PIB da China cresce 8,7% e deve se tornar o 2º do mundo
21/01/2010
Junto com o desempenho do PIB da China acima do previsto, veio também a inesperada alta de preços no mês de dezembro, o que colocou o governo em alerta para os riscos de inflação, superaquecimento da economia e surgimento de bolhas no mercado imobiliário.
A divulgação dos dados chineses reforçou a percepção de analistas de que o governo deverá adotar medidas de restrição do crédito – incluindo a alta dos juros – e retomar o processo de valorização do yuan em relação ao dólar.
"Nós estamos tentando promover o crescimento econômico e controlar a inflação ao mesmo tempo, o que é uma tarefa muito difícil", afirmou ontem o diretor do Escritório Nacional de Estatísticas, Ma Jiantang, ao divulgar os dados de 2009. Segundo ele, a contenção dos preços será a principal preocupação do governo em 2010.
Outro desafio será evitar o surgimento de bolhas de ativos, principalmente no setor imobiliário, que já dá sinais de descontrole. "O preço de ativos está crescendo muito rapidamente e a alta do preço dos imóveis em algumas cidades se intensificou", disse Ma, ressaltando que o objetivo do governo é "estabilizar" o mercado.
O diretor do Escritório de Estatísticas observou que os responsáveis pela política econômica estão "trabalhando" na tarefa de conciliar crescimento e controle de preços, mas não revelou quais medidas estão em análise.
O ritmo de expansão do PIB chinês atingiu 10,7% no quarto trimestre, bem acima dos 6,2% que haviam sido registrados no período de janeiro a março – no segundo e terceiro trimestres o índice foi de 7,9% e 9,1%, respectivamente.
Apesar disso, Ma ressaltou que o PIB per capita chinês ainda é bem inferior ao dos países desenvolvidos: "Não importa a posição que ocupemos no ranking nós temos que encarar o fato de que existem 150 milhões de pessoas pobres no país, se for considerado o critério de renda de até US$ 1,00 por dia".
E esses pobres são especialmente vulneráveis à inflação. O índice de preços ao consumidor fechou o ano em terreno negativo, com queda de 0,7%, mas se acelerou nos dois últimos meses do ano. Em novembro, o indicador teve alta de 0,6% em relação a igual período do ano passado. No mês seguinte, o percentual saltou para 1,9%, acima das previsões dos analistas, que esperavam elevação de 1,6% a 1,7%.
O governo chinês começou a apertar a política monetária na semana passada, depois de 18 meses de ampla expansão do crédito e da quantidade de dinheiro em circulação na economia. No dia 7 de janeiro, o Banco do Povo da China (banco central) elevou em 0,5 ponto percentual a quantidade de depósitos que as instituições financeiras devem manter como reserva, sem emprestar para seus clientes, o que retirou de circulação cerca de US$ 43 bilhões.
Desde então, a autoridade monetária também aumentou em duas ocasiões os juros de seus títulos de um ano, que servem de referência para operações interbancárias. Na prática, a decisão encarece o custo do dinheiro para os bancos e reduz sua margem para concessão de financiamentos.
O principal motor do crescimento de 2009 foram os investimentos, estimulados em grande parte pelo US$ 1,4 trilhão em novos empréstimos bancários – o dobro do ano anterior. Os investimentos tiveram alta de 30,1% e atingiram 22,5 trilhões de yuans, ou US$ 3,29 trilhões, o equivalente a 67% do PIB do ano passado, de US$ 4,91 trilhões.
Impulsionados pelo pacote de estímulo de US$ 584 bilhões anunciado pelo governo em novembro de 2008, os investimentos em infraestrutura se expandiram em 44,3%, para US$ 614 bilhões. Os recursos destinados a construções do setor imobiliário tiveram alta de 16,1% e somaram US$ 530 bilhões. O índice de expansão foi 4,8 pontos percentuais inferior ao registrado em 2008.
O crescimento de 8,7% de 2009 levou à criação de 9,1 milhões de postos de trabalho nas áreas urbanas e evitou o cenário de desemprego em massa que se desenhava no início do ano. O número de migrantes rurais que deixam suas vilas em busca de trabalho nas cidades chegou a 149 milhões em dezembro, com crescimento de 1,7 milhão.
A expansão do PIB também levou ao aumento da renda, que registrou expansão real de 9,8% nas zonas urbanas e de 8,5% no campo. A renda disponível no ano dos moradores das cidades ficou em US$ 2.500, enquanto a dos camponeses foi de US$ 754.
Fonte:
Estadão.com.br
(com Cláudia Trevisan, correspondente de O Estado de S. Paulo em Pequim)