Tomates processados: Horeca impulsiona importações brasileiras

24/01/2024

De acordo com a análise da Nomisma dos primeiros dez meses de 2023, o país sul-americano é um grande importador de derivados de tomate da Itália, com mais de 50% dos valores movimentados pelo segmento de tomate pelado

Entre os vínculos comerciais que unem a Itália aos países da América do Sul, há também um fluxo significativo de comércio ligado a tomates processados, que foram importados das Américas para a Europa na primeira metade dos anos 1500 e se tornaram, ao longo do tempo, matérias-primas valiosas para a indústria alimentícia nacional.

Nos primeiros dez meses de 2023 (janeiro-outubro), entre os países não pertencentes à UE, o Brasil, um dos cinco membros do Mercosul, importou continuamente derivados de tomate da Itália, com tendência de aumento de dois dígitos, tanto em valor quanto em volume. No Brasil, entre as hortaliças produzidas, o tomate é a que apresenta os maiores níveis de produção, da ordem de três milhões de toneladas por ano, mas apenas 35% é absorvido pela indústria, concentrada nos estados de São Paulo e Bahia, deixando espaço para a importação de produtos processados. Por outro lado, existem aproximadamente 35 milhões de brasileiros descendentes de italianos, indicando uma grande área de captação, potencialmente predisposta ao uso regular de tomates na culinária.

De fato, a linha de subprodutos do tomate é diversificada, pois se destina tanto ao consumo doméstico quanto ao uso no canal Horeca. A oferta consiste em um amplo leque de alternativas: polpas, cubos, tomates picados, purês, concentrados, tomates pelados e sucos, todos amplamente utilizados domesticamente ou em restaurantes comerciais para a preparação de pratos mais ou menos elaborados.

Mais de 60% do produto processado vem da Itália

Nos primeiros dez meses de 2023, o Brasil importou tomates processados no valor de US$ 41,7 milhões (preços FOB), em grande parte da Itália. Mais especificamente, no período de janeiro a outubro de 2023, as importações da Itália totalizaram US$ 26,3 milhões, ou 63% do total. Dos valores movimentados, 57,2% foram referentes a remessas de tomates pelados, gerando um faturamento médio mensal de US$ 1,5 milhão; os 42,8% restantes foram atribuídos a concentrados, para um faturamento médio mensal de US$ 1,1 milhão (Fig. 1).

Fig. 1 – Importações mensais de tomates processados da Itália, por tipo

Em dólares, em 2023 – Fonte: Nomisma Agrifood Monitor su dati Comexstat

Horeca: motor de crescimento

A evolução positiva da estrutura econômica do país sul-americano abre perspectivas interessantes para os tomates processados italianos. Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu +2,9%. Em 2023, acreditava-se que, devido à inflação, o crescimento diminuiria, mas a tendência da previsão do PIB no início do ano foi periodicamente revisada para cima e agora é estimada em +3,1% (fonte: GTAI Trade and Invest – dezembro de 2023). A inflação em torno de 5%, no entanto, não deixou de corroer o poder de compra da população, afetando o consumo de certas bebidas e alimentos. Em geral, no canal de varejo, a população estava mais atenta aos preços do que no passado, enquanto entre as classes de renda mais alta a demanda por produtos alimentícios de alta qualidade permaneceu estável.

No caso dos derivados de tomate, o impulsionador da demanda pode ser identificado na retomada do horeca. De fato, após o período de isolamento social causado pelas consequências da pandemia, os brasileiros voltaram a frequentar com mais assiduidade restaurantes tradicionais e de fast food, lanchonetes e outros estabelecimentos comerciais. Em 2022, as vendas de alimentos da indústria no setor de foodservice cresceram +18%, atingindo um faturamento de aproximadamente US$ 40,4 bilhões, ou 27% do mercado doméstico (fonte: Associação Brasileira da Indústria de Alimentos – ABIA). A tendência de crescimento continuou em 2023, beneficiando também o consumo geral de derivados de tomate, conforme demonstrado pelo crescimento das importações da Itália. A Tabela 1 mostra as expectativas futuras para o Brasil com relação ao consumo de tomate processado por meio da tendência prospectiva da Cagr, referente às tonelagens contidas nas categorias de alimentos mais populares à base de tomate (fonte: Euromonitor Survey for Tomato News).

Tab. 1 – Expectativas de crescimento do mercado, por categoria (% dos volumes de produtos usados)

Fonte: Nomisma Agrifood Monitor da Global Market Report: Processed Tomatoes in Brazil

Os aumentos de crescimento esperados para o Brasil são maiores do que o crescimento médio da América do Sul, para quase todas as principais famílias de alimentos que contêm uma quantidade mais ou menos substancial de tomate processado. Apenas para vários molhos, sopas e pizzas espera-se que o Brasil cresça menos do que a América do Sul como um todo. No entanto, também nesse caso, a perspectiva é favorável: o número de pontos de venda das duas cadeias de restaurantes de autosserviço mais populares que têm a pizza como seu negócio principal (Domino’s Pizza e Pizza Hut) cresceu de forma constante nos últimos cinco anos, mesmo nos anos de pandemia, e espera-se que continue assim em 2024 (Fig. 2).

Fig. 2 – Tendência dos pontos de venda das principais redes de pizzarias no Brasil (unidades)

Fonte: Nomisma – Agrifood Monitor su dati United States Department of Agriculture – USDA

No longo prazo, espera-se, portanto, um crescimento mais rápido do serviço de alimentação do que do canal de varejo, de acordo com o que já estava acontecendo antes da pandemia que, paradoxalmente, acelerou essa tendência como resultado da rápida transformação digital do setor.