Têxteis e calçados do Brasil abrem guerra contra a China

09/01/2009

Exportações para a China caíram 4%, e as importações subiram 60%

O forte crescimento das importações de produtos chineses no Brasil tem levado alguns setores da indústria como o têxtil, o de calçados, de brinquedos e de eletrônicos ao Departamento de Defesa Comercial, com o pedido de adoção de medidas antidumping, para a proteção da competitividade nacional.

Uma das economias que mais cresce no mundo, com taxa de 9,5% ao ano, a China tem sido acusada de praticar o dumping — vender produtos em outros países por preços abaixo daqueles praticados em seu próprio mercado. Os Estados Unidos, a União Européia e Argentina já iniciaram investigações antidumping.
O reconhecimento, pelo Brasil, do status da China como economia de mercado, no entanto, não impossibilita a comprovação da prática de dumping pelos exportadores chineses, mas apenas altera o processo de investigação, uma vez que o “valor normal” do produto terá que ser baseado em preços do mercado chinês, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China.

Terceiro maior exportador mundial, a China fica atrás dos Estados Unidos e Alemanha. Para o Brasil, a China é um dos maiores fornecedores, com 6,6% das importações brasileiras, atrás dos Estados Unidos, com 17,6%, e Argentina, com 8,8%. As exportações brasileiras para a China, de janeiro a maio de 2005, somaram US$ 2 bilhões (com queda de 3,9%), e as importações, US$ 1,8 bilhão (com aumento do 57,5%).
O secretário executivo do Conselho, Renato Amorim, explicou que “mesmo podendo definir o ‘valor normal’ com base em produtos de outros países, as medidas antidumping aplicadas contra a China não tiveram, até agora, peso na pauta de importações brasileiras”.

Ele disse que, dos US$ 3,4 bilhões que o Brasil importou da China em 2004, apenas 1,1% (US$ 37 milhões) estiveram sob algum tipo de defesa comercial. Ele disse ainda que daqui a 15 anos a China duplicará sua participação no comércio mundial, que hoje movimenta cerca de US$ 740 bilhões em exportações ao ano.
Na avaliação do comportamento do comércio entre Brasil e China, de janeiro a maio de 2005 em relação ao mesmo período do ano passado, Renato Amorim destaca: as exportações para a China cresceram 4% (indo a US$ 1,6 bilhão), frente a aumento de cerca de 60% das importações (US$ 1,4 bilhão).

O resultado justifica-se em função do baixo desempenho de produtos ou segmentos tradicionais da pauta exportadora, especialmente: óleo de soja (queda de 78,2%); produtos semimanufaturados de ferro e aço (queda de 56%); soja em grão (queda de 0,9%); e minério de ferro (alta de 10%). Os produtos mais significativos nas importações chinesas para o Brasil, com 22% da fatia, são os eletroeletrônicos, máquinas e produtos químicos.

Na opinião do ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, além dos setores sensíveis às importações chinesas, produtores de aço e alumínio poderão ser afetados. “A China começa a exportar estes insumos, e dentro de 15 anos poderá se tornar auto-suficiente”, disse.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, afirmou que a decisão de regulamentar a China como economia de mercado não significa que o governo vá aplicar salvaguardas. “A regulamentação da salvaguardas deve ocorrer até o final deste mês, mas não significa que será aplicada pelo governo brasileiro”.
O Conselho Empresarial Brasil China chama atenção para o fato de que uma medida de salvaguarda implica ônus político para o país que a impõe, uma vez que não se baseia em uma prática desleal de comércio, como o caso do dumping ou subsídios.

Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, existem mais de 5 mil empresas chinesas que exportam para o Brasil. Em contrapartida, são apenas 1 mil exportadores brasileiros que comercializam seus produtos na China, principalmente commodities do complexo da soja e do minério de ferro. “Há um espaço muito grande para a inserção de novas empresas e produtos; portanto, a pauta precisa ser diversificada”, disse o secretário Ivan Ramalho.

DCI
Juliana Santos
21/6/2005