Para IBGE, a indústria faz PIB crescer menos

09/01/2009

O total de riquezas produzidas pela indústria de transformação caiu 0,4% de abril a junho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Com a queda, a indústria deixou de puxar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O ritmo de crescimento da economia caiu drasticamente no segundo trimestre do ano, com a elevação marginal de 0,5% do PIB em relação ao primeiro trimestre. É menos da metade do crescimento de 1,3% de janeiro a março. O acumulado em quatro trimestres não chega a 2%. “Se o ano acabasse agora, o PIB teria crescido 1,7%”, explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado intensificou as revisões para o desempenho econômico de 2006. As previsões mais pessimistas apontam para 2%, enquanto as mais otimistas passam pouco de 3%. Rebeca ressaltou que o resultado do segundo trimestre “foi basicamente alavancado pela demanda doméstica”. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o saldo também foi fraco: aumento de 1,2%, menos da metade do que previa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) há dois meses.
Em contrapartida, os dados confirmaram a queda da produção industrial (-0,4% em relação ao primeiro trimestre) e revelaram uma sucessão de taxas negativas relevantes neste tipo de comparação: -2,2% no investimento (Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF), -5,1% na exportação de bens e serviços, -0,1% nas importações. Os resultados positivos foram decimais: 0,8% na agropecuária, 0,6% nos serviços, 0,8% no consumo do governo.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em relatório divulgado ontem, alerta que o “‘stop and go’ industrial mostra-se extremamente curto na presente etapa da economia brasileira” e ressalta que os dados do PIB confirmam a estagnação industrial. O documento chama a atenção para o dado, à primeira vista contraditório, de o consumo interno não dar sinais de arrefecimento, a despeito da queda na produção nacional. “Esse (o crescimento do consumo das famílias) é um sintoma de um fato que crescentemente vai se impondo na economia brasileira sem que as autoridades tenham até agora tomado as providências cabíveis: o dinamismo econômico que poderia ser ensejado pelas decisões do consumidor brasileiro está sendo absorvido pelos produtores externos”, diz o documento, referindo-se à demanda por produtos importados.
Os efeitos da longa valorização cambial, que têm contribuição determinante para este cenário, não foram a única explicação para o desempenho no período. Rebeca Palis sustentou que outros fatores pontuais tiveram peso significativo do resultado, como a greve de mais de dois meses na Receita Federal, que prejudicou as operações de comércio exterior, e a redução da quantidade de dias úteis no período, causada pela realização dos jogos da Copa do Mundo e pela sucessão de feriados.

Ministro Guido Mantega mantém expectativa de 4%

Apesar do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a economia brasileira está crescendo “de forma robusta”. Ele sustentou a previsão do governo de que o PIB terminará este ano com expansão de 4% e disse que a queda do segundo trimestre foi “pontual” e já está superada. “Nós já estamos numa trajetória de aquecimento a partir de julho”, disse Mantega.
Para explicar o desaquecimento apontado pelo IBGE o ministro da fazenda citou fatores como a Copa do Mundo, que diminuiu o número de dias de trabalho em junho, a greve da Receita Federal e até serviços de manutenção em plataformas da Petrobras. “Evidentemente, existe sazonalidade, não é um crescimento contínuo, igual. Cada trimestre tem um comportamento diferente”, disse Mantega em Belo Horizonte, onde se encontrou com políticos do PT e se reuniu com empresários na sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
Em Manaus, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, também recorreu à Copa do Mundo e às greves dos fiscais para explicar o PIB fraco. “Mercadorias ficaram retidas, não saíam e nem entravam, estes foram os grandes vilões que influenciaram mais no baixo crescimento do PIB”, afirmou. Furlan, no entanto, também responsabilizou a taxa de câmbio valorizada, que desestimula exportações industriais e favorece as importações.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reconheceu, em Brasília, que o crescimento da economia no segundo trimestre ficou “aquém daquilo que todos gostariam”. Entretanto, disse que o Brasil já chegou em um ponto em que tem todas as condições para crescer mais e de forma sustentada. Fazendo coro com as explicações de Mantega, ele reafirmou a estimativa de crescimento de 4% neste ano, e arriscou ir além: “Tem gente dizendo entre 4% e 4,5%.”

Fonte:
Jornal do Comércio