Produtividade da indústria cresce até 18%
09/01/2009
A produtividade na indústria de transformação teve um salto expressivo no primeiro semestre. Segundo estudo da consultoria Rosenberg & Associados, de janeiro a junho a produtividade aumentou, 7,6% em relação ao mesmo período de 2003, comparando-se a produção física com as horas pagas na indústria.
Para o economista Dirceu Bezerra Jr., sócio-diretor da Rosenberg, a principal explicação para essa melhora foram os ganhos de escala obtidos a partir da ocupação da capacidade ociosa, como ocorreu no setor de veículos automotores. A retomada do investimento teve impacto mais modesto nesse processo, concentrando-se nos segmentos ligados à exportação, afirma ele.
Nesse cenário, a expectativa é que esses ganhos de produtividade amenizem parte das pressões de custos que podem surgir de aumentos salariais acima da inflação.
Bezerra ressalta que a ocupação da capacidade ociosa teve o papel mais importante na melhora da eficiência registrada no primeiro semestre. O exemplo mais eloqüente é o que ocorreu no setor de veículos automotores – que inclui carros, caminhões e outros veículos. A relação entre a produção e as horas pagas aumentou 18,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
A indústria automobilística tem capacidade para produzir 3,2 milhões de unidades por ano, mas fabricou apenas 1,8 milhão em 2003, número que deve atingir 2,1 milhões em 2004. Com o aumento de escala, o custo relativo de produção de cada unidade diminui. Para Bezerra, o papel do investimento no aumento da produtividade foi mais importante em setores ligados à exportação, como papel e celulose, mineração e agronegócio. A produtividade no setor de papel e gráfica, por exemplo, cresceu 9,2% no primeiro semestre.
Daqui para a frente, ele espera ganhos maiores na relação entre produção e horas pagas nos setores que dependem mais da renda, como os de bens semi e não duráveis, como alimentos. O aumento do número de pessoas ocupadas, do rendimento real e da massa salarial devem impulsionar esses segmentos. De janeiro a junho, a produtividade na indústria de alimentos e bebidas avançou apenas 2,3%. São setores, lembra ele, que ainda têm capacidade ociosa elevada.
O coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, acredita que a produtividade vai avançar a um ritmo mais lento no segundo semestre. Ele lembra que a base de comparação – julho a dezembro do ano passado – é mais forte. Além disso, os aumentos salariais tendem a melhorar nos próximos meses. Sales traça um quadro relativamente otimista quanto à retomada do investimento, um fator fundamental para que haja ganhos consistentes de eficiência na economia. Ele lembra que, de janeiro a julho, o crescimento da produção de bens de capital disseminou-se entre os diversos subsetores, não se limitando ao de máquinas agrícolas, que avançou 16,5%.
No período, a produção de máquinas e equipamentos para fins industriais cresceu 15% em relação aos sete primeiros meses de 2003; para construção, 32,3%; para transporte, 26,6%. Além disso, o consumo aparente de máquinas e equipamentos – que soma a produção e a importações, excluindo as exportações – registrou expansão de 13,2% entre janeiro e julho, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O professor Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Unicamp, vê com ceticismo o processo de aumento de produtividade ora em curso na economia, justamente porque não vê uma retomada consistente do investimento. Para ele, a recuperação da atividade econômica corre riscos se houver um aumento dos juros, o que pode afetar especialmente os setores de bens duráveis, que dependem de crédito, como automóveis e eletroeletrônicos.
Para Bezerra, os expressivos ganhos de produtividade obtidos no primeiro semestre devem amenizar as pressões de custos que virão dos prováveis aumentos salariais acima da inflação. Ele afirma, porém, que a demanda vai ganhar importância na questão da trajetória da inflação daqui para a frente, num cenário em que aumenta o nível de ocupação e o rendimento real cresce. Como há muitas empresas com margens de lucro deprimidas, é possível que haja uma tentativa de recompô-las, principalmente porque a demanda tende a sancionar esse movimento. Além disso, houve outros aumentos de custos, como os provenientes da alta dos preços das commodities.
Sarti, por sua vez, tem dúvidas quanto à consistência da recuperação da renda, acreditando que esse processo deverá ficar concentrado nas categorias mais fortes e mais organizadas, como metalúrgicos, petroleiros e bancários.
Valor Online
14/9/2004