Setor têxtil da União Européia teme prejuízo com alta de tarifa no Brasil

09/01/2009

GENEBRA – A Euratex, entidade que representa a indústria têxtil da Europa, informou que vai acionar a Comissão Européia para evitar prejuízos com a alta da tarifa de importação de têxteis anunciada pelo Brasil. William Lakin, secretário-geral da Euratex, disse ao Valor que a indústria européia ” não quer ser vitima de uma medida adotada por causa de outro país ” , numa referência ao avanço da China no mercado brasileiro.

Ocorre que excluir um parceiro da alta tarifária significa discriminar os outros e pode trazer mais problemas para o Mercosul. Lakin, porem, acha que Bruxelas deve buscar soluções com os brasileiros. Exemplificou que, nos anos 90, a Coréia do Sul elevou a tarifa de importação de 9% para 38% e, após pressões de Bruxelas, a taxa declinou para 18%.

A indústria européia é um dos maiores importadores mundiais de têxteis e confecções, totalizando 81 bilhões de euros no ano passado, dos quais 23,8 bilhões de euros originárias da China. Mas a UE é também o segundo maior exportador mundial de têxteis e o terceiro de confecções, com 38,7 bilhões de euros em 2006. Os grandes mercados sao os EUA, Japão e agora a Rússia.

A Euratex ainda avalia o impacto que a alta de tarifa pode ter nas suas vendas para o Mercosul. No ano passado, as exportações para o Brasil subiram 12,1%, alcançando 219 milhões de euros. Em contrapartida, as exportações têxteis brasileiras para a UE caíram 24,7%, totalizando 184 milhões de euros, certamente por causa do cambio.

Os europeus insistem que o problema com alta de importações no Brasil é causado pelos chineses, e não por sua indústria. E não querem perder fatias de mercado, quando o país está em pleno desenvolvimento econômico.

O Brasil e a UE fizeram há alguns anos um acordo bilateral, pelo qual Bruxelas aumentou cotas de têxteis para o país e, em contrapartida, o Brasil eliminou certas barreiras não-tarifárias. A Euratex lamenta que um acordo de livre comércio UE-Mercosul não tenha sido concluído, porque isso daria acesso preferencial aos exportadores nos dois blocos.

Em contrapartida, os produtores europeus pedem à Comissão Européia para não deixa-los expostos aos produtos baratos da China. A preocupação é grande, porque o Brasil, Africa do Sul e EUA fizeram acordos com a China, limitando a entrada dos produtos chineses até o final de 2008.

Já a UE fez o mesmo tipo de acordo, mas que termina em dezembro próximo, um ano antes dos outros. O temor é que a China acabe jogando seu excesso de mercadorias na Europa. Desde que Bruxelas freou a entrada de têxteis chineses, os preços de mercadorias procedentes da China aumentaram 7% no mercado europeu. Até o ano passado, os preços caíam sempre.

Em Genebra, o Escritório Internacional de Têxteis e Vestuários (conhecido pela sigla inglesa ITCB), que reúne 23 países exportadores, incluindo o Brasil, evitou comentar a alta de tarifa no Brasil. O ITCB, que faz o lobby a favor da abertura do mercado mundial de têxteis, constata que outros países em desenvolvimento aumentaram a proteção de seus mercados, caso da África do Sul, Peru e Colômbia.

Fonte:
Assis Moreira
Valor Econômico