Portos brasileiros recebem nova onda de investimentos privados
09/01/2009
A iniciativa privada cansou de esperar pelo poder público e decidiu agir por conta própria para amenizar as deficiências do sistema portuário brasileiro. Nos últimos meses, um grupo de companhias de peso deu a arrancada para o que vem sendo chamado de a segunda onda de investimentos do setor, depois dos arrendamentos ocorridos na década de 90. Vários terminais privados estão sendo construídos para ampliar a capacidade de transportes do País e diminuir, um pouco, o tão famoso custo Brasil.
Além dos projetos em andamento, que somam quase R$ 4 bilhões, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) analisa cerca de 25 pedidos para a construção e exploração de Terminal de Uso Privativo (TUP) e Misto. Se aprovados, esses empreendimentos devem somar mais R$ 4 bilhões de investimentos no setor. “Os empresários reagiram ao caos da infra-estrutura e estão criando seus próprios portos para não depender do governo”, afirma o professor do Centro de Estudos de Logística (Cel) da Coppead/UFRJ, Paulo Fleury.
Os projetos contam com nomes como ThyssenKrupp CSA, Coimex, Grupo Batistella, MMX, de Eike Batista, e o empresário Agostinho Leão, ex-dono do tradicional Matte Leão, vendido em março para a Coca-Cola. Juntam-se a eles fundos de investimentos estrangeiros e empresas de navegação e de engenharia. Entre os processos em análise na Antaq, estão os de empresas como Usiminas, Caramuru, Braskem, Cargill e Portland Itaú.
Para algumas companhias, os investimentos fazem parte de uma estratégia de não depender das estruturas já saturadas e que têm causado inúmeros prejuízos. É o caso da ThyssenKrupp CSA, cujo projeto do complexo siderúrgico de Santa Cruz, no Estado do Rio de Janeiro, inclui um terminal marítimo. As obras foram iniciadas no fim do ano passado e devem ser concluídas em 2008.
Segundo a empresa, o empreendimento é essencial para a importação de matéria-prima e exportação de placas. Por isso, o terminal será formado por dois berços: um para carvão, com capacidade de descarga de 4,6 milhões de toneladas/ano, e outro para placas, que poderá carregar cerca de 5 milhões de toneladas/ano. A companhia destaca que o empreendimento será dedicado apenas às operações da ThyssenKrupp CSA.
USO MISTO
Boa parte dos novos terminais, no entanto, é para uso misto. O que se configura uma grande oportunidade de negócios para empresas de diferentes ramos. Em julho, por exemplo, deve entrar em operação o Porto de Navegantes, em Itajaí (SC), idealizado pelo empresário Agostinho Leão, em 1998.
O empreendimento tornou-se viável apenas em 2005 com a formação do consórcio Portonave, formado pelas empresas Ivaí Engenharia e Obras, Triunfo Participações e Investimentos, Maresgaudium (de Leão) e o fundo europeu Backmoon. O terminal, em frente ao Porto de Itajaí, será especializado em contêineres, com foco em cargas frigorificadas, disse o diretor-superintendente da Portonave, Osmari de Castilho Ribas.
Segundo ele, o empreendimento, um investimento de R$ 420 milhões, terá 900 metros de cais e poderá movimentar até 800 mil contêineres/ano (160 mil na primeira fase). “O objetivo é atender a cargas de São Paulo, Sul do País, Centro-Oeste e Mercosul”, diz Ribas.
Mas o terminal terá concorrentes em breve. Está previsto para o fim de 2008 o início das atividades do Porto de Itapoá, também localizado em Santa Catarina e especializado em contêineres, inclusive cargas frigorificadas, como Navegantes. O diferencial desse terminal é a profundidade natural do calado, em torno de 17 metros, que permitirá o acesso de navios de grande porte direto do alto-mar, sem a preocupação com manobras em canais.
O projeto, de R$ 300 milhões na primeira fase, está sendo tocado pelo Grupo Batistella e pela Aliança Navegação. Segundo José Antonio Balao, diretor da Aliança, o terminal terá três berços de atracação e capacidade para movimentar 500 mil contêineres/ano. Além de atender a cargas regionais, o porto será ponto de conexão entre pequenas e grandes embarcações. Entre os produtos que serão transportados estão açúcar ensacado, cargas frigorificadas, madeira e móveis.
Balao explica que o projeto de Itapoá já vinha sendo almejado pelo Grupo Batistella há cerca de dez anos. “Com o sistema portuário em colapso, decidimos entrar nessa empreitada”, destacou o executivo da Aliança, subsidiária da Hamburg Süd, uma das maiores empresas de cabotagem do mundo.
Segundo ele, em 2006, só os navios da Hamburg Süd gastaram em média 12 horas para atracar nos portos brasileiros. “Há deficiência muito grande para atender ao comércio exterior. Por isso, a iniciativa privada não pode ficar esperando pelo Estado, cuja capacidade de investimento é pequena.”
Outro investimento importante é o Porto do Açu, no norte fluminense, orçado em R$ 720 milhões. O projeto de Eike Batista deverá entrar em operação em 2009 e vai escoar cerca de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro.
ÁREAS ARRENDADAS
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, diz que o investimento privado no setor poderia ser maior. Ele informa que há seis anos o governo não faz licitação de áreas em portos públicos.
A partir de 1993, várias empresas arrendaram áreas em portos do País por 25 anos. Investimentos foram feitos para modernizar os terminais e torná-los mais ágeis na operação. Nessa fase, despontaram empresas como Libra Terminais e Santos Brasil. “Eles investiram pesado, modernizaram os portos, elevaram a produtividade, mas continuaram sob as asas do governo, que não melhorou o acesso aos terminais”, afirma Fleury, do Coppead.
O professor se referiu às enormes filas que se formam nos arredores dos portos e à falta de profundidade adequada do calado, que têm dificultado a entrada de navios de grande porte nos terminais. Isso acaba trazendo inúmeros prejuízos, já que as embarcações têm de sair do porto sem aproveitar sua capacidade total para não ficar encalhadas.
Fonte:
Jornal O Povo
Agência Estado