Telecom Italia planeja futuro da TIM

09/01/2009

O presidente da TIM Brasil, Mario Cesar Pereira de Araujo, participa hoje, em Milão, de reunião de planejamento do grupo Telecom Italia para o período 2007 a 2009. A presença no encontro, para ele, é uma demonstração de que o processo de venda está sendo enfraquecido. “As informações oficiais são de que o conselho de administração da Telecom Italia autorizou o estudo de duas propostas não-solicitadas, uma escrita e outra verbal”, diz ele, sem informar quem seriam os candidatos. No mercado, as apostas são de que a mexicana América Móvil formalizou a proposta enquanto a Brasil Telecom vem apenas conversando, o que o executivo não comenta.

O executivo lembra que a empresa só pode declarar que está ou não vendida no conselho de administração. A reunião será no início de março. “A expectativa que tenho é a de que não vão vender”, afirma. Ele conta que, em comunicado interno, Carlo Buora, presidente do conselho de administração, informou que além da estratégia de crescimento na própria Itália, o comando do grupo quer consolidar a expansão na Europa e no Brasil.

Mas as especulações em torno da venda da empresa não cessam. E a cada informação que circula na mídia em torno de negociações, afirmando que estão mais ou menos avançadas, as ações da companhia oscilam fortemente. Para o presidente da TIM “evidentemente há aproveitadores que procuram usar o fato para obter benefícios”, diz.

O grupo fez uma recente reestruturação. A TIM Brasil continua ligada ao principal executivo do grupo, Ricardo Ruggiero. Nesta mudança, “a empresa brasileira manteve o mesmo nível de importância na estrutura”, destaca Mario Cesar, como é conhecido o executivo no setor de telecomunicações.

Indagado sobre a posição de Ruggiero, que, segundo informações veiculadas na mídia italiana, seria contrário à venda, o presidente da subsidiária responde de forma cautelosa: “Essa empresa é patrimônio do grupo e tem que se fazer com que ela cresça. Eles (os controladores) cobram, mas têm aprovado o que nós dizemos que precisamos para conquistar competitividade e crescimento. Sentimos que o grupo considera a TIM Brasil como considerava antes (da expectativa de venda). Eles estão satisfeitos com o resultado da empresa”, afirma.

Em todo esse processo há obstáculos. Existe a pesada dívida do grupo, da ordem de ? 40 bilhões. O ex-presidente do conselho Marco Tronchetti Provera é acionista e foi ele quem chegou a receber a primeira proposta de compra da TIM. Mesmo que os atuais executivos e a opinião pública italiana não sejam simpáticos à venda, há o caixa dos controladores que precisa de oxigênio.

Quanto a isso, Mario Cesar reponde: “O que posso dizer é o que ouvi do dr. Tronchetti. Ele tem um carinho especial pela TIM Brasil. Mas, se por motivos financeiros a posição é de venda, eu não sei. Aliás, ele tem um um carinho especial pelas empresas que ele constituiu no Brasil”, argumenta.

Em meio ao fogo cruzado em torno dos boatos de venda, o presidente da TIM Brasil está sendo forçado a adaptar a gestão ao momento em que vive a companhia. “Evidentemente nossos colaboradores ficam bastante sensíveis, preocupados com a venda. Mas não identificamos perda significativa no ‘turn over’ da empresa. O que fizemos foi o processo de retenção das pessoas-chave. Criamos contratos mais longos, bônus específicos. Mesmo assim, temos argumentado que quando uma empresa de telecomunicações é vendida, o material humano é fundamental e é mantido”, diz.

Mario Cesar diz que mantém os empregados informados e todos recebem os comunicados vindos da Itália. “Na verdade, os controladores jamais disseram que a TIM Brasil está à venda. Informaram que receberam propostas não-solicitadas, o que não significaria que ela seria automaticamente vendida”, afirma.

Com relação aos negócios por aqui, ele conta que a TIM identificou que em pontos no varejo terceirizados há algumas informações desencontradas que podem prejudicar a venda. Mario Cesar diz que já recebeu notícia de locais em que os vendedores argumentam: “Já que a TIM vai acabar porque o senhor vai comprar um chip da TIM?”. Mesmo assim, ele afirma que a empresa não sentiu redução de vendas no Natal.

Quanto ao faturamento, o executivo diz que o resultado da TIM no último trimestre de 2006 ficou próximo ao da Vivo, a maior empresa do setor. Ele não informa valores e diz que o balanço será divulgado em março. “Nosso objetivo não é ser o líder em assinantes, mas sim em faturamento e estamos seguindo nesta linha”, afirma. Ele estima que neste ano o crescimento de novos usuários será semelhante ao de 2006, entre 12 e 13 milhões de clientes.

O executivo explica que o desafio das operadoras de telefonia celular brasileiras é aumentar a receita por assinante, pois à medida que a adesão cresce atinge camadas menos favorecidas: “Acredito que o país vai ter uma reforma tributária, embora o tema não tenha entrado no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A atual é nociva, reduz a chance da telefonia crescer entre os menos favorecidos. A reforma tributária é necessária para ajudar na saúde financeira das empresas”, afirma.

Ele reconhece, no entanto, que no cenário atual a adesão do celular no Brasil está próxima da saturação. Por isso, diz que o mercado de ‘churn’ (o cliente trocar de operadora) passa a ser o mais importante. “O nosso percentual de pós-pago é maior do que a média, fica em 22%. Conquistamos isso oferecendo planos adequados ao perfil do cliente. Nunca nos preocupamos em oferecer os aparelhos mais subsidiados e sim o conjunto com os serviços mais adequados quanto a custo e benefício”, afirma.

Fonte:
Valor Economico
Heloisa Magalhães