São Paulo será a primeira cidade com TV digital daqui a 8 meses

09/01/2009

A cidade de São Paulo será a primeira a ter televisão digital no Brasil, no prazo de seis a oito meses. A previsão foi feita hoje (29) pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, após cerimônia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto com as regras de implantação da TV digital no País. Depois de seis meses de negociações intensas, também foi assinado o termo de compromisso, entre os governos do Brasil e do Japão, oficializando a escolha do padrão japonês de TV digital.

Apesar da previsão do ministro, o decreto estabelece prazo de até um ano e meio, após a aprovação dos projetos das emissoras para a digitalização de suas redes, para que elas comecem a transmitir comercialmente em sinal digital. No caso de São Paulo, porém, Costa explicou que já vêm sendo feitos testes do novo sistema, o que facilita a sua implantação. A indústria também prevê prazo semelhante para que os televisores digitais cheguem às prateleiras das lojas. Segundo o presidente da Gradiente, Eugênio Staub, isso deve acontecer dentro de 12 a 15 meses.

O detalhamento das regras estabelecidas no decreto ainda virá, até fim de agosto, por portarias do Ministério das Comunicações, mas o governo já adiantou que quer incentivar a produção de conversores de sinais digitais em analógicos a preços compatíveis com a renda da população. Esse conversor é uma caixinha que permitirá ao telespectador continuar usando o televisor que atualmente tem em casa, que funciona no sistema analógico.

Costa previu que a versão mais simples do conversor pode custar ao consumidor de R$$ 80 a R$$ 100. “Queremos fazer com que essa caixinha chegue a todo brasileiro a preços razoáveis”, afirmou. Ele cogitou a possibilidade de esse aparelho ser financiado em prestações de R$$ 8 a R$$ 10 e de haver até algum tipo de subvenção. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reforçou as afirmações de Costa ao revelar que o governo estuda inclusive reduzir a carga tributária sobre os conversores. “O governo está cogitando tratar essa questão do terminal de acesso, como esse é um bem de interesse da população brasileira, e fazer toda a desoneração fiscal necessária”, afirmou.

O decreto presidencial prevê que a TV digital aberta continuará sendo gratuita e passará a permitir a recepção de sinais em aparelhos portáteis, como em celulares, e em movimento, como em TVs instaladas em ônibus, táxis e barcos, por exemplo. O Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T) permitirá a transmissão tanto em alta definição, com som estéreo e imagem cristalina, como em definição padrão, que tem qualidade ligeiramente menor, mas permite a veiculação simultânea de até quatro programas em um mesmo canal.

O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, disse que a TV Globo vai adotar o sistema de alta definição de imagens. “Nós acreditamos que a televisão aberta, no futuro, será toda em alta definição. A aposta da Rede Globo é que a qualidade da imagem é um atrativo fundamental da televisão, principalmente em um canal aberto”, afirmou, após a cerimônia no Palácio do Planalto.

Costa, que se empenhou pessoalmente para emplacar o padrão japonês, estava entusiasmado em seu discurso. Brincou com o ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, sobre a vitória da seleção brasileira sobre o Japão na Copa do Mundo, falando em japonês. E usou de uma analogia futebolística para dizer que o presidente Lula “marcou um gol de placa”.

Costa e Takenaka assinaram o termo de compromisso que estabelece uma cooperação técnica, eletrônica e de formação de mão-de-obra entre os dois países. Segundo esse documento, até o fim de julho será criado um grupo de trabalho, formado por técnicos dos dois governos para discutir, entre outros temas, o desenvolvimento da indústria eletrônica no País. Segundo Costa, esse intercâmbio e a formação de pessoal são os primeiros passos para a implantação de um fábrica de semicondutores no Brasil, ponto que o governo considera crucial para o desenvolvimento tecnológico do País e,por isso, incluiu nas negociações com os japoneses. “O importante é que começamos o processo que pode ser de longo ou de médio prazo”, afirmou. Fontes do governo chegaram a dizer que a instalação de uma fábrica desse tipo pode levar até cinco anos.

Não há entretanto, garantia de que a fabrica será mesmo construída. Em um documento chamado de Declaração de Intenções, empresas privadas japonesas se dispõem a “cooperar” para a modernização da indústria brasileira e dizem que “envidarão esforços para acelerar o estudo sobre a possibilidade de investimento futuro na área da indústria eletrônica, incluindo a de semicondutores”.

O termo de compromisso assinado entre os governos do Brasil e do Japão também não assegura a implantação da fábrica. “O governo do Japão cooperará com o governo do Brasil na elaboração, por parte do Brasil, de um plano estratégico para o desenvolvimento da indústria de semicondutores, com vistas a investimentos japoneses no Brasil”, diz o documento. Este plano estratégico, segundo o termo de compromisso, incluirá um pacote detalhado de políticas para atrair investimentos, que será estudado no grupo de trabalho.

O ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, por sua vez chamou o Brasil de grande potência da América Latina e disse que a adoção do padrão japonês no País abre espaço para que outros países latino-americanos adotem a tecnologia.

Além do padrão japonês, o Brasil vinha estudando as tecnologias da Europa e dos Estados Unidos. A ministra Dilma disse que os europeus e americanos sempre foram informados de que o governo brasileiro tinha preferência pelo padrão japonês. “Em vários momentos alertamos sobre nossa preferência.” Segundo Dilma, o padrão japonês é o mais “robusto”, com mais capacidade de chegar a todas as televisões do País.

Fonte:
A Tarde online