Setor têxtil comemora com ressalva acordo Brasil-China
09/01/2009
Juliana Santos
O acordo de autolimitação das exportações chinesas ao Brasil, definido na tarde de ontem, foi comemorado pela indústria têxtil nacional, mas com cautela. Um memorando de entendimento, cuja assinatura está prevista para hoje, entre o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e o ministério do comércio chinês, selará a negociação, definindo cotas para a entrada de alguns produtos têxteis chineses no Brasil.
Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), cuja participação efetiva nas negociações foi destacada pelo próprio Mdic, a proposta não agradou em sua totalidade. Representantes da entidade estiveram na China acompanhando os três dias de negociações encerradas ontem.
“O acordo não foi o ideal, mas o consideramos positivo, uma vez que atendeu a oito categorias de produtos que sofreram fortemente com as importações chinesas no último ano. Outro ponto importante é que o texto também não elimina a possibilidade de uso de salvaguardas, a qualquer momento, para todas as demais categorias não atendidas neste acordo”, declarou em nota oficial o diretor superintendente da Abit, Fernando Pimentel.
Para a entidade, tão importante quanto a formalização do acordo será a sua rápida implantação, para que não ocorra uma lacuna de tempo e uma conseqüente corrida de embarques.
Segundo o Mdic, a celebração do acordo, que terá duração válida até 2008, será confirmada daqui 30 dias, com a assinatura do titular do Mdic, ministro Luiz Fernando Furlan e do ministro do Comércio da China, Bo Xilai. A negociação do memorando de entendimento foi feita entre o secretário-executivo do Mdic, Ivan Ramalho, e pelo vice-ministro de comércio chinês, Gao Hucheng.
Entidade quer mais medidas
O superintendente da Abit cobra do governo brasileiro que, após esse acordo, outras medidas internas para manutenção da competitividade do setor. “É preciso deixar claro que esse acordo é provisório, vai até 2008, e que neste prazo precisamos acelerar as mudanças na política industrial e tributária. Nossas empresas são competitivas, mas é preciso baixar juros, reduzir a carga tributária, investir em infra-estrutura, dentre outros entraves que roubam a nossa competitividade” afirmou Pimentel.
De acordo com o Mdic, os chineses concordaram em restringir as exportações de oito principais categorias de produtos têxteis e de vestuário para o Brasil, o que corresponde cerca de 70 itens. A Abit exemplifica os produtos como tecidos de seda, filamento de poliéster texturizado, tecidos sintéticos, veludo, camisas de malha, suéteres, jaquetas e bordados.
No total, segundo o Mdic, são aproximadamente 70 posições tarifárias que correspondem a 60% dos produtos têxteis enviado da China para o Brasil.
Baseado no conteúdo do documento, o Mdic informou que, de 2006 a 2008, as exportações chinesas ao Brasil deverão se manter num patamar estabelecido, que, no caso de tecidos de seda, por exemplo, não passará de 9% de crescimento, ou 66 toneladas em 2007, e 10% ou 73 toneladas, em 2008. No que diz respeito aos números de 2006, o cálculo será produzido após o início da vigência do acordo.
Para a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), a decisão é mais política do que prática, do ponto de vista comercial, mas ela mostra que o Brasil tem importantes players no setor, ainda que a China não respeite algumas medidas de salvaguardas impostas até para outros setores produtivos.
“O acordo vai gerar um impacto positivo se as cotas forem por categoria, e não genéricas”, destacou o presidente da Abravest, Roberto Chadad.
Na opinião do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado de São Paulo (Sinditêxtil -SP), o acordo é favorável, mas não totalmente satisfatório. “Foi, sem dúvida, uma conquista do setor e do Brasil. Nós não conseguimos cem por cento do que gostaríamos, mas o essencial foi atendido. Além disso, o acordo deixa abertura para usarmos o instrumento de salvaguardas para os demais produtos têxteis que não entraram no texto, se houver necessidade”, avalia o presidente do órgão, Rafael Cervone.
Importação cresceu 43,15%
Os dados da Abit, com base nas estatísticas da Secretária de Comércio Exterior (Secex), apontam um crescimento de 43,15% das exportações chinesas ao Brasil, na comparação de 2004 com 2005. Este crescimento, em valor, superou a soma de todo o crescimento das importações brasileiras originárias de todos os países do mundo. De US$ 251 milhões adquiridos em produtos durante o ano de 2004, as compras do produto chinês em 2005 alcançaram US$ 359 milhões. No total, o Brasil importou US$ 1,5 bilhão em têxteis.
Fonte:
DCI