Perspectivas para a economia em 2012

17/02/2012

 Apesar da desaceleração da economia no fim do ano passado, o PIB do Brasil cresceu próximo dos 3%, em 2011. Um bom resultado, quando se compara com a expansão da economia americana, ou européia. Entretanto, substancialmente abaixo dos demais emergentes. Após o Plano Real, a economia brasileira conseguiu superar a hiperinflação, mas manteve os juros altos e o mercado financeiro sempre indexado – mesmo no curtíssimo prazo – a uma taxa de referência, sempre alta, que atualmente é a Selic. Essa combinação de juros altos e falta de infra-estrutura ter sido a principal condicionante para um crescimento menor do que o observado em outros países da America Latina. E muitíssimo menor do que na Ásia. 
Em 2012, como se mantêm as condições, os resultados serão similares, com o Brasil crescendo menos do que os demais países em desenvolvimento. Porém, olhando a situação por outro ângulo, o país tem conseguido manter um crescimento constante, exceto em alguns períodos, como o ultimo trimestre de 2008 e o ano de 2009.
Neste ano, apesar das previsões pessimistas, as condições são favoráveis a um crescimento de 3,5% a 4,5% do PIB, com a inflação recuando para o patamar de 5% a 5,5% até o final de 2012. Os motivos de otimismo em relação ao PIB se devem aos seguintes condições: 
1. O forte aumento do salário mínimo significará uma injeção de mais de R$50 Bilhões na renda das famílias, com um desdobramento no consumo das classes de renda mais baixa.
2. A redução dos juros, associada ao aumento da liquidez, com a liberação gradual de parte dos depósitos compulsórios, dará um impulso adicional aos negócios.
3. O reajuste da taxa cambial, com o dólar a R$1,90 tendendo a subir, reduzirá a pressão dos produtos importados sobre a indústria nacional, que foi o setor da economia com o pior resultado do ano passado. Se o dólar subir para o patamar de R$2,10 , a indústria de transformação pode apresentar  (devido ao crescimento deste ano e a baixa base de comparação em 2011) o melhor desempenho, em termos de crescimento, entre os setores.
4. O crescimento da China, projetado para 8% neste ano e a expansão das economias na Ásia e dos demais países emergentes tendem a manter a demanda e os preços das commodities exportadas pelo Brasil.
5. Em um ano com eleições municipais, tudo que ficou atrasado, do PAC e outras ações públicas em 2011, será feito. 
Essa combinação de fatores conta com um adicional positivo: a inflação está em queda (por dados mensais) desde os meses de maio-junho, de acordo com o índice que se use como referência. Considerando o IPCA, pode-se perceber uma tendência nítida de queda, em termos de médias móveis de 12 meses, para o índice neste ano. A inflação, exceto no caso de uma grande quebra de safra, ou outro fator aleatório, tende ao intervalo de 5% a 5,5%, podendo ser um pouco maior, ou menor, em função da política monetária ou de fatores climáticos. O fato mais negativo, no curto e no médio prazo, é a percepção da crise na Europa e nos EUA.
O risco da falta de liquidez na Europa, com reflexos sobre os bancos europeus- e em particular sobre os espanhóis e franceses- continua grande. Porém, desde a saída de Jean-Claude Trichet da presidência do BCE – Banco Centrar Europeu – a situação evoluiu de forma muito favorável. Por um lado, França, Itália, Espanha, Portugal e demais países continentais iniciaram uma política decidida de cortes nos gastos públicos. Por outro, o novo presidente do BCE, realizou uma mega operação de liquidez, de 500 bilhões de euros, para os bancos da região, permitindo que as instituições possam levantar esses recursos dando em colaterais títulos públicos dos países europeus.
O total de recursos liberados para os bancos, por três anos, é praticamente igual ao total da dívida pública que precisará ser girada no período de janeiro a abril –aproximadamente 514 bilhões de euros- quando se concentra a maior parte das rolagens das dividas. Considerando o fato de o BCE emprestar o dinheiro a, aproximadamente, 1% ao ano, por três anos é muito provável que as taxas pagas pelos países europeus caiam significativamente no decorrer dos próximos leilões, pois o ganho dos bancos com a arbitragem das taxas será significativo. Com isso. O BCE empurra o problema da rolagem por três anos e transforma o mercado financeiro em um aliado para pressionar o governo inglês a se compor com o restante dos países do Mercado Comum Europeu.
Quanto aos EUA, até as eleições presidenciais no fim do ano, é pouco provável que a situação evolua. Em suma, apesar de continuar difícil o ambiente internacional, a evolução nos últimos meses, principalmente na Europa, foi muito favorável. Considerando esses cenários as principais tendências para 2012 são as seguintes:
O cenário mais provável para o PIB é de um crescimento de 3,5% em 2012;contudo, este resultado dependerá de um dólar entre R$1,90 a R$2,10, que torne competitiva a industria nacional.
Sendo eliminada a defasagem cambial, indústria crescerá de3% e 3,5% no ano, podendo ser maior, em função da fraca base de comparação com o ano anterior.
Vendas do comércio crescendo de 5% a 6%, estimuladas pelo consumo nas classes C e D.
Inflação entre 5% e 5,5%, no fim do ano, desde que não ocorram quebras na safra agrícola. 
Fonte:
Suma Econômica – Edição n.405 de Janeiro 2012