, no interior de São Paulo, e outras capitais, como Belo Horizonte e Curitiba.

Dentro do próprio governo, a avaliação é de que o sistema de transporte chegou ao limite. “Temos urgência; veja o caos aéreo”, diz José Francisco das Neves, presidente da Valec, estatal vinculada ao Ministério dos Transportes e responsável pelo desenvolvimento do projeto do trem-bala. Segundo Neves, o desinteresse de outros órgãos do governo era claro, até que o caos aéreo começou. “Quando assumi o projeto, ninguém acreditava nele”, diz. Agora, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, está entre seus principais apoiadores. Em maio, Dilma reuniu-se com empresários italianos interessados no projeto e com o Banco Europeu de Investimentos, um dos possíveis financiadores da proposta. A ministra também demonstrou a intenção de incluir a obra no pacote do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Projeto polêmico

A lentidão com que a proposta avançou entre os corredores de Brasília não a isentou de várias polêmicas. A primeira foi a escolha da empresa italiana de engenharia Italplan para desenvolver a modelagem técnica e financeira da linha. Escolhida no início do ano passado, a empresa foi acusada de não possuir a experiência necessária para um projeto desse porte – seu capital social é de apenas 10 milhões de euros. Na época, o governo argumentou que isso não prejudicaria os trabalhos, já que a Italplan não poderá participar da licitação para construir e operar a linha – foi contratada apenas para projetá-la.

Os dois consórcios que concorreram com os italianos eram formados por empresas maiores e mais experientes. O grupo alemão apresentou um projeto de 7,2 bilhões de dólares, com tarifa de 81 dólares para os passageiros. Já a Siemens e a Odebrecht propuseram uma obra de 6,3 bilhões de dólares, com tarifa de 77 dólares. A Italplan apresentou a obra mais cara: 9 bilhões de dólares. A seu favor, pesaram dois fatos. Primeiro, a proposta prevê que todos os recursos para financiar a obra serão privados – nas demais, o aporte e os subsídios públicos chegavam a 80% do valor total. Segundo, foi o projeto com a menor tarifa para o usuário – 60 dólares.

Fonte:
Exame
Márcio Juliboni