Pesquisa aponta aumento da proporção da população negra no país
17/12/2008
Estudo reúne dados da Pnad, do período entre 1993 e 2007.
Entre a população masculina, negros representam 51,1%.
A proporção de negros no país, entre os anos de 1993 e 2007, passou de 45,1% para 49,8%, de acordo com a terceira edição da pesquisa “Retrato das Desigualdades”, divulgada nesta terça-feira (16). Entre a população masculina, os negros são maioria desde 2005, representando 51,1% da população, enquanto os brancos são 48,1%. Já entre as mulheres, a tendência de crescimento também é verificada, mas as mulheres negras ainda são minoria (48,5% frente a 50,6% da população branca).
O estudo foi realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). As análises são feitas com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007 (Pnad 2007).
O aumento da população que se identifica como preta ou parda ocorre em praticamente todas as faixas etárias, indicando, segundo a pesquisa, que o aumento da população negra no país não é causado por uma maior taxa de natalidade entre os negros. Segundo os pesquisadores, o aumento da população negra não está relacionada ao número de filhos, mas ao auto-reconhecimento das pessoas como negras. A ministra da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, Nilcéa Freire, ressaltou que a política de cotas tem sido um elemento absolutamente importante para o crescimento dessa auto-afirmação.
Ainda de acordo com a pesquisa, o envelhecimento da população também é uma tendência observada no país. Entre 1993 e 2007, o grupo de homens brancos com 60 anos ou mais passou de 8,2% para 11,1%, enquanto o de negros nessa mesmo faixa etária aumentou de 6,5% para 8%. Entre as mulheres, no mesmo período, o grupo de brancas passou de 9,4% para 13,2% e o de mulheres negras nessa faixa etária passou de 7,3% para 9,5%.
Chefia de família
Um dos principais indicadores da pesquisa referentes à estrutura familiar indica que, entre 1993 e 2007, houve um crescimento das famílias chefiadas por mulheres. O índice passou de 22,3%para 33%. A tendência é observada, de acordo com o levantamento, tanto em famílias da zona urbana quanto da zona rural, mas de forma mais intensa nas áreas urbanas.
Do total das famílias chefiadas por mulheres, houve um decrescimento das monoparentais femininas, de 63,9% em 1993 para 49,2% em 2006. Já entre as famílias chefiadas por homens notou-se o crescimento do número de famílias monoparentais masculinas, de 2,1% em 1993 para 3% em 2007.
Educação
No que diz respeito à educação, a pesquisa revela desigualdades racial e de gênero no acesso à escolaridade. Em 1993, a taxa de analfabetismo para homens brancos de 15 anos ou mais era de 9,2%, passando a 5,9%, em 2007. Entre as mulheres brancas na mesma faixa etária, o índice passou de 10,8% para 6,3%, e entre as mulheres negras passou de 24,9% para 13,7%. Mesmo com a redução observada nas taxas de analfabetismo para os diversos grupos, as desigualdades entre os grupos raciais, segundo a pesquisa, ainda são significativas (mais de oito pontos percentuais entre homens brancos e negros e mais de sete pontos percentuais entre as mulheres destes grupos).
Com relação aos anos de estudo, houve um aumento médio de dois anos de estudo no período analisado pela pesquisa, em todos os grupos etários, de gênero e raciais.
Saúde
Os cânceres de mama e de útero são os mais freqüentes na população feminina e, segundo a pesquisa, a doença está entre as principais causas de morte de mulheres entre 30 e 60 anos, ao lado de doenças circulatórias e mortes provocadas por causas externas. Em 2003, no entanto, ainda de acordo com o levantamento, 32% das mulheres que moravam em áreas urbanas nunca haviam realizado o exame clínico de mamas. Em áreas rurais, esse índice sobe para 63% das mulheres, no mesmo ano.
Ainda em 2003, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi responsável por 63,5% dos atendimentos e 69,3% das internações no país. Para a população branca, esse índice corresponde a 54% dos atendimentos e 59% das internações. Quando os dados do SUS são referentes à população negra, os atendimentos e internações correspondem, respectivamente, a 76% e 81,3%. Pouco mais de 33% dos brancos possuem plano de saúde privado e menos de 15% dos negros estão na mesma situação.
Saneamento
Quase a totalidade dos domicílios urbanos do país (98%) contam com coleta de lixo, o que corresponde à ampliação de uma cobertura que, em 1993, chegava a 85% das cidades. Não há distinção na distribuição desse serviço entre domicílios chefiados por homens e mulheres e mesmo entre os brancos e negros a diferença é de menos de três pontos percentuais (99% das casas chefiadas por brancos e 96,7% das chefiadas por negros). A Região Nordeste é a que apresenta o menor percentual de domicílios cobertos por esse serviço (94,2%).
O serviço de esgotamento sanitário atende a 82,3% dos domicílios. As desigualdades de raça, região e renda com relação a esse serviço são destacadas pelo estudo. Enquanto 88% dos domicílios chefiados por brancos possuíam esgotamento sanitário em 2007, esse percentual era de 76% para os domicílios chefiados por negros.
Fonte:
G1