Saldo comercial da indústria cresce 55%

09/01/2009

Resultado do setor no primeiro semestre é superior à alta de 31% registrada pela balança do país

O saldo comercial da indústria cresceu 55% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. É um crescimento superior aos 31% de alta registrados pela balança comercial total do país.

Entre janeiro e junho, a indústria da transformação registrou superávit de US$ 11,2 bilhões com o exterior, segundo dados organizados pela Secretaria de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O setor industrial respondeu por 57% dos US$ 19,7 bilhões de saldo comercial total do país no período. A indústria exportou 29% a mais no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2004, e aumentou o volume de compras no exterior em 21%.

Em 2002, a indústria alcançou o primeiro superávit depois de 1996, ano em que começa a série do MDIC. Foram anos seguidos de elevados déficits comerciais. Em 1997, o saldo negativo superou US$ 10 bilhões.

Entre 2001 e 2002, a indústria reverteu o déficit de US$ 3,1 bilhões em superávit de US$ 4,8 bilhões. O resultado decorreu mais de uma queda forte (17,9% ) nas importações do que de alta expressiva nas exportações (mais 1,2%).

Desde 2002, o saldo comercial da indústria cresce de forma exponencial com o avanço das exportações. No ano passado, chegou a expressivos US$ 18,2 bilhões, mais da metade de todo o superávit do país. Entre 2002 e 2004, o saldo foi construído com aumento de 57% nas exportações e alta de 28% nas importações. Esse padrão se manteve em 2005.

“É uma mudança da água para o vinho”, afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele atribui os robustos superávits da indústria à mudança no patamar do câmbio após a desvalorização ocorrida em 1999. “As indústrias de grande porte visam agora exportar de 30% a 35% de sua produção”, diz.

Segundo Gomes de Almeida, o crescimento do comércio mundial também contribui para o aumento das exportações industriais desde 2004. Ele afirma que essa conjuntura favorável permite às empresas reajustar preços e seguir exportando, apesar do movimento mais recente de apreciação cambial. Com base em dados do Fundo Monetário Mundial (FMI), o Iedi estima que o comércio mundial cresceu 15% de janeiro a junho.

No longo prazo, a reversão mais surpreendente da balança comercial da indústria é a de materiais de transporte. Em 1999, o setor tinha um saldo positivo de apenas US$ 830 milhões. No ano passado, o superávit bateu em US$ 8,8 bilhões, e neste ano está crescendo 21% sobre 2004, até junho.

Três setores sustentam o superávit do primeiro semestre: metalurgia (US$ 4,7 bilhões), material de transporte (3,9 bilhões) e produtos alimentares (4,3 bilhões). Mas alguns setores têm tido resultados importantes ao longo dos anos. A indústria de madeira e mobiliário saiu de um saldo positivo de US$ 1,5 bilhão, em 1999, para US$ 3,7 bilhões no ano passado, e neste primeiro semestre acumula mais 13% de ganho no superávit.

A análise setorial da balança comercial da indústria mostra que dois setores ainda concentram os piores resultados: químico e material elétrico e de comunicação. No primeiro semestre, ambos registraram déficits comerciais superiores a US$ 2 bilhões, mas menores que em 2004.

Em material elétrico e de comunicação, o déficit caiu 15% na comparação entre os dois primeiros semestres. As exportações foram 73% maiores, enquanto as importações cresceram bem menos: 18%. Humberto Barbato, diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), atribui a redução do déficit às exportações de telefones celulares. Ele afirma que algumas empresas ampliaram a capacidade de produção de celulares e transformaram o Brasil em plataforma de exportação.

No setor químico, as vendas externas aumentaram 28% e as importações, 5%. Os dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) agrupam um conjunto maior de produtos, mas mostram a mesma tendência em valores. Segundo a entidade, as exportações cresceram 31,1% de janeiro a julho ante igual período de 2004, enquanto as importações cresceram 10,2%.

Conforme Guilherme Duque Estrada, vice-presidente executivo da Abiquim, os resultados foram influenciados pelo aumento dos preços mundiais de produtos químicos, especialmente petróleo. A área petroquímica representou 30% das vendas da indústria química em 2004.

Em volume, as estatísticas da Abiquim revelam alta mais modesta das exportações, 10,7%, enquanto as importações caíram 18,5% nos primeiros sete meses do ano. Duque Estrada atribui a queda das importações ao fraco mercado interno, principalmente nas vendas de matéria-prima para fertilizantes agrícolas. No primeiro semestre, o volume vendido pelo setor químico no país caiu 1,1%.

De janeiro a junho, apenas quatro setores pioraram seu resultado comercial com o exterior. Em farmacêutica, couros e peles, matérias plásticas e indústrias diversas, o déficit subiu.

Fonte:
Valor Economico
Denise Neumann e Raquel Landim
29/8/2005