Preços industriais sobem e pressionam IGP

09/01/2009

Índice aumenta 1,17% em abril e também foi impactado pela alta de 3,26% nos produtos agrícolas.

Com a forte alta dos produtos no atacado, de 1,43%, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) fechou abril com elevação de 1,17%, a maior desde setembro. O resultado superou o resultado de março, de 0,67%. A má notícia é que as pressões no atacado começam a se estender aos preços industriais, embora ainda sejam mais intensas nos agrícolas. O IGP-10 de abril mede a inflação entre os dias 11 de março e 10 deste mês.

Depois de subir 0,03% em março, o IPA industrial registrou variação de 0,82% em abril, em grande parte devido à disparada dos preços de combustíveis como querosene para motores (alta de 13,77%) e óleo combustível (8,86%), que seguem mais de perto o comportamento do petróleo.

Segundo o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, o aumento desses dois combustíveis explica nada menos que 0,32 ponto percentual do aumento do IPA, que passou de 0,7% em março para 1,43% em abril. O IPA tem peso de 60% no IGP-10. Ele lembra que os preços de querosene para motores e o óleo combustível subiram com força porque são reajustados a cada 15 dias pela Petrobras, diferentemente do que ocorre com a gasolina e o óleo diesel. Com isso, acompanham as flutuações do petróleo, que continua acima de US$ 50 o barril.

O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, nota que os preços de alimentos industrializados começaram a aumentar. É uma contaminação dos produtos agrícolas para os industriais, afirma ele. A farinha de trigo, que caíra 0,43% no mês passado, aumentou 11%. Quadros reconhece que o cenário para os produtos industriais piorou, mas diz que a alta foi muito concentrada em querosene para motores e óleo combustível. Como contraponto, lembra que o grupo materiais para manufatura, que inclui insumos siderúrgicos, químicos, madeira e celulose, subiu 0,26%.

De qualquer modo, o resultado do IPA industrial superou as expectativas. Fenolio esperava alta de 0,45%. Para o IGP-10, a projeção média do mercado era de variação de 0,95%, abaixo do 1,17% que foi observado. Nesse quadro, Fenolio revisou a previsão para o IGP-10 no ano de 6,8% para 7%.

A alta mais forte ocorreu nos preços agrícolas no atacado, que subiram 3,26% em abril. O aumento das commodities e a quebra de safra provocada pela estiagem no Sul têm empurrado as cotações para cima. O item lavouras para exportação, que reúne produtos como soja e café, subiu 8,82%, refletindo principalmente o aumento das commodities, diz Fenolio.

Quadros ressalta a elevação de 3,25% das matérias-primas brutas, um movimento que ocorreu tanto nas agropecuárias como nas minerais. No primeiro subgrupo, ele cita a alta da soja, com aumento de 12,77%, depois de cair 2,78% no mês anterior, e do milho, que teve variação de 13,67% (0,31% em março). No caso das matérias-primas minerais, o destaque foi a disparada de 10,18% do minério de ferro.

A forte pressão do IPA agrícola deve se dissipar nas próximas semanas, acredita Fenolio. Segundo ele, há sinais de que esses preços estão mais tranqüilos, como mostra o comportamento de uma cesta com produtos agrícolas no atacado acompanhados pela Rosenberg. Nos 30 dias encerrados em 30 de março, a cesta acumulou alta de 5,48%; nos 30 dias até 18 de abril, a variação foi de 1%.

No caso dos industrializados, a expectativa é que a pressão continue mais forte nos próximos meses, como diz o economista Fábio Ramos, da LCA Consultores. O quadro no atacado deve ser de desaceleração nos agrícolas e aceleração nos industriais, diz ele.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,75%, acima dos 0,57% do mês anterior. O aumento da tarifa de ônibus em São Paulo afetou o grupo transportes, que teve alta de 2,32%. Outra fonte de pressão foi o reajuste da taxa de água e esgoto residencial. O item alimentação, por sua vez, subiu 0,89%, uma alta relativamente expressiva, mas abaixo do 1,09% de março. Como diz Quadros, ainda há dúvidas sobre qual será a intensidade dos repasses das pressões dos aumentos dos produtos agrícolas no atacado para o varejo.

O Índice Nacional dos Custos da Construção (INCC) subiu 0,38%, abaixo do 0,71% de março.

Valor Economico
21/4/2005
Sergio Lamucci