O Brasil patina
09/01/2009
O discurso da equipe econômica é que o Brasil tem feito o dever de casa. Obediente à cartilha, ampliou o superávit fiscal para 4,5% do PIB e fixou os juros em 16,25% para controlar a inflação.
Tudo certo, então? Nem tanto. Na última semana, três pesquisas distintas chegaram à mesma conclusão: o Brasil é cada vez menos atrativo para os investidores.
O motivo? Juros altos, carga tributária pesada e uma dívida pública que continua crescendo, apesar do superávit. Ou seja: para os empresários da economia real, o que está errado é justamente aquilo que, em Brasília, se diz estar certo. Numa das pesquisas, feita pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil recuou três posições. Era o 54º e caiu para o 57º posto. Ficou atrás de Botsuana e El Salvador.
Em outra, realizada pela Federação das Indústrias de São Paulo, o Brasil foi classificado como o 390 mais competitivo numa relação de 43 países. O terceiro, um estudo da consultoria AT Kearney, indicou o País como o 17o mais apto a receber investimentos entre 25 países – tombo de oito posições em um ano. “É decepcionante”, disse o economista Paulo Leme, diretor de pesquisas em Nova York do banco Goldman Sachs. “Isso mostra que estabilidade macroeconômica não é suficiente para gerar crescimento e atrair investimentos.”
Ainda que a metodologia das pesquisas possa ser questionada, elas evidenciam uma tendência ruim. Em 2000, o Brasil atraiu US$ 33,1 bilhões em investimentos externos. Neste ano, a estimativa é de US$ 15 bilhões. Excluído o efeito contábil da venda de ações da Ambev, o valor real se aproxima de US$ 10 bilhões.
Significa que empresas que poderiam estar instalando fábricas no País preferem outros destinos, especialmente a Ásia. “Esses estudos indicam que estamos fazendo a lição de casa errada, que atende apenas ao setor financeiro”, diz o economista Antônio Correia de Lacerda, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais. Um exemplo disso é a política monetária. Entre os 104 países pesquisados pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou na 101a posição.
É uma situação tão bizarra que o próprio banqueiro Stanley Fischer, ex-diretor geral do FMI, disse em Washington, no último encontro do Fundo, que a questão dos juros no Brasil é para ele “um mistério”.
Na pesquisa da Fiesp, o País aparece mal na foto em muitos outros campos. Em 2002, por exemplo, enquanto a carga tributária do País era de 34,4% do PIB, na China era de 15%, no México de 16,5% e na Argentina, de 20,9% – depois disso a nossa já subiu para 38% do PIB. É um Estado pesado que suga os recursos e sufoca o consumo do setor privado.
O Brasil também gastou menos com saúde e educação e tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do rol pesquisado. O nível de escolaridade, medido pela média de anos freqüentados na escola, é um do piores: 4,9 anos. “No Brasil, recursos que seriam gastos com educação e saúde são usados para pagar o serviço da dívida”, diz o coordenador da pesquisa da Fiesp, Renato Corona. No ano passado foram nada menos que R$ 145 bilhões, 10% do PIB. “Isso prova que as reclamações dos empresários não são choradeira”, disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. “Nossos concorrentes vivem outra realidade, mais propícia ao crescimento”. Difícil discordar.
Istoè Dinheiro