Skaf e Vaz tomam posse:superar as divergências
09/01/2009
Os novos presidentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz, tomaram posse ontem prometendo se esforçar para superar sua rivalidade e trabalhar juntos pelos interesses do empresariado.
As duas entidades serão dirigidas pela primeira vez por industriais de grupos diferentes.
“Aqui não existem mais lados”, disse Skaf em discurso após a posse. “O que me estimula muito é a relação franca e amorosa que nos une.” Na sua vez de discursar, Vaz convidou o adversário a sentar-se ao seu lado. “A boa fé, os bons propósitos e princípios levarão as duas entidades a fazer com que os riscos da divisão sejam transformados em oportunidades e realizações”, disse Vaz.
O empresário Horácio Lafer Piva, que apoiou Vaz na campanha e ontem entregou os dois cargos depois de seis anos à frente das duas entidades, elogiou seus sucessores. Ao transmitir o posto para Skaf, disse que será um “cobrador de ações com espírito crítico”, mas chamou-o de “meu presidente” e disse que agora fará parte da sua “base de apoio”.
As próximas semanas dirão se as boas intenções expressas pelos três empresários produzirão resultados duradouros. Skaf e Vaz terão que se debruçar agora sobre a situação de duas entidades que sempre funcionaram como se fossem uma só e decidir como vão dividir recursos financeiros, funcionários, móveis, telefones e o edifício da Avenida Paulista que a Fiesp e o Ciesp ocupam.
Eles provavelmente encontrarão grandes dificuldades para dividir os departamentos de assessoria técnica que hoje trabalham para as duas entidades. Alguns, como o de estudos e pesquisas econômicas, que todo mês divulga estatísticas sobre a atividade industrial no Estado, são fonte de prestígio e dão visibilidade a seus dirigentes. Vaz dirige esse departamento desde o ano passado.
Outro departamento que tem função-chave na estrutura das duas entidades é o de comércio exterior, que representa os interesses da indústria nas negociações comerciais das quais o país participa. Se Skaf e Vaz não se entenderem sobre a condução das atividades nessa área, é provável que cada entidade crie seu próprio departamento e eles disputem espaço como interlocutores do governo nessas negociações.
A possibilidade de duplicação dos departamentos é grande e vai depender das conversas que Skaf e Vaz terão nos próximos dias. Nas últimas semanas, cada grupo procurou pelo menos uma dúzia de funcionários desses departamentos para indicar que gostaria de contar com sua colaboração. Também não se resolveu ainda com quem ficará a memória do trabalho feito até aqui por esses departamentos, incluindo documentos e computadores usados pelos técnicos.
“Não vai ser fácil”, previu Vaz em seu discurso. “O fato de a gente querer não quer dizer que não existam obstáculos.” Desde que a eleição realizada em agosto rachou a representação da indústria paulista, aliados de Skaf e Vaz se hostilizaram o tempo todo. Só na última semana os dois empresários alcançaram uma trégua. O objetivo era garantir uma posse tranqüila e abrir caminho para negociar a divisão da estrutura de apoio das duas entidades.
Apesar da disposição de Skaf e Vaz pela conciliação, houve escaramuças até o último momento. Ontem pela manhã, numa reunião de Piva com a antiga diretoria do Ciesp, foram rejeitados formalmente os pedidos que a turma de Skaf tinha apresentado para tentar anular a eleição de Vaz no Ciesp. Aliados e advogados de Skaf acompanharam a reunião e tentaram impedir que ela deliberasse sobre o assunto.
Apesar das promessas de Skaf de que não faria mais nada para contestar a legitimidade da eleição de seu adversário, aliados de Vaz achavam que ele estava blefando. Eles acreditavam que Skaf tentaria impedir a posse de Vaz com uma medida judicial na última hora e passaram o dia à espera de surpresas desse tipo. Não aconteceu nada, mas a desconfiança entre os dois grupos permanecerá por um bom tempo.
Fonte:
Valor Economico
28/9/2004