Pequenas empresas deixam de exportar

09/01/2009

Quando o dólar atingiu R$ 4, 00, o empresário Eduardo Teixeira achou que era hora de aproveitar a maré favorável e colocar as roupas da Seaway na rota das praias mundiais. Buscou novos contatos e vendeu algumas camisetas da grife nordestina para importadores nos Estados Unidos e na Itália. Em 2004, decidiu contratar um representante em Paris e uma onda de sorte levou seus produtos até Tóquio, no Japão, e Dubai, nos Emirados Árabes.

Só que o real se valorizou e o entusiasmo do executivo se esvaiu como a maré. “Os negócios deram uma esfriada e nos voltamos para o mercado interno novamente”, afirma Teixeira, proprietário da Seaway, ou “Caminho do Mar” em português, uma confecção de porte médio, que possui oito lojas espalhadas por Recife, Salvador e João Pessoa. A exportação da empresa se tornou esporádica e não chega a representar 1% do faturamento.

De janeiro a agosto deste ano comparado com igual período de 2004, 451 empresas deixaram de exportar, revelam dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, organizados pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O levantamento indica que algumas empresas começaram a desistir da exportação a partir de março e a tendência está se intensificando.

José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, estima que 600 a 800 companhias devem deixar o mercado externo este ano. Será a primeira queda desde 1998. A quantidade de empresas exportadoras saltou de 14.147, em 1998, para 16.246, em 2000, e 18.608, em 2004. Castro atribui a redução do número de empresas exportadoras à valorização do câmbio. O real subiu 18,4% ante o dólar no acumulado deste ano, e 29,5% desde o início de 2004. O dólar fechou ontem a R$ 2,24.

São as pequenas e médias companhias que mais sofrem com a perda de rentabilidade provocada pela alta do real ante o dólar. “Para essas empresas, a taxa de câmbio é um fator de competitividade. Elas não contam com economias de escala, o que reduz a produtividade. Compram matéria-prima por um preço mais alto que as grandes companhias. O custo de financiamento das pequenas empresas também é maior”, avalia Castro.

O número de empresas que exporta menos de US$ 60 mil caiu de 7.152 no acumulado de janeiro a agosto de 2004, para 6.199 em igual período desse ano, o equivalente a 953 empresas a menos. Parte dessas companhias aproveitou o boom exportador e está embarcando mais, superando o patamar de US$ 60 mil. Outra parcela, desistiu do mercado externo.

“Nós paramos de exportar por causa do câmbio. É algo esporádico. Antes, exportávamos todo mês”, afirma Arthur Masson, diretor da Calçados Masson, uma pequena fabricante de sapatos de Franca, interior de São Paulo, cuja produção fica em 500 pares por dia. Em 2004, 20% do faturamento da companhia foi obtido através da exportação. Segundo o empresário, esse percentual não chegará a 8% este ano.

Masson relata que os problemas se intensificaram em julho, a partir da Francal, feira do setor calçadista. É nesses eventos que a maioria das pequenas fabricantes de calçados fecha seus contratos de exportação. “Na hora em que eu falava o preço, o importador baixava a cabeça e ia embora”, conta o empresário. Um par de sapatos masculinos da Calçados Masson, que saía por US$ 14 o par, passou a custar US$ 17, por conta da alta do real.

A empresa começou a exportar em 2000, impulsionada pela desvalorização cambial de 1999, e vendia para clientes nos Estados Unidos, Colômbia e países árabes. Agora só conseguiu fechar alguns negócios para Uruguai e Chile no início do ano e teve que interromper novos embarques. Masson diz que só não reduziu a produção, porque redobrou o esforço de vendas no mercado interno, oferecendo descontos e dilatando os prazos de pagamento.

Uma parcela expressiva dos exportadores brasileiros são pequenas e médias empresas. De janeiro a agosto, as 6.199 companhias que exportaram menos de US$ 60 mil representavam 38,7% dos exportadores do país. Mas o fato de algumas dessas companhias desistirem do comércio exterior tem impacto reduzido para a balança comercial brasileira. Esses exportadores representaram apenas 0,16% dos US$ 76,08 bilhões embarcados pelo Brasil ao exterior nos primeiros oito meses do ano.

É por isso que, apesar da desistência de algumas pequenas e médias empresas, o desempenho da balança comercial continua muito positivo. De janeiro a setembro, os embarques do país cresciam 23,4%, para US$ 86,72 bilhões. O governo prevê encerrar o ano com exportações de US$ 117 bilhões.

Graças ao desempenho expressivo da balança, está aumentando o número de grandes exportadores brasileiros. E, com a desistência dos pequenos, também é maior a concentração dos embarques. De janeiro a agosto, 121 companhias do país exportaram mais de US$ 100 milhões. Essas empresas representaram 0,76% do total de exportadores e 60,27% da receita obtida. Em igual período de 2004, 98 empresas conseguiram exportar mais de US$ 100 milhões, equivalendo a 0,6% do total de exportadores e 55,72% do valor embarcado.

Fonte:
Valor Economico
19/10/2005