Preço de exportação sobe 11% no bimestre
09/01/2009
Alta ocorreu nos manufaturados, compensou o câmbio e fez venda para os EUA crescer 36%
O preço das exportações brasileiras de produtos manufaturados subiu 11% no primeiro bimestre de 2005 ante o mesmo período do ano anterior, conforme levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) obtido com exclusividade pelo Valor. O dado demonstra que as empresas estão conseguindo repassar uma parcela da valorização do real e dos reajustes de insumos como o aço. O reajuste dos preços veio acompanhado de uma alta de 30% no volume embarcado.
“Um aumento acima de 10% é excepcional, pois os preços de manufaturados são muito menos voláteis do que os das commodities”, explica Fernando Ribeiro, da Funcex. Em 2004, os preços das exportações de manufaturados aumentaram 5,9%.
Na avaliação do economista, o repasse da valorização do câmbio só é possível por conta do aquecimento da demanda internacional. Segundo cálculos do J.P Morgan, a economia global expandiu-se 3,5% no primeiro trimestre do ano. Apesar da alta de sua taxa básica de juros, os EUA, principal destino dos manufaturados brasileiros, são a locomotiva dessa expansão e registraram crescimento anualizado de 4,5% no primeiro trimestre.
O desempenho dos produtos manufaturados está garantindo o crescimento das exportações brasileiras e revigorando o fluxo de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos. No ano passado, as exportações do país para os Estados Unidos cresceram 20,4%, abaixo dos 32% do total das exportações. No primeiro trimestre de 2005, as vendas para o mercado americano ganharam fôlego e aumentaram 36,2% ante o mesmo período do ano anterior.
Esse desempenho superou o das exportações totais, cuja alta foi de 27,8%. Em contrapartida, destinos para onde predominam as exportações brasileiras de commodities estão menos dinâmicos. As vendas para a União Européia subiram 13,5% na mesma comparação. Para a China, a alta foi de insignificantes 0,6%.
As exportações brasileiras somaram US$ 24,45 bilhões no primeiro trimestre, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os embarques de manufaturados subiram 39,7%, contra apenas 3,4% dos básicos.
Segundo a Funcex, os preços das exportações de produtos básicos aumentaram apenas 4,5% no primeiro bimestre. E o ganho de volume foi ainda menor: 3%. Os embarques desses produtos estão sendo prejudicados pela queda nos preços de algumas commodities e pela quebra da safra brasileira de grãos.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) acredita que o câmbio atual não é favorável às exportações, mas admite que seu efeito está sendo secundário. “As grandes empresas, que têm muito peso na exportação de manufaturados, conseguem contornar o câmbio”, diz. Essas companhias exportam produtos de alto valor agregado e possuem condições de acesso a crédito que permitem diluir o custo do câmbio.
É o caso da Motorola. “O telefone celular é um produto de alta tecnologia, que exige a importação da maior parte da matéria-prima”, explica Luís Carlos Cornetta, diretor-geral da Motorola para o Brasil e o Cone Sul. Por conta disso, a empresa compra e vende em dólar, anulando os efeitos negativos da valorização do real. As exportações da empresa, que são direcionadas para a América Latina, praticamente dobraram no primeiro bimestre do ano, atingindo US$ 107,9 milhões.
Dados da Secex demonstram que vários setores conseguiram elevar o preço médio de exportação sem reduzir os volumes. As vendas de bombas, compressores e ventiladores, por exemplo, aumentaram 39,8% no primeiro bimestre em volume, enquanto o preço médio avançou 17%. Até o setor de automóveis aumentou os volumes embarcados em 26,95%, com pequena elevação de 2,52% nos preços.
Os analistas acreditam que há uma defasagem entre a alta do real e o impacto nas exportações, porque os contratos dos produtos manufaturados são de longo prazo. Por enquanto, a valorização do câmbio só traz preocupações imediatas para setores como calçados e têxteis.
O preço médio da exportação de calçados aumentou 19,4% no bimestre, mas foi acompanhado de queda de 3% no volume, indicando que os sapatos de menor valor perderam espaço e as empresas cuja produção é de maior valor agregado, conseguiram aumentar preços. Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan, conta que esses setores sofrem com a forte concorrência da China. Além de menores custos de produção, esse país conta com a vantagem de que a cotação de sua moeda é fixa ante o dólar.
A possibilidade de aplicar os recursos das vendas externas no mercado financeiro também alivia parte do impacto da valorização do câmbio sobre a competitividade dos exportadores, afirmam analistas. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, diz que, com os juros básicos em 19,25% ao ano, é interessante para o exportador vender os dólares e investir os reais em aplicações de renda fixa.
Isso ajuda a explicar por que o fechamento de contratos de câmbio pelos exportadores atingiu US$ 19,276 bilhões de janeiro até metade de março, um crescimento de 28,21% em relação aos US$ 15,034 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. A oferta de dólares aumentou mesmo com o real mais apreciado.
No primeiro trimestre deste ano, o dólar ficou em R$ 2,669 na média, bem abaixo dos R$ 2,893 do primeiro trimestre de 2004. Para o analista Antônio Madeira, da MCM Consultores Associados, isso ocorre em boa parte porque o nível dos juros domésticos incentiva as empresas a vender dólares e a aplicá-los no mercado financeiro, mesmo com o câmbio num patamar menos atraente.
Callegari, do J. P. Morgan, avalia que uma parcela do aumento dos preços de exportação dos produtos manufaturados se deve à “contaminação” da escalada das cotações do aço, que é utilizado como matéria-prima em diversos produtos como automóveis, aviões, máquinas ou aparelhos mecânicos.
A filial brasileira da multinacional Robert Bosch reajustou seus preços no final do ano por conta do aumento do aço. Edgar Garbade, presidente da empresa para a América Latina, relata que conseguiu repassar para os preços de exportação cerca de 80% do aumento do aço, que subiu 70% em 2004. “O aço subiu em todo o mundo. Já o câmbio é um problema específico do Brasil. É mais difícil o cliente aceitar modificação de preço por causa do dólar”, afirma Garbade. Ele relata que seria necessário elevar os preços em mais 10% para compensar a alta do real.
Os próprios laminados de ferro e aço, que também são considerados produtos manufaturados, têm impacto direto no desempenho das exportações. No primeiro bimestre do ano, as exportações de produtos siderúrgicos somaram US$ 1,084 bilhão, uma alta de 67,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
Os Estados Unidos foram o principal cliente do Brasil respondendo por 26,4% das vendas. Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do IBS, acredita que a demanda por aço deve continuar aquecida no mundo, por conta do crescimento da economia americana e da recuperação da União Européia e do Japão, depois de um longo período de estagnação. “O risco de que toda essa euforia fosse uma bolha não existe mais”, diz.
Valor Economico
Raquel Landim
(colaborou Sergio Lamucci)
4/4/2005