Produto importado ganha espaço no varejo

09/01/2009

A substituição de produtos importados por nacionais está se aprofundando nos bens de consumo e suprindo parte da demanda mais robusta do varejo. O movimento é provocado pela valorização do real, que se aproxima dos R$ 2,0. “Esse processo, que começou em 2005, está se acelerando e agora é absolutamente claro”, diz Cláudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

A produção nacional de bens de consumo duráveis cresceu 4,9% no acumulado de 12 meses até janeiro de 2007 ante igual período de 2006. No mesmo período, as vendas desses produtos no varejo avançaram quase três vezes mais: 12,8%. Já a quantidade importada desses itens cresceu 69,7% em igual comparação. Os bens de consumo duráveis incluem móveis, eletrodomésticos, material de escritório, veículos, autopeças, entre outros.

Os dados de produção e de comércio são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quantum importado foi calculado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A elaboração dos dados foi feita pela equipe de economistas da consultoria Rosenberg & Associados.

Graças ao crescimento sustentado da renda do país e do maior volume de crédito estimulado pelo governo, as vendas de bens duráveis no varejo acumularam alta de 70% entre 2000 e 2006. A produção nacional acompanhava a evolução das vendas internas até meados de 2004. A partir daí, a curva começou a descolar. Em 2004, a produção de bens duráveis cresceu 22%, mas o comércio avançou 26%, e as importações tiveram aceleração de 28%.

Em 2005 e 2006, o processo se aprofundou, impulsionado pela recuperação da atividade econômica e pela valorização cambial. A renda da população e sua capacidade de endividamento aumentaram em um período em que o real valorizado reduziu o custo dos produtos importados.

“Estamos sofrendo uma forte perda de competitividade pelo câmbio”, afirma Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Ele explica que a situação é crítica nos eletroportáteis, como ventiladores, batedeiras ou ferros elétricos. Nesses casos, muitas empresas preferem importar o produto acabado.

“A importação está tomando um pedaço do mercado junto ao varejo”, diz Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Conforme a entidade, a produção de brinquedos caiu 2% no primeiro trimestre deste ano, enquanto as vendas no varejo aumentaram 1,5% e as importações subiram 18%. Batista diz que esse é um período lento para a indústria, que só inicia os lançamentos de novos produtos em abril, mas diz que o ritmo das importações está muito forte.

De acordo com o levantamento da Rosenberg, os setores de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis são os mais afetados pela substituição de produtos nacionais por importados. A disparidade é ainda mais forte e está se acentuando desde 2004. No acumulado de 12 meses até janeiro de 2007 em relação a igual período de 2006, a produção de bens não-duráveis avançou 2,8%. Já o comércio deu um salto de 20,5% no período. A quantidade importada de bens semi e não-duráveis subiu 13,4% no acumulado de 12 meses até janeiro de 2007. Esse segmento inclui produtos como vestuário, calçados, cosméticos, alimentos, entre outros.

Entre os bens de consumo duráveis, o levantamento da Rosenberg isolou apenas os automóveis – um dos produtos mais importantes da pauta de exportação brasileira. As vendas de veículos não registraram expansão muito diferente da produção doméstica. Apenas em 2006, o crescimento do comércio de automóveis, que chegou a 7,2%, superou a produção, que cresceu apenas 1,3%. As importações, em contrapartida, crescem consistentemente e tiveram uma elevação de 71% em 2006.

Os economistas da Rosenberg & Associados explicam que o setor automobilístico não é muito afetado, porque os carros importados representam um parcela muito pequena do licenciamento de veículos no país, apenas 8,7%. Além disso, os modelos populares representam a maior parcela de carros fabricados e vendidos no país, enquanto as importações se concentram em veículos de luxo.

No setor de bens de capital, a substituição de importados por nacionais também está acontecendo, mas afeta um número mais restrito de produtos. Segundo Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), os setores mais afetados são aqueles que concorrem com as máquinas chinesas, que, apesar da tecnologia menos avançada, conseguem preços imbatíveis. “Mas a variedade de máquinas chinesas ainda é pequena. Por isso, esse problema acontece pouco em nosso setor”, explica o executivo.

Fonte:
Valor Economico