O CHOQUE DO BEM

Depois de anos de choques externos negativos, o País colhe os frutos de uma rara conjugação de fatores internacionais favoráveis.

Segundo o Estado de São Paulo (domingo 11/01/2004 “O choque do bem”) a economia brasileira está sendo brindada com um dos maiores choques positivos externos da história. Uma conjunção de fatores internacionais positivos põe o Brasil numa situação extremamente favorável, depois de ter passado por anos a fio de choques negativos vindos do exterior.
“A economia brasileira vem experimentando o maior choque externo com efeitos positivos que a nossa memória alcança”, escreveu o economista Affonso Celso Pastore em um relatório concluído sexta-feira.

Em entrevista ao Estado, ele acrescentou: “É a primeira vez desde 1992, quando o mercado internacional se reabriu, depois de digerir a crise da dívida externa dos anos 80, que ocorre um choque positivo forte e grande”.
No relatório, feito pela A.C Pastore & Associados, o economista lista os componentes do atual choque positivo:
as menores taxas de juros americanas em 4 décadas;
a conseqüente retomada do fluxo de capitais para os emergentes;
o forte crescimento nos Estados Unidos;
a baixa inflação americana;
recuperação mundial, com destaque para China e Argentina (grandes importadores do Brasil);
alta dos preços das commodities exportadas pelo Brasil.

A conjunção destes fatores beneficia o Brasil basicamente por meio de dois canais. Por um lado, o abundante fluxo de capitais derruba o risco Brasil e leva à valorização do real (que reduz a dívida pública em dólar ou dolarizada, e segura a inflação). Do outro, o crescimento mundial, e a conseqüente alta das commodities, estão impulsionando o superávit comercial, mesmo com o real mais valorizado.

A grande questão é saber até quando a boa maré internacional vai durar, e o que o Brasil deve fazer para melhor aproveitá-la. Pastore observa que um risco é achar que toda a melhora atual no Brasil se deva a fatores internos, mesmo que seja inegável que a política econômica do governo Lula está criando as bases para que o Brasil desfrute do bom momento externo. “Se você puser num gráfico a bolsa do Brasil e dos Estados Unidos, elas estão caminhando absolutamente juntas; se pegar 15 mercados emergentes, todos estão crescendo”, ele adverte.

Mas é importante também, para Pastore, que o governo aproveite o momento internacional excepcionalmente bom para reforçar os fundamentos econômicos do Brasil.

Fonte: Estado de São Paulo 11/1/2004 Fernando Dantas
Colaboração J.Farid