Sadia oferece R$ 3,7 bilhões pela Perdigão
09/01/2009
Se concretizado o negócio, companhia deterá 25% do mercado de brasileiro de frangos e suínos e se tornará a quarta maior exportadora do país
Por Márcio Juliboni
EXAME Em um mercado assediado por grandes concorrentes estrangeiros, a Sadia partiu para o ataque e lançou uma ousada proposta de compra da Perdigão por 3,7 bilhões de reais. O valor refere-se à oferta pública de compra da totalidade das ações da concorrente, dos quais, 49,5% estão nas mãos de seis fundos de pensão, com destaque para a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, com 15,31% do capital. Se concretizada, a união criaria uma potência brasileira do setor de alimentos com 25% do mercado doméstico de frangos e suínos, receita bruta de 5,1 bilhões de dólares (dados proforma de 2005), geração de caixa de 1,551 bilhão de reais, 26 fábricas, 81.000 funcionários e forte penetração no exterior.
Competir com os gigantes do ramo, como as americanas Tyson, cujo faturamento global em 2005 foi de 26 bilhões de dólares, e Smithfield (11,4 bilhões de dólares), é o principal argumento da Sadia para convencer os acionistas da Perdigão e as autoridades reguladoras do mercado a aprovar a proposta. “Esse é um setor estratégico e o Brasil precisa ter uma empresa que o represente mundialmente”, afirmou Walter Fontana Filho, presidente do Conselho de Administração da Sadia, em encontro com jornalistas nesta segunda-feira (17/7). “Apesar da fusão, continuaríamos sendo apenas 10% da Cargill, a maior empresa de agronegócios do mundo”, diz Fontana Filho.
Concentração
Embora pequena para os padrões internacionais, a fusão geraria forte impacto em vários segmentos do mercado interno. A nova empresa, resultante da união, responderia por 64,5% do mercado de presuntos; 91% do segmento de pratos prontos; 92,4% do mercado de tortas salgadas; e 65% do de pizzas, entre outros. A direção da Sadia reconhece que alguns mercados serão concentrados. Para facilitar a aprovação do negócio pelos órgãos de fiscalização do mercado, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Sadia ressalta que está disposta a acatar as determinações das autoridades para viabilizar a compra.
Nas entrelinhas, porém, o comando da empresa dá sinais de que debaterá bastante as inevitáveis restrições determinadas pelo Cade. “Sabemos que o Cade tem a inteligência suficiente para considerar os vários aspectos envolvidos na operação”, afirma Luiz Murat, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Sadia. O principal argumento para se defender é que os mercados em que atua, como o de pizzas e massas prontas, sofrem a concorrência de diversas empresas que escapam das análises de consultorias e órgãos públicos. “Sabemos que, no segmento de pizzas, as rotisseries e pizzarias de esquina atendem à maior demanda e não são auditadas”, diz Murat. Assim, fica subentendido que a Sadia e a Perdigão deteriam 65% do mercado formal de pizzas, mas isso não lesaria o mercado, pois os consumidores poderiam recorrer a outras fontes.
Outro indício de que a Sadia está disposta a ficar com o máximo que puder é o que pretende fazer com as marcas – mantê-las. “Não temos intenção de abrir mão de nenhuma marca, seja Sadia, Perdigão ou Batavo”, diz Fontana Filho.
Mercado externo
Com uma posição proeminente no mercado interno, Fontana Filho acredita que o maior potencial de expansão das duas companhias esteja no exterior. Para o presidente do conselho de administração, os preços de aves e suínos, dois de seus principais mercados, não mostram espaço de melhoria no Brasil. “Onde haveria possibilidade de alguma melhora é no exterior”, diz.
A nova empresa nasceria com 18 escritórios no exterior (11 da Sadia e sete da Perdigão), e 51% do faturamento oriundo de exportações. Na carteira de clientes, a Europa seria o principal destino, com 26% das vendas, seguida por Oriente Médio (23%), Eurásia (21%) e Ásia (20%). “A grande diversidade do mercado externo reduziria o risco de crises e abriria muitas oportunidades de crescimento”, diz Fontana Filho.
Preço justo
Reagindo a declarações de analistas de mercado e da própria direção da Perdigão, que considerou o preço oferecido pela empresa muito baixo, a Sadia sustentou que o valor é justo. Fontana Filho observou que o preço por papel – 27,88 reais – foi determinado com base nos próprios critérios do estatuto da Perdigão. O preço foi o maior de três métodos de cálculo – o da média das cotações nos últimos 30 dias, acrescido de um prêmio de 35%. No total, a empresa está disposta a pagar 3,7 bilhões de reais por todos os papéis da Perdigão.
A quantia será paga por recursos próprios – cerca de 800 milhões de reais, dos 2 bilhões que a Sadia mantém em caixa – e por um empréstimo-ponte do ABN Amro Real, que completaria o montante. O empréstimo teria prazo de dois anos, suficiente para que o desembolso fosse reestruturado em condições mais vantajosas, como trocar o empréstimo por uma emissão de debêntures conversíveis ou antecipação de créditos de exportação.
Para que a oferta seja concretizada, a Sadia impôs várias condições. A principal é contar com a adesão de investidores que representem 50% mais um das ações, até o dia 24 de outubro. Caso contrário, a proposta seria retirada.
Fontana ressaltou, ainda, que outros parâmetros de análise mostram que as condições oferecidas são justas. “Todos os indicadores estão acima dos de operações semelhantes no exterior”, disse. Por fim, observou que, embora a Sadia tenha faturado 41% mais no ano passado, o valor total oferecido pela Perdigão é apenas 5% inferior ao da própria Sadia – que fechou a sexta-feira (14/7), cotada em 3,9 bilhões de reais pelo valor de mercado.
Fonte:
Exame