Retrospectiva 2007: economia não decepciona e ano tem saldo positivo
09/01/2009
A economia brasileira fecha 2007 com saldo muito positivo. Foi o ano em que o Brasil conseguiu, finalmente, acompanhar mais de perto o desempenho favorável da economia mundial. E, na medida em que a expansão mais acelerada foi assegurada, principalmente, pelas condições da economia local, o atual quadro de incertezas no exterior oferece ameaça menor.
Houve uma melhora importante de vários indicadores. Até outubro, o governo já cumpriu com folga a meta de superávit fiscal estabelecida pelo ano. Mesmo com todas as críticas que possam ser feitas à composição das contas, como o excesso de arrecadação, a expansão forte de gastos e o baixo nível de investimentos, o superávit contribui para projeções mais favoráveis para a economia: aumenta a credibilidade.
Em relação às contas externas, a situação é da melhores. O Brasil vai encerrar 2007 com uma série de recordes: de reservas cambiais e de investimentos diretos estrangeiros – ao redor de US$ 35 bilhões. Um superávit robusto da balança comercial já está garantindo, e o País deve contar ainda com recordes para as aplicações externas em bolsa.
A inflação deu sustos. Ficou bem acima do esperado. No começo de ano, previa-se algo inferior a 3%; entretanto, o IPCA do ano deve ficar mais próximo de 4%. Os alimentos tiveram trajetória totalmente fora do que era previsto: o aumentos foram além dos efeitos sazonais. Apesar dos problemas, a meta será cumprida. O IPCA vai ficar abaixo do ponto central da meta, que é de 4,5%.
Ainda que as pressões inflacionárias tenham contribuído para a interrupção dos cortes da taxa básica de juros, a Selic teve recuo importante ao longo de todo o ano, permitindo que os juros, em geral, atingissem o menor patamar desde 1994, quando começaram a ser acompanhados pelo Banco Central. As taxas no País ainda são elevadas, mas, combinadas com um forte alongamento dos prazos, fizeram com que o crédito se tornasse mais acessível para uma fatia maior da população. Por conta disso, o comércio registrou avanços da ordem de 9%, em média, na comparação com 2006.
Além do comércio, a indústria apresenta os melhores resultados em vários anos, assim como a agropecuária e o setor de serviços. Isso dá suporte a uma expansão do PIB próxima de 5%, com perspectiva de um desempenho muito favorável também em 2008, quando poderá apresentar crescimento em torno de 4,5%.
A dúvida que fica é a do impacto da crise do setor imobiliário em seus diversos aspectos: sobre a economia americana, a economia mundial, o comércio internacional, o sistema bancário, o sistema de crédito e o fluxo de investimentos. O Brasil pode passar praticamente ileso, levando-se em conta a possibilidade de reflexos não muito pesados .
A expansão do crédito, que já representa 34% do PIB, mais a recuperação do emprego e da renda, tendem a assegurar um bom nível de consumo, que pode preservar a aceleração de toda a atividade econômica, aceleração sustentada também pela ampliação dos investimentos produtivos. Outros setores de destaque não podem ser esquecidos, focos pontuais de crescimento mais acentuado, como o setor imobiliário, estimulado pela concessão cada vez mais facilitada do crédito imobiliário, e o setor sucroalcooleiro, com perspectivas cada vez melhores diante do uso crescente do etanol, no Brasil e no exterior.
O mercado financeiro está mais atrelado aos problemas do mercado internacional e ainda pode apresentar grande volatilidade nos primeiros meses de 2008. Mas o saldo de 2007 é extremamente positivo. O Brasil atraiu muito dinheiro de fora. A bolsa conseguiu manter a trajetória de alta que já dura cinco anos. O dólar testou pisos históricos, o que facilitou bastante o controle da inflação. O Brasil virou a bolsa da vez, especialmente pela possibilidade de atingir, em 2008, o investment grade, o nota de recomendação de investimento pelas agências de classificação de risco, o que só aumenta a atratividade do capital externo.
Embora o balanço de 2007 seja muito positivo, o Brasil ainda terá de carregar para 2008 e até para os próximos anos algumas distorções e problemas que podem comprometer a manutenção da aceleração econômica. O custo Brasil continua limitando muito os investimentos e a própria expansão da economia, por meio da carga tributária crescente, dos juros ainda muito altos, das ineficiência da infra-estrutura, da burocracia e até da corrupção. São pontos que terão de ser trabalhados, com reformas como a tributária e a da Previdência, caso o País queira assegurar um crescimento acelerado de longo prazo. Ainda corremos o risco de um apagão de energia ou logístico na área de transportes, caso não haja uma aceleração efetiva dos projetos.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deixou uma marca negativa em 2007. Reuniu os projetos que podem definir um cenário melhor para a economia brasileira, mas a demora e ineficiência na implementação da maior parte dos projetos só gera mais dúvidas quando à capacidade de o Brasil reverter adversidades a ponto de evitar problemas mais sérios no futuro.
Independentemente das ressalvas mais negativas, 2007 foi um ano muito positivo para a economia brasileira nos diversos aspectos. Deixará um balanço como não se via há vários anos. Ainda pequeno para o potencial do País, mas não decepcionante como em anos anteriores.
Fonte:
Terra
Denise Campos de Toledo