Sem intervenção do BC, o dólar não pára de cair
09/01/2009
Sem a intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, a cotação do dólar só tem uma direção: para baixo. A moeda americana caiu ontem 0,59%, cotada a R$ 2,5230, menor preço desde 31 de maio de 2002. No mês, o dólar registra queda de 5,43% e, no ano, de 4,94%. O BC fez seu último leilão de compra no dia 16 de março e pagou R$ 2,7490. Desde então o dólar recuou 8,22%.
“Sem ação do BC, o dólar deve cair abaixo de R$ 2,50 e depois vai testar os R$ 2,45”, previu ontem José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, durante evento promovido pelo Valor. Ele nota o forte fluxo de capitais para o país, em razão do bom desempenho das exportações e da entrada de investidores interessados em aproveitar o diferencial entre os juros internos e externos.
Mendonça de Barros afirma que o câmbio valorizado deve impactar as exportações no segundo semestre. Para ele, alguns setores já sofrem com o dólar barato. É o caso de empresas pequenas que começaram a exportar há pouco tempo e de segmentos menos competitivos, como o de calçados. Além disso, o dólar nos níveis atuais começa a inibir novos investimentos ligados à exportação.
O BC também não pode contar mais com o benefício teórico da ajuda antiinflação fornecida pelo câmbio. Enquanto o dólar não pára de cair, as expectativas de inflação não param de subir. A projeção do IPCA para 2005 subiu de 6,1% para 6,15%, segundo o boletim Focus.
As maiores projeções de inflação estão alimentando a alta dos juros na BM&F. O contrato mais negociado, para a virada do ano, subiu de 19,57% para 19,58%. Ao elevar a remuneração nas aplicações internas, o país atrai mais dólares, realimentando o processo de desvalorização. O aumento da taxa Selic para 19,5% foi um estímulo adicional.
O BC, por sua vez, é vítima do próprio veneno: com essa Selic, a formação de reservas cambiais é extremamente cara. O custo é a diferença entre os 19,5% e a taxa dos títulos do Tesouro americano. Em países como a Coréia do Sul esse diferencial é de 1%. No caso brasileiro é de 14,7%.
Valor Economico
26/4/2005
Sergio Lamucci e Luiz Sérgio Guimarães