Produção de aço deve cair após três anos

09/01/2009

A siderurgia brasileira passará por ajuste forçado em 2005, com reduções na produção, nas vendas internas e nas exportações comparativamente a 2004, ano considerado “ímpar” em termos de bons resultados pelos industriais do setor. A previsão revisada do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), divulgada ontem, indica que a produção de aço bruto ficará em 31,5 milhões de toneladas, com queda de 4,4% em relação ao ano passado. Será a primeira queda de produção desde 2001, quando a parada para reforma de altos-fornos diminuiu, nos mesmos 4%, o volume de aço produzido sobre 2000.

De acordo com o IBS, as vendas para o mercado doméstico totalizarão 16,9 milhões de toneladas neste ano, com redução de 5% sobre o ano passado. “A recuperação da demanda por aço no mercado interno ocorrerá só no quarto trimestre”, previu o presidente do IBS, Luiz André Rico Vicente. Ele informou que, no primeiro semestre do ano, a produção de aço no país caiu 1,2% em relação a igual período de 2004.

As vendas internas recuaram 2,4% e as exportações cresceram 1,2% em volume no período, sempre na comparação com janeiro-junho do ano passado. Em junho, o quadro se agravou: a produção de aço bruto caiu 9,1% ante junho de 2004 e as vendas de produtos laminados recuaram 12,6%. Já as exportações de junho cresceram 5,6%. Para o fechamento de 2005, o IBS projeta que as exportações devem recuar 0,7% sobre 2004, situando-se em 11,9 milhões de toneladas.

As projeções para 2005, divulgadas ontem pelo IBS, contrastam com o cenário otimista projetado pela entidade para este ano, no fim de 2004. As projeções para 2005 levaram em conta crescimento de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB), acima da nova previsão do governo, de 3,4%. Rico Vicente lembrou que o ajuste no setor se relaciona à alta na taxa básica de juros, que freou o consumo, e à valorização do real frente ao dólar, que encarece as exportações.

“Estamos ansiosos para que a relação (atual) de câmbio seja alterada porque ela prejudica os exportadores de manufaturados, que são nossos clientes, e interfere diretamente no nosso setor. Mas não queremos que o câmbio seja alterado por fatos políticos, como ocorreu ultimamente, porque aí, conserta de um lado, e atrapalha de outro”, disse Rico Vicente.

Questionado se a siderurgia está preocupada com a crise política, respondeu: “Estamos preocupados que os fatos se resolvam o mais breve possível porque cria-se um clima de insegurança que pode contaminar a economia, como ficou claro esta semana. Neste ambiente, em qualquer conselho (de empresa) que se reúne, prevalece o clima de preocupação porque se começa a perder a visão de futuro.”

Ele lembrou que dos US$ 12,6 bilhões de investimentos projetados pelo setor entre 2005 e 2010, US$ 2,7 bilhões estão em obras e US$ 1,3 bilhão inclui projetos em fase de fim de detalhamento. Restam a ser decididos, portanto, US$ 8,6 bilhões em investimentos que, de acordo com Rico Vicente, não são afetados por crises a curto prazo.

Ele acrescentou que, ao analisar o quadro do setor em 2005, também é preciso considerar os grandes estoques de produtos siderúrgicos em poder de clientes e da rede de distribuidores no país. Com receio de que as altas nos preços do minério de ferro (71,5%) e do carvão (120%) fossem repassados de forma integral para os preços do aço, clientes e distribuidores da siderurgia se anteciparam, elevando as compras para proteger-se de especulações de mercado.

O resultado foi que o estoque na rede distribuidora de aços planos, por exemplo, situou-se em junho acima das 700 mil toneladas. Essa rede trabalha, em média, com estoque que corresponde a duas vezes e meia a sua venda mensal. No momento, o estoque seria equivalente a quase quatro vezes a venda de um mês, diz o IBS. A rede distribuidora vende cerca de 30% do aço plano comercializado no país.

O presidente da entidade projetou que a situação deverá se normalizar nos três últimos meses do ano. E acrescentou: “Haverá aumento das exportações já no terceiro trimestre, período no qual o mercado interno ainda passará por retração, recuperando-se no quarto trimestre, quando os estoques com distribuidores estarão normalizados.”

Fonte:
Valor Economico
Francisco Góes
28/7/2005