Rio vive violência e problemas de caixa a um mês das Olimpíadas
05/07/2016
– O calendário anuncia que nesta terça-feira falta exatamente um mês para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas a emoção de ter esta festa esportiva pela primeira vez na América do Sul foi ofuscada por problemas como a insegurança e a crise econômica.
Faltam apenas alguns detalhes nas instalações esportivas, que receberão 10.000 atletas que competirão na "Cidade Maravilhosa" durante duas semanas (5-21 de agosto), com o velocista Usain Bolt e o nadador Michael Phelps roubando a atenção das câmeras, e com modalidades como o rugby de 7 ou o golfe, que retornam à disputa olímpica após um século de ausência.
E tudo diante dos 500.000 turistas que devem viajar ao Rio para se misturar aos cariocas na maior festa esportiva do planeta.
"A cidade está 100% pronta, é uma cidade incrível. Estou muito orgulhoso de nossa cidade", declarou o prefeito, Eduardo Paes, na segunda-feira durante a apresentação de uma nova linha de ônibus articulados por corredores exclusivos, os chamados BRT.
Para marcar o início do último mês antes dos Jogos, Paes concederá uma coletiva de imprensa nesta terça-feira junto ao presidente do Comitê organizador, Carlos Nuzman.
Mas por trás da emoção provocada pela competição olímpica, há problemas que o Rio não pode ignorar e que terminaram se convertendo em uma pesada sombra.
– Pesadelo da segurança – As autoridades mobilizarão 85.000 policiais e soldados nas ruas do Rio durante os Jogos, mais que o dobro dos efetivos presentes em Londres-2012.
O terrorismo é uma preocupação que segue crescendo depois dos recentes atentados do grupo Estado Islâmico em Istambul e Bagdá.
No entanto, a distância do Brasil com o centro nevrálgico dos terroristas, somado a uma história pouco bélica, pode jogar a favor das forças de ordem.
Mas o Rio já enfrenta sérios problemas de criminalidade que levantam dúvidas sobre a segurança durante os Jogos.
A taxa de homicídios, muito abaixo dos níveis de uma década atrás, cresceram, enquanto nas ruas os crimes proliferam, como o roubo registrado na quinta-feira, quando um grupo de homens armados assaltou o caminhão da rede de televisão pública alemã, levando equipamentos avaliados em 445.000 dólares.
Enquanto isso, a polícia – fortemente criticada por grupos de direitos humanos, acusada de atos brutais nas favelas – agora é alvo das balas: mais de 50 policiais foram assassinados durante o ano.
Cem policiais civis, que exercem funções judiciais, protestaram na segunda-feira na área de desembarque do aeroporto internacional do Rio com cartazes com a frase "Bem-vindos ao inferno" para exigir o pagamento de salários atrasados e horas extras.
"Estamos aqui para mostrar aos cidadãos e aos turistas de fora as realidades do Brasil", afirmou o agente Alexander Neto, de 56 anos. "Eles foram enganados e nós também. Têm que entender que não há segurança pública", lançou.
Perto da falência e afogado pela recessão, o estado do Rio disse que estes pagamentos aos funcionários dos serviços de emergência, hospitais e outros funcionários públicos serão realizados nos próximos dias graças ao auxílio milionário aprovado pela administração federal.
"O (governo do) estado está realizando um trabalho terrível, horrível", afirmou Paes à rede CNN.
– Contra-ataque – O prefeito e os organizadores dos Jogos vêm combatendo a enxurrada de publicidade negativa, como o protesto de policiais ou a descoberta de uma parte não identificada de um corpo humano perto da quadra de vôlei de praia.
Apesar da postura de vários atletas, principalmente populares golfistas, que decidiram não competir nos Jogos por medo do zika vírus, as autoridades insistiram que não há riscos para a saúde.
O zika pode produzir malformações nos fetos de mulheres infectadas durante a gravidez, embora na maioria dos casos se manifeste como uma versão leve da dengue.
A isso se soma o fato de agosto ser um mês de pouca proliferação do mosquito transmissor devido à diminuição das temperaturas com o inverno.
Paes, no entanto, esconde com dificuldade sua frustração diante da publicidade negativa, como a feita no fim de semana pelo jornal The New York Times, ao prever uma catástrofe nos Jogos.
"Não podemos permitir que estas agressões permanentes continuem", disse na segunda-feira.
Mas o mais provável é que este desejo não se cumpra.
Entre os eventos convocados pela contagem regressiva de um mês para o evento esportivo se encontra, por exemplo, um protesto de movimentos de esquerda contra os "Jogos da exclusão".
Fonte: Agência AFP
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