Protestos de caminhoneiros bloqueiam rodovias em 13 estados
25/02/2015
Os protestos de caminhoneiros se espalharam pelo país. Nesta terça-feira (24), 13 estados tiveram bloqueios em rodovias.
Em Santos, o acesso ao porto ficou bloqueado durante nove horas. A polícia até usou bombas de efeito moral e balas de borracha para liberar o acesso.
Na manhã desta quarta-feira (25), por enquanto, não há protestos nem congestionamentos. O acesso ao porto de Santos está tranquilo, mas nesta terça-feira (24) por quase nove horas a entrada e a saída de Santos ficou bloqueada pelos manifestantes.
O pelotão de choque agiu com bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os manifestantes e evitar vandalismo e assaltos. Mesmo assim um grupo de homens encapuzados colocou fogo em um caminhão. Vários outros caminhões também foram danificados.
Os caminhoneiros espalharam açúcar e entulho para manter a estrada fechada. Sete pessoas foram detidas porque jogaram pedras e outros objetos contra a PM durante toda a madrugada, a polícia reforçou a segurança nos acessos ao porto.
Em Minas Gerais, os caminhoneiros começaram a receber a notificação da Justiça para liberar as rodovias.
A Polícia Rodoviária Federal recebeu a notificação com a decisão da Justiça por volta das 6h da manhã, e já foi direto para a BR-040 que liga Minas ao Rio de Janeiro. Os caminhoneiros já começaram a liberar a faixa que estava bloqueada ao lonfo de 12 quilômetros no entorno de Nova Lima, que fica na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em seguida, os policiais foram à BR-381, que liga Minas a São Paulo. Em Igarapé, os motoristas já começam a liberar a via. O trecho teve o maior bloqueio do estado com 20 quilômetros.
Rodovias começam a ser liberadas por determinação da Justiça
Durante a terça-feira (24), os manifestantes chegaram a bloquear rodovias em 13 estados. Algumas começaram a ser liberadas, por determinação da justiça.
O protesto dos caminhoneiros chegou nesta terça-feira (24) a todas as regiões do país. Pela primeira vez, houve bloqueios em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Ceará e Pará. Ao todo, 13 estados tiveram rodovias interditadas durante a terça-feira.
Em Fortaleza, centenas de caminhões interromperam a BR-116 nos dois sentidos. Foi permitida apenas a passagem de alguns carros e ambulâncias.
Já em Feira de Santana, na Bahia, os caminhoneiros usaram pneus em chamas para interditar a pista. Na Região Metropolitana de Belém, foram três quilômetros de congestionamento na PA-483. No fim da tarde, a rodovia foi liberada.
No Rio Grande do Sul, caminhões no meio da pista e pneus impediram a passagem de veículos na RS-287. O congestionamento chegou a cinco quilômetros.
“Acho que os caminhoneiros estão certos, nós não temos nada que ver. Nós temos nosso serviço”, diz comerciante Cicero Domingues.
A rodovia é a principal ligação entre a capital e a região central do estado. Veículos de passeio e ônibus também foram bloqueados. A passagem só era liberada a cada meia hora.
O protesto foi organizado por caminhoneiros autônomos. O caminhoneiro Marcos Ribeiro reclama que nos últimos 5 anos, o valor do frete foi reajustado abaixo da inflação. Já o preço do óleo diesel dobrou. “Nossa margem ficou pequena e não está sobrando praticamente nada para o dono do caminhão”, conta.
Na região central do Rio Grande do Sul, na BR-392, em São Sepé, os manifestantes distribuíram panfletos para os motoristas. Quem quis furar o bloqueio, teve dificuldade.
No Centro-Oeste, onde o protesto já dura uma semana, a BR-153, em Goiás, foi bloqueada em dois trechos, causando um congestionamento de seis quilômetros. Também houve bloqueios em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Na região Sudeste, diversos trechos de estradas mineiras foram fechados. No Rio de Janeiro, a BR-040 chegou a ser interditada durante a tarde. Também houve interrupções no porto de Itapoá, em Santa Catarina.
Nesta terça-feira (24), aconteceram as primeiras desocupações de estradas gaúchas. Com a decisão da Justiça Federal em mãos, os policiais rodoviários notificaram os caminhoneiros e informaram que a multa para quem descumprir é de R$ 5 mil por hora.
Começa a faltar comida em supermercados
A cada dia de protesto, aumentam os problemas causados pelo bloqueio de cargas nas estradas. Milhares de litros de leite estão sendo jogados fora e, nos supermercados, já começam a faltar carnes, frutas e legumes.
Com os bloqueios nas estradas, os produtos não chegam ao destino. Em Santa Catarina, as filas nos postos de combustíveis estão cada vez maiores. Em São Miguel do Oeste, os motoristas já não conseguem abastecer.
“Acordei cedo para poder viajar sem combustível e andei, mais ou menos, uns oito postos meia hora, 40 minutos e agora no ultimo acabou a gasolina”, conta o músico Pablo Santana.
Em Chapecó, no oeste, 80% dos postos de combustíveis não têm mais gasolina e álcool. Segundo o Sindipostos, apenas uma pequena reserva está sendo mantida para abastecer os veículos oficiais da Polícia Civil e Militar.
No Paraná, motoristas fizeram filas para abastecer em várias cidades do interior. Em Arapongas, norte do estado, a gasolina comum está custando R$ 4,49. Em Francisco Beltrão, no sudoeste não há mais gasolina nas bombas.
Prejuízos também na área rural. No oeste de Santa Catarina, os animais correm o risco de não ter o que comer. A coleta de leite permanece suspensa em todo o estado. Sem meio de transporte, o produto está sendo jogado fora. “Vai ter que jogar leite fora e tirar o novo de novo”, diz a trabalhadora rural Margareth Meler.
O mesmo problema também atinge os produtores paranaenses. “Até que não parar a greve nós vamos ter que jogar fora o leite, nós não temos como industrializar o leite”, afirma o produtor de leite Ilair Marca.
No Rio Grande do Sul, os 1,7 mil funcionários do maior frigorífico de suínos do estado foram dispensados do trabalho. Foi mais um dia em que não houve abate. Sem alimento, os porcos já começaram a morrer.
Nos supermercados da região Sul, a preocupação é com o desabastecimento de produtos como carnes, frutas, verduras e leite. “Os estoques existentes dentro do supermercado estão baixando e a continuidade desse movimento nós não temos como segurar a disposição desses produtos para os nossos clientes”, afirma Atanázio dos Santos Netto, da Associação de Supermercados de Santa Catarina.
Os bloqueios também começaram a afetar a Ceagesp, a maior central de abastecimento do país. A partir desta semana, produtos como banana, mamão e morango devem faltar nas feiras e mercados.
São 81 bloqueios em 38 rodovias federais
Nesta terça-feira (24), os protestos atingiram 13 estados. Nesta quarta-feira (25), os caminhoneiros bloqueiam rodovias de 10 estados: Ceará, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em todo o sul do Brasil. São 81 bloqueios em 38 rodovias federais.
Nesta terça-feira (24), Santa Catarina era o estado mais atingido, nesta quarta-feira (25) é o Paraná que tem mais interdições: 20 nas rodovias federais e 24 nas estaduais.
E além de todos esses bloqueios, a Polícia Rodoviária Federal acaba de confirmar mais três protestos com bloqueios de estradas em Mato Grosso.
Governo vai ter reunião com caminhoneiros
O governo vai fazer uma rodada de negociações com os caminhoneiros nesta quarta-feira (25) em Brasília. Mas já mandou um recado aos líderes do movimento: não vai reduzir o preço do diesel. Na mesa de negociações está o aumento do preço do frete para compensar.
Mas o que contribui com o aumento no preço do frete é exatamente a alta de preço do diesel. Isso representa 40% do custo final. E em discussão está ainda a renegociação de dívidas contraídas pelos caminhoneiros. A Advocacia-Geral da União entrou com ações na Justiça de oito estados pedindo a liberação das pistas e punição para os responsáveis pelo movimento.
Em Minas Gerais, a Advocacia-Geral da União identificou líderes da manifestação. Fazem parte do movimento União Brasil Caminhoneiro, o mesmo que liderou a última grande paralisação no país em julho de 2012.
No total, a AGU entrou com ação na Justiça em oito estados pedindo o desbloqueio das vias e aplicação de multa em caso de desrespeito, inclusive para todos os caminhoneiros, onde lideranças não foram identificadas. À noite, a BR-040, saída para Brasília foi liberada.
“Direito a manifestação é previsto na Constituição. O que não pode ocorrer é um abuso desse direito, um uso excessivo desse direito, porque acaba gerando consequência para todo o resto da sociedade que necessita fazer o uso da via pública”, diz o procurador-geral da União Paulo Kuhn.
O governo decidiu receber representantes de entidades de caminhoneiros e empresários do setor nesta quarta-feira (25) em Brasília. Lideranças de autônomos e empregados tem uma lista de pedidos. Os que trabalham por conta própria querem a renegociação das dívidas dos financiamentos feitos para compra de caminhões.
Também querem uma política para redução do preço do diesel e melhoria do preço do frete. Vão sugerir uma tabela mínima de valores.
“Não é que o frete está ruim hoje por causa do óleo diesel. É que o frete, há mais de 5 anos, vem vindo cada dia. Aumenta o óleo diesel, aumenta tudo e o frete continua o mesmo”, reclama José Araújo Silva, da União Nacional dos Caminhoneiros.
O outro pedido é a sanção, sem vetos, da lei que assegura mais direitos para os empregados e garantias para os autônomos. Como a redução do valor do pedágio, quando o caminhão estiver descarregado.
O secretário-geral da presidência, Miguel Rossetto, deu o tom de como será a negociação. “Não está na pauta do governo a redução do preço do diesel nesse momento. Nós estamos confiantes de que com a agenda que estamos propondo que envolve refinanciamento do Pró-caminhoneiro, que envolve sanção e implementação da lei dos caminhoneiros aprovados recentemente pelo Congresso”, afirma
A Advocacia-Geral da União conseguiu liminar em cinco estados para liberar as pistas.
Fonte:
Bom dia Brasil