PPPs precisam de projetos integrados de logística
09/01/2009
Para Renaud Barbosa Silva, professor da Fundação Getúlio Vargas, os investimentos em logística, por meio das Parcerias Público-Privadas, só terão sucesso se forem atrelados a outros empreendimentos
Por Márcio Juliboni
EXAME As Parcerias Público-Privadas (PPPs) só conseguirão atrair recursos consistentes para o setor de transportes (rodovias, portos e ferrovias), se as obras estiverem ligadas a outros tipos de empreendimentos, como a agroindústria. Isto porque as receitas geradas apenas pela administração das concessões (como os pedágios das estradas) não são suficientes para cobrir os investimentos com a rentabilidade e o prazo desejados, na maioria dos projetos (se você é assinante, leia também as reportagens do Anuário EXAME de Infra-Estrutura).
“Os investidores na PPP precisam ter algum outro tipo de empreendimento que dependa de um bom sistema de transportes”, afirma Renaud Barbosa Silva, coordenador do Núcleo de Operações Logísticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um exemplo é a BR 163, rodovia que liga o Mato Grosso ao Pará. A rodovia é cada vez mais usada no escoamento da soja produzida no Centro-Oeste do país, mas seu péssimo estado de conservação gera perdas muito grandes de carga durante o caminho.
De acordo com Silva, investidores que só contassem com as receitas de pedágio da BR 163 não teriam um retorno atraente. Mas, se um consórcio de grandes produtores de soja, como a Bunge (11º no ranking Melhores e Maiores de EXAME) e a Cargill (19º no ranking Melhores e Maiores de EXAME), assumisse o projeto, os ganhos seriam bem maiores. “Essas empresas têm interesse em recuperar a rodovia, porque querem reduzir as perdas de carga no transporte”, diz Silva.
No ano passado, o Brasil exportou 19,27 milhões de toneladas de soja. Segundo o professor, o desperdício gerado pelo transporte em estradas precárias gera um prejuízo de 13 dólares por tonelada para o produtor. Assim, a recuperação das estradas renderia uma receita adicional de 250 milhões de dólares por ano para os produtores. “Isso poderia ser um incentivo para que plantadores de soja organizassem um consórcio para investir na BR 163, por exemplo”, diz Silva.
De acordo com Silva, uma PPP “clássica” (aquela que depende apenas de receitas do próprio negócio) tende a ser malsucedida no longo prazo, no setor de transportes. “Fatalmente, no futuro, a conta virá para a sociedade”, diz.
Exame
7/3/2005