Real é a moeda que mais se fortalece

09/01/2009

SÃO PAULO – O real é a moeda que mais se fortalece no mundo neste ano. A expectativa de analistas é de que, sem uma atuação mais decisiva do Banco Central brasileiro, o câmbio continue a ganhar valor, pelo menos no curto prazo.

A moeda brasileira vem se fortalecendo em 2005 não apenas contra o dólar, iene e euro. É a moeda que mais ganhou valor real na comparação com o câmbio de outros importantes países emergentes.

O valor nominal do dólar caiu 18,46% contra o real neste ano. O euro teve desvalorização de 30,05% contra o real e o iene, de 29,29%.

Levantamento da economista-chefe da Mellon Global Investment, Solange Srour, mostra que o real foi a moeda que mais ganhou valor descontada a inflação na comparação com o peso mexicano, o rublo russo, o dólar australiano, a lira turca e o rande sul-africano.

Ela apurou a cotação das moedas de cada país em relação a uma cesta de moedas dos seus principais parceiros comerciais. As moedas dos países foram deflacionadas pelo índice de inflação ao consumidor e a dos parceiros comerciais, pelo índice de inflação ao produtor.

A economista usou o dia 1° de janeiro de 2004 como base 100 para seus cálculos. Pelos seus números, a cesta de moedas perdeu 30% de seu valor na comparação com o real, mas apenas 5,79% na comparação com o rande, 8,53% em relação à lira turca, 1,25% na comparação com o dólar australiano, 11,34% contra o rublo russo e 4,32% em relação ao peso mexicano.

Solange Srour lembra que o Brasil, entre todos os países emergentes analisados por ela, é um dos únicos que tem superávit de conta corrente.

O México, que tem déficit comercial, tem saldo negativo em transações correntes de 1,4% do Produto Interno Bruto, a Austrália, de 7%, e a Turquia, de 6%.

Ela não nega que os juros reais altos, em torno de 14% ao ano, contribuem de forma importante para a valorização da moeda brasileira.

É esse juro que tem atraído o investidor externo ao mercado de câmbio brasileiro, montando posições vendidas na Bolsa de Mercadorias & Futuros de US$ 8,4 bilhões no dia 10, um aumento de US$ 1,66 bilhão somente neste mês.

Mas o saldo positivo comercial forte e captações externas de empresas, que estão adiantando o financiamento que seria realizado em 2006, também têm contribuído de forma determinante para a valorização cambial, argumenta ela.

Para a economista-chefe da Mellon Global Investment, mesmo que os juros básicos nominais caiam dos 19% ao ano para 16%, ainda assim a valorização do real não seria contida. “Não vejo nenhum evento no curto prazo capaz de alterar o quadro de liquidez internacional de forma a reverter essa tendência”, diz.

Nesta semana, no entanto, os investidores devem ficar atentos à divulgação do índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos. Esse índice vai mostrar se o Fed, banco central americano, vai manter o ritmo de alta de 0,25 ponto percentual no juro básico americano por reunião, hoje em 4% ao ano.

O movimento do Banco Central brasileiro também precisa ser observado. Depois de compras estimadas em US$ 2 bilhões nos oito dias úteis deste mês no mercado à vista, que não impediram a desvalorização de 3,95% no dólar em novembro, para R$ 2,1640, seu menor valor desde abril de 2001, a autoridade monetária agora ameaça voltar com o swap reverso, a compra de dólares no mercado futuro. Pelas novas regras, o BC pode anunciar hoje leilão para quarta-feira.

Os juros futuros, que começaram o mês em forte queda, também devem manter a tendência, por causa dos números fracos sobre o desempenho da economia.

Após a queda de 2% na produção industrial de setembro, os economistas já começam a rever seus números para outubro diante dos primeiros sinais disponíveis. Solange Srour acredita em crescimento nulo ou queda de até 0,4% na produção da indústria no mês passado.

Fonte:
Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico
14/11/2005