OIT prevê corte de 20 milhões de empregos por causa da crise
21/10/2008
Virgínia Hebrero.
Genebra, 20 out (EFE).- A atual crise financeira terá um grave impacto na economia real e provocará o desaparecimento de 20 milhões de postos de trabalho no mundo, advertiu hoje a Organização Mundial do Trabalho (OIT).
"O último cálculo que fizemos, com base nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), da ONU e com os dados existentes dos países, nos faz concluir que entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, ou seja, em dois anos, 20 milhões de postos de trabalho serão perdidos", disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavía, em um encontro com jornalistas.
Segundo as contas de Somavía, o número de desempregados aumentará de 190 milhões em 2007 para 210 milhões no final de 2009.
"E achamos que este cálculo ainda pode estar subestimado, pois não sabemos como a crise evoluirá, se o crescimento freará ainda mais do que o temido ou se a recessão será mais longa", advertiu.
Somavía defendeu o retorno do sistema financeiro a seu trabalho fundamental de emprestar dinheiro e financiar empresas, "ao contrário dos últimos anos de lucro irresponsável e egoísta".
"O sistema financeiro tem que voltar a sua função fundamental, que é o empréstimo, tornar possível o financiamento das empresas, que criam emprego", assinalou.
"A legitimidade do sistema bancário é estar a serviço da economia real e não dos jogos financeiros, este é o princípio simples e aceito pela sociedade", ressaltou.
"Se temos enormes recursos para resgatar o sistema financeiro, não podemos dizer que esses recursos não existem para salvar as pessoas comuns, que são quem vai sofrer os danos da crise", declarou.
"Não podemos falar da crise financeira só em termos financeiros, e achamos que este tipo de enfoque tem que estar presente na cúpula anunciada pelos presidentes (da França, Nicolas) Sarkozy e (dos Estados Unidos, George W.) Bush", insistiu.
Por isso, a OIT preconiza três atuações prioritárias. A primeira é "sair da paralisia de créditos". "Esperamos que quem toma essa decisão o faça", segundo Somavía.
As duas outras ações prioritárias são "se concentrar na proteção social do trabalho, nos seguros-desemprego, em todos esses aspectos, especialmente para os mais vulneráveis da sociedade; e cuidar das empresas que produzem mais trabalhos no mundo, que costumam ser as pequenas empresas".
O diretor-executivo da OIT destacou que não se deve cair no erro de pensar que "se alguém sai da crise é porque ela acabou. Não é assim. Antes da crise, havia uma crise, que era a continuação da pobreza em massa no mundo".
Nesse sentido, o Banco Mundial fez um novo cálculo, o de que haverá 400 milhões a mais de pobres no mundo, frente aos 100 milhões a mais que tinham sido calculados.
"Os trabalhadores pobres que viviam com menos de US$ 1 por dia, ou seja, os pobres entre os pobres, aumentarão 40 milhões entre 2008 e 2009, de 480 milhões para 520 milhões; e quanto aos trabalhadores pobres que viviam com menos de US$ 2 por dia, aumentarão em 100 milhões, para 1,4 bilhão de pessoas", destacou Somavía.
Embora a OIT ainda não tenha atualizado as previsões de desemprego por regiões no mundo, Somavía disse que, por setores, os mais afetados serão a construção, os serviços financeiros, o turismo, os automóveis e os serviços em geral.
"Será a primeira vez na história que se superará 200 milhões de desempregados, e isso após dois anos de forte crescimento, mas que não se traduziu em uma geração similar de postos de trabalho", disse.
O diretor-executivo da OIT considerou que um dos erros que conduziu à atual crise é que "o lucro do sistema financeiro era muito maior que o da economia real".
Como exemplo, Somavía disse que se em 1998 só 5% dos lucros das empresas americanas vieram do setor financeiro, essa proporção foi de 41% em 2007.
"O sistema se desequilibrou totalmente. É preciso conseguir um equilíbrio, entre o econômico, o social e o ambiental; necessitamos de um novo marco multilateral para governar a globalização", afirmou.
"Os efeitos sociais da crise não serão sentidos apenas pelos mais vulneráveis, esses 2 bilhões de pobres entre os pobres, mas também pela classe média. Não se trata de uma crise em Wall Street, mas em todas as ruas, e por isso precisamos de um plano de resgate para as famílias e a economia real, com regras e políticas que criem trabalho digno", disse Somavía.
Fonte:
EFE