Os reis das vendas na internet

09/01/2009

O comércio on-line cresce 40% ao ano no Brasil, torna-se um negócio de R$ 10 bilhões e começa a transformar radicalmente outras áreas da economia.

Por manoel fernandes e mariana ditolvo

Existe uma área da internet brasileira na qual a bolha de oportunidades não estourou. Pelo contrário, ela exibe taxas de crescimento acima de 40% ao ano, produz recordes sucessivos e atrai, para a sua área de influência, um número crescente de empresas. Trata-se do comércio eletrônico, o nome pomposo das vendas pela internet. Nesse pedaço do mundo virtual, freqüentado por quatro milhões de brasileiros, operam 2.500 lojas, há 7 milhões de itens à venda e vai faturar, este ano, nada menos que R$ 10 bilhões.

Mais do que apenas um centro isolado de prosperidade, o comércio na rede começa a afetar profundamente a vida de empresas tradicionais, que têm (ou tinham) o núcleo dos seus negócios fora da internet. É o caso das companhias aéreas. É o caso das montadoras. É o caso das livrarias. Suas histórias de pujança digital compõem um colar de sucessos com os outros negócios que operam exclusivamente na rede.

A Câmara de Comércio Eletrônico estima que o impacto do mundo virtual na economia – considerando as vendas diretas e a influência da rede sobre a compra dos consumidores – pode chegar a R$ 50 bilhões por ano. “Temos em mãos a oportunidade de construir um grande mercado”, afirma Cid Torquato, diretor da Câmara-e.Net.

Gol: O site foi criado com a empresa, em 2001. Hoje é o maior negócio da internet brasileira: vende 50 mil passagens por dia e fatura R$ 2,5 bilhões ao ano. 80% do negócio da Gol já é digital.
A maior operação exclusivamente virtual da internet brasileira pertence ao Submarino, empresa fundada em 1999 que há cinco meses abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Hoje, 48% do controle da companhia está na mão dos acionistas internos. A taxa de crescimento da empresa supera qualquer negócio do mundo real: 68% ao ano. Até dezembro, o faturamento do Submarino será de R$ 570 milhões, graças aos 5 mil itens vendidos diariamente a clientes de todo o Brasil. Em 2004 a empresa atendeu 1,8 milhão de pedidos e 914 mil clientes. “Ainda há muito espaço para ampliar nosso negócio porque existem 30 milhões de potenciais consumidores no Brasil”, afirma Flávio Jansen, presidente do Submarino. Como acontece em outros negócios da internet, os clientes do Submarino integram as classes A e B. Eles têm uma enorme elasticidade de consumo, gostam imensamente de novidades e gastam em média R$ 297 em suas compras. Os dados são do último levantamento da consultoria e-bit, que a cada semestre publica o estudo Web Shoppers sobre hábitos de consumo dos compradores virtuais. “Há um amadurecimento desse consumidor. Ele perdeu o medo em relação à internet”, diz Pedro Guasti, presidente do e-bit.

Fiat: Um terço das vendas da montadora começam na rede, na qual os clientes podem escolher os modelos e agregar acessórios. A montadora diz que chega a receber 500 visitas simultâneas no seu site.
O melhor termômetro do que acontece hoje no comércio eletrônico nacional é o serviço de comparação de preços Buscapé. Seus números são grandiosos. Por mês, recebe 12 milhões de consultas. Dispõe de 500 mil livros para comparação, 60 mil CD’s, 30 mil DVD’s e até 5 mil postos de gasolina, cujo preço do combustível é monitorado pelo Buscapé. “Nosso serviço é a prova de que o brasileiro está planejando suas compras antes de sair de casa”, diz Romero Rodrigues, diretor da empresa. E que compras são essas? Os itens mais vendidos pelas lojas virtuais seguem a seguinte ordem: CDs, DVDs, livros, eletroeletrônicos e produtos de beleza. Por último estão os eletrodomésticos. Os carros ainda não são vendidos diretamente na rede. Apesar dos fabricantes defenderem essa idéia, a legislação não permite que o negócio seja fechado sem a intermediação das concessionárias. A internet serve de instrumento de escolha para quem pensa em comprar um carro, novo ou antigo. A Fiat, por exemplo, fez uma profunda alteração em todo o seu site para otimizar a venda de veículos. Hoje, o cliente escolhe o carro e a informação é despachada eletronicamente para a loja mais próxima ao comprador. Trinta e três por cento das vendas da Fiat acontecem dessa forma.

Em um levantamento feito pela AgênciaClick, especializada em mídia on-line, a importância da internet para a indústria automobilística se revelou estratégica. Os números mostraram que 60% das pessoas que compram carros se informam sobre o produto em sites especializados. “Preparar-se para o comércio eletrônico é inevitável para as grandes marcas”, afirma Pedro Cabral, presidente da AgênciaClick.

Flores online: Tem um faturamento anual de R$ 9 milhões, atende em todo o Brasil e vende cerca de 25 mil buquês por mês. Entre os pequenos, é o negócio mais bem sucedido do comércio eletrônico brasileiro.
As grandes empresas estão fazendo bom uso do novo canal de vendas. Em dezembro de 2001, ano em que foi criada, a companhia de aviação Gol vendeu 7% das suas passagens pelo portal na internet. Hoje, o percentual ultrapassa 80% de todo o volume da companhia. Por ano, a Gol fatura R$ 3 bilhões.

Desse total, R$ 2,3 bilhões chegam da operação on-line. “Temos poucos problemas e muita satisfação por parte dos nossos clientes”, explica o vice-presidente de marketing da companhia, Tarcísio Gargioni. Outra operação de comércio eletrônico de grande porte é feita pela rede de livrarias Saraiva. O site foi criado em 1999 e já representa 25% da receita de R$ 300 milhões da companhia. A logística por trás dessa operação é bem interessante. O estoque central da Saraiva é mínimo. As entregas são despachadas de cada uma das lojas espalhadas pelo País. No total o acervo chega a 300 mil unidades. Essa estratégia possibilita a entrega de 25 mil itens em 24 horas, 70% dos quais são livros. “O sucesso é tão grande que dentro de um mês pretendemos ampliar o negócio para vender eletroeletrônicos”, afirma Marcílio Pousada, superintendente da Saraiva.

Saraiva: Pioneira em vendas na Internet, faz um quarto dos seus negócios na rede. São R$ 75 milhões por ano. “Atendemos o cliente onde ele quer ser atendido”, diz Marcílio Pousada, o superintendente.
O lado democrático desse mercado é que marcas como a Gol e a Saraiva dividem a atenção dos clientes com pequenas operações. Duas delas, a Flores Online e o Ingressos.com, são reveladoras do potencial da rede. Essas empresas têm um custo operacional baixo e um alcance ilimitado em relação aos consumidores. A Flores Online deve faturar em 2005 aproximadamente R$ 9 milhões, o equivalente a 300 mil buquês de rosas a um preço de R$ 30. O negócio se mostra tão interessante que os sócios da companhia pensam em transformá-lo numa loja de artigos de luxo associados à flores. No caso do Ingressos.com a situação é semelhante.

A empresa tem sede no Rio de Janeiro e comercializa entradas para cinemas, teatros, festas e até parques cariocas e paulistas. Seu forte é o mercado de filmes. Em 2005, a Ingressos.com venderá 1,3 milhão de ingressos para 700 salas do País, 30% a mais que em 2004. “Não teria me transformado em empresário sem a internet”, diz Jorge Alberto Reis, presidente da companhia. Sem a rede, muitos empreendedores brasileiros bem sucedidos ainda estariam buscando emprego – e seus clientes procurando o que comprar.

Fonte:
Istoé dinheiro