Petrobras trabalha para não depender do gás da Bolívia
09/01/2009
A frustração de novos investimentos na Bolívia em decorrência da instabilidade política e econômica do país vizinho tem levado a Petrobras a correr em busca de alternativas para garantir o suprimento de gás natural no Brasil para os próximos anos. Depois de alcançar a auto-suficiência na produção de petróleo neste ano, a estatal decidiu priorizar agora a produção nacional e a importação de gás natural liquefeito (GNL) de mercados internacionais para atender ao crescimento da demanda interna do gás. A estratégia, segundo o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, é reduzir a dependência brasileira do gás boliviano como forma de dar garantias concretas à expansão do produto no Brasil. As informações foram repassadas por Sauer que na última semana participou da maior exposição de petróleo e gás da América Latina, a Rio Oil & Gás 2006, no Rio de Janeiro.
Sauer ressaltou que o gás natural responde hoje por cerca de 10% da matriz energética do Brasil, sendo que o percentual deverá crescer para 15% até 2015. Para alcançar essa expansão na oferta interna do produto o setor de gás natural receberá investimentos de US$ 22,1 bilhões até 2011. As atividades de exploração e produção no Brasil ficarão com aproximadamente 70% deste montante e as bacias do Espírito Santo e de Santos (esta já a partir de 2009) terão destaque no incremento da oferta. Segundo ele, praticamente metade do gás natural utilizado no país é boliviano, mas a produção nacional deverá chegar a 70 milhões de metros cúbicos por dia em 2011.
Questionado sobre as intenções da estatal brasileira em relação à importação dos 30 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, conforme prevê o contrato válido até 2019 entre Brasil e Bolívia, Sauer ressaltou que a Petrobras continuará importando o volume do produto via Gasbol (Gasoduto Brasil-Bolívia), que corta Mato Grosso do Sul no sentido oeste-leste, porém terá a dependência do volume importado reduzida.
Ainda que conte com o gás boliviano até 2019, a Petrobras descartou novos investimentos em gás no país vizinho e também anulou a possibilidade de duplicação do Gasbol, que vinha sendo planejada pela estatal no início deste ano. O plano de ampliação da malha de gasodutos da Petrobras no Brasil prevê a implantação de novos gasodutos no Estado do Amazonas e outros que passam por praticamente todo o litoral brasileiro de Porto Alegre (RS) até o Recife (PE). A estimativa de oferta esperada de gás natural no Brasil em 2011 é de 121 milhões de metros cúbicos por dia, sendo 30 milhões de m³ importados da Bolívia; 71 milhões de m³ produzidos no Brasil e 20 milhões de m³ referentes à importação do gás natural liquefeito (GNL). A demanda por gás natural estimada no Brasil em 2011 também será de 121 milhões de metros cúbicos por dia, o que sinaliza forte crescimento do setor, uma vez que em 2005 o consumo nacional de gás natural foi de 45,4 milhões de m³ por dia.
Gás natural liquefeito
O gás natural liquefeito (GNL) é o gás no estado gasoso após sofrer redução da sua temperatura a -162ºC à pressão atmosférica normal. Nessas condições, o produto passa a ter volume cerca de 600 vezes menor em relação ao gás natural gasoso e passa a ser denominado GNL. Com a transformação para o GNL, já bastante utilizada nos Estados Unidos, Europa e Ásia, a Petrobras poderá importar o produto por via marítima de fornecedores mundiais que serão definidos até o final deste ano. Para isso a estatal está investindo US$ 180 milhões, que possibilitarão a importação de 18 a 20 milhões de metros cúbicos diários de GNL, sendo que 6 milhões serão entregues em Pecém (CE) e o restante na Baía de Guanabara (RJ), onde ficarão as unidades de regaseificação do GNL.
O diretor da Petrobras disse que se o aumento da oferta nacional de gás com a exploração de novas bacias já é uma realidade, a importação do gás natural liquefeito (GNL) só se concretizará no final de 2008 ou início de 2009 e a oferta de GNL será totalmente destinada ao abastecimento das usinas termelétricas. Segundo ele, como essas geradoras entram em operação de forma sazonal, o abastecimento com GNL é adequado uma vez que a importação do produto e a oferta dele no mercado interno serão flexíveis. Em 2005, a oferta mundial de GNL chegou a 500 milhões de metros cúbicos por dia e já responde por 7% do total de gás disponibilizado no mundo – percentual que deve dobrar até 2015. A importação, com transporte por navios, do GNL pode representar o fim da necessidade brasileira de importação de gás via gasoduto. Mesmo assim, a Petrobras garante que continuará importando os 30 milhões de metros cúbicos de gás natural da Bolívia que entram no Brasil por Mato Grosso do Sul via Gasbol até 2019.
Instabilidade na Bolívia
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ressaltou durante a Rio Oil & Gás 2006 que a quinta rodada de negociação sobre os preços do gás natural da Bolívia terminou no dia 13 de setembro e o resultado ficou dentro do esperado pela estatal. “Nova reunião para discutirmos os preços do gás natural vendido ao Brasil foi marcada para o final de setembro”, disse. Segundo a Petrobras, o reajuste trimestral do gás natural previsto para outubro não deverá ultrapassar 5%.
Gabrielli lembrou que a instabilidade criada a partir da publicação, na última semana, de uma resolução ministerial da Bolívia, que assume o controle das receitas das duas refinarias de petróleo da Petrobras em território boliviano, não impõe qualquer alteração nos contratos de fornecimento de gás ao Brasil. “No caso do gás, a Bolívia não pode soberanamente mudar o contrato internacional de fornecimento do produto, mas o Governo daquele país pode mudar as leis de refino interno da Bolívia, como tentou fazer”, afirmou.
Segundo ele, a estatal brasileira é responsável em garantir o suprimento nacional de gás e o contrato com a Bolívia válido até 2019 não está sendo questionado pelo país vizinho. “Não há porque questionarmos o suprimento do gás no Brasil: o contrato de gás é uma coisa e o refino interno na Bolívia é outra, são coisas separadas”, tranquilizou Gabrielli.
Fonte:
Correio do Estado