Selic pode parar, mas juro real segue em alta

09/01/2009

Mesmo que o Copom interrompa o ciclo de elevações da taxa básica, como espera a esmagadora maioria do mercado, os juros reais seguem em rota de alta. Saindo de 13,55% em maio, os juros reais já chegam aos 13,93% -taxa mais elevada do planeta.
Isso acontece porquê a taxa real é calculada levando em consideração as projeções futuras de inflação (que estão em baixa) e os juros básicos atuais (que, na melhor das hipóteses, pararão de subir). Essa é a mais alta taxa real em quase dois anos -em agosto de 2003, estava em 14,77%.
O boletim Focus divulgado ontem pelo BC mostrou que a projeção do mercado para o IPCA para os próximos 12 meses caiu de 5,46% há um mês para 5,11%.
Os juros reais são importante por servirem de parâmetro para o setor empresarial planejar seus investimentos futuros. Se subirem muito, acabam por desestimular novos investimentos. Ou seja, o fim do processo de alta da Selic não significa necessariamente o fim do arrocho sobre a atividade econômica.
O mercado inclusive trabalha hoje com um cenário de menos inflação com menos crescimento econômico. Segundo o Focus, a pesquisa semanal do BC feita junto a instituições financeiras, esse cenário deve fazer com que o Copom (Comitê de Política Monetária) interrompa, amanhã, o processo de alta dos juros iniciado em setembro de 2004.
O levantamento mostra que as projeções para a inflação deste ano recuaram pela quarta semana seguida: a estimativa média para o IPCA passou de 6,32% para 6,21%. Já a estimativa para o crescimento da economia caiu de 3,27% para 3,12%.
Diante desses indicadores, os analistas consultados dizem esperar que os juros básicos da economia sejam mantidos em 19,75% ao ano por mais um mês. Entre hoje e amanhã, o Copom se reúne para decidir se mexe ou não na taxa Selic.
Até mesmo as últimas instituições financeiras que esperavam por uma alta de mais 0,25 ponto na Selic cederam aos últimos números da inflação. O banco UBS, por exemplo, acabou de mudar sua previsão, indo da expectativa de um aumento de 0,25 ponto para a manutenção da taxa.
“Chegou o momento do encerramento do ciclo de altas da Selic. O BC, que tem um viés conservador, precisava ter indícios dentro do IPCA de que a queda dos preços no atacado começava a chegar no varejo. E isso começou a acontecer”, diz Darwin Dib, economista do Unibanco.
O fato de o dólar não ter mudado sua trajetória -ou seja, não ter começado a subir de forma consistente- também conta a favor das análises que prevêem a manutenção dos juros. Ontem o dólar fechou a R$ 2,45. Quando o dólar entra em um período de valorização, ganha força a tendência de as empresas repassarem os custos de insumos importados para os preços finais, pressionando os índices de inflação.
Se confirmado o fim da trajetória de alta da Selic, a discussão do mercado se concentrará em torno de quando será possível os juros caírem. Por enquanto, ninguém acredita que isso possa vir a ocorrer antes do último trimestre.
Será a primeira reunião do Copom desde que o IBGE divulgou os dados sobre a atividade econômica no primeiro trimestre deste ano. Nesse período, o PIB registrou uma expansão de 0,3%.
“O resultado foi fraco por conta da política de juros”, diz o economista Julio Gomes de Almeida, diretor do Iedi. “Os juros não vão impedir o crescimento, mas isso é algo relativo. Um crescimento de 3% ainda é metade da média dos países emergentes.” Do lado da inflação, boa parte dos analistas dizem esperar uma estabilidade maior nos próximos meses.

Folha de S.Paulo
14/06/2005