País gasta 57% a mais para importar petróleo

09/01/2009

Queda na produção, aumento dos preços internacionais e maior consumo interno elevam déficit no setor em 181%

O Brasil gastou mais com a importação de petróleo e derivados e registrou um déficit comercial do setor maior em 2004 em razão da queda de produção da Petrobras, do aumento dos preços internacionais e da ampliação do consumo doméstico. O déficit gerado pelo setor de petróleo e derivados foi de US$ 4,5 bilhões em 2004, 181,2% maior do que o registrado em 2003 (US$ 1,6 bilhão).

As importações subiram 56,9% no ano passado -de US$ 6,5 bilhões em 2003 para US$ 10,2 bilhões, a maior cifra desde 2000 (período a partir do qual a ANP tem registro). Já as exportações também cresceram, mas num ritmo bem menor. Subiram 16,3%, passando de US$ 4,9 bilhões para US$ 5,7 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento obtidos pela Folha.
Em 2004, a produção de óleo da estatal caiu pela primeira vez desde 1990, o que explica boa parte do aumento do déficit.

Houve redução de 3,08% considerando só os campos no Brasil. A produção média caiu de 1,540 milhão de barris/dia para 1,492 milhão de barris/dia, de acordo com a Petrobras. Em 2002, a cifra havia ficado em 1,501 milhão de barris/dia.
A produção total da estatal, incluindo a extração de gás no país e os campos da companhia no exterior, sofreu uma redução menor -de 0,7%, para 2,020 milhão de barris médios diários.
Segundo o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, uma das principais causas para o aumento das importações foi justamente o recuo da produção nacional de óleo em 2004, que foi prejudicada pelo atraso na entrega de duas grandes plataformas de extração de petróleo.
Costa disse, porém, que em 2005 as coisas serão diferentes, já que a expectativa é ampliar a produção. Isso porque as duas unidades que atrasaram o início de suas atividades vão produzir a plena capacidade (150 mil barris/dia).
O diretor acredita até mesmo que, em alguns meses do ano, dependendo do nível de consumo, o país não necessite importar diesel. O combustível é o que pesa mais negativamente na balança do setor, pois as refinarias brasileiras são adaptadas a produzir mais gasolina e menos diesel. Além de diesel, o Brasil importa GLP (gás de cozinha) e nafta, insumo da indústria petroquímica.

“Em alguns meses do ano, poderemos até zerar as importações de diesel. Tudo dependerá do consumo. A expectativa é atingir a auto-suficiência ao final do ano”, prevê Costa.
O diretor explica, porém, que sempre será preciso importar um pouco de óleo e alguns tipos de derivados. É necessário trazer petróleo do tipo leve para misturar ao pesado produzido na bacia de Campos, com o objetivo de facilitar o processo de refino.

Especialistas afirmam que, em 2004, além da queda da produção de óleo, dois outros fatores ampliaram os gastos com importação: o aumento do consumo interno de combustíveis, que foi puxado pela recuperação da economia, e a elevação do preço do óleo e dos derivados no mercado internacional, que chegou a bater em US$ 55 o barril. O consumo doméstico subiu 4,3% ante 2003, segundo a Petrobras.

Folha Online
PEDRO SOARES
14/1/2005