Nordeste atrai onda de investidores
09/01/2009
Vários fatores têm alavancado a onda de investimentos em setores industriais, de comércio e serviços, no agronegócios e em turismo na região Nordeste. Posição geográfica, disponibilidade de recursos naturais e de mão-de-obra, incentivos fiscais, além de infra-estrutura. A região tem um mercado potencial de 50 milhões de consumidores e um Produto Interno Bruto (PIB) em torno de US$ 110 bilhões.
Levantamento da consultoria Datamétrica apontou que os principais investimentos privados chegam a US$ 6,2 bilhões. “O Nordeste é como um país em franco crescimento que o próprio Brasil desconhece”, diz Wadi Mansour, presidente da Maje, que transferiu sua fábrica de São Paulo para Pernambuco. Investiu nisso US$ 10 milhões. Esse é um dos exemplos de empresas que escolheram o Nordeste para investir.
A integração econômica entre os vários Estados da região também é mencionado como atração. “Antes havia a percepção de que os mercados do Nordeste atuavam de forma isolada. Hoje, esta percepção mudou”, afirma o economista e diretor da Datamétrica, Alexandre Rands. Segundo ele, a reacomodação de preços relativos no país nos últimos anos redefiniu as vantagens comparativas regionais. É o caso do setor turístico.
Os investimentos têm carreado principalmente para os Estados da Bahia, Pernambuco e Ceará. Mas outros, antes com menos destaque, como Paraíba, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte, tornaram-se rota de novos projetos. Na Bahia, os anúncios feitos este ano beiram R$ 9 bilhões, mais que o dobro dos R$ 3,7 bilhões de 2003.
Há poucos dias, a fabricante de pneus Bridgestone Firestone anunciou investimento de R$ 784 milhões em uma fábrica em Camaçari, em duas etapas. A produção será destinada a atender à crescente demanda interna e também ao mercado de exportação (30%). “O que nos atraiu foram as boas condições de infra-estrutura e logística”, disse Eugênio Deliberato, presidente da subsidiária brasileira.
No primeiro semestre, a alemã Continental decidiu montar sua primeira unidade no Brasil também na Bahia. A Pirelli Pneus já tem fábrica em Feira de Santana.
Outra vantagem mencionada é que investimentos em infra-estrutura melhoraram o uso de modais rodoviários e portuários em quase todos os Estados – hoje dispõe-se de bons portos e a custos competitivos como Suape (PE), Pecém (CE), de Itaqui (MA), além do de Salvador. Ainda há gargalos nas ferrovias, como CFN e FCA. Segundo Rands, os custos regionais de exportação ficaram menos onerosos que no Sul e Sudeste. A mão-de-obra é outro fator. Nas regiões mencionados, em muitos casos tem custo cerca de 30% superior que no Nordeste.
O Maranhão vem atraindo projetos devido dispor estrutura portuária favorável à exportação e espaço para transformar recursos naturais, como minério de ferro do vizinho Pará. A Vale do Rio Doce estuda projetos de usinas siderúrgicas de grande porte com a chinesa Baosteel e com a coreana Posco.
Um executivo da área de logística de uma das maiores empresas do setor diz que outro fator de atração está no potencial do mercado regional. Segundo ele, conquistar um ponto de participação no mercado do Nordeste custa muito menos que disputar a mesma fatia no Centro-Sul.
Carlos Magno, outro diretor da Datamétrica, consultoria especializada na região, diz que se observa grande interesse de empresas de médio porte, muitas já com projetos para 2005. Nos grandes investimentos, comenta, o que também atrai os investidores são as linhas de crédito de longo prazo disponíveis em instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Em muitos casos, o próprio banco torna-se sócio o empreendimento.”
Os incentivos fiscais e a mão-de-obra barata pesam bastante nas decisões, sobretudo nos setores que demandam uso intensivo de pessoal. Um dos exemplos é a atividade calçadista, que na região, começou a se estruturar nos últimos dez anos. Estados como Ceará e Bahia receberam investimentos superiores a R$ 1,2 bilhão e R$ 642 milhões, respectivamente.
Um dos resultados foi a ampliação da pauta de exportações do Ceará. Em todo o ano de 2003, os embarques externos chegaram a US$ 761 milhões, 25% vinculados ao setor calçadista.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Esportes de Pernambuco, Alexandre Valença, avalia que as vantagens comparativas são hoje os diferenciais buscados pelos Estados para atrair os investidores. “Os Estados estão fazendo sua lição de casa ao investir em infra-estrutura, uma vez que o empresário avalia o melhor custo-benefício que cada um deles oferece, pois os incentivos fiscais são equivalentes.”
Como fator diferencial, Valença menciona os chamados eixos produtivos integrados. Um exemplo é o setor de bebidas local, que congrega envasadores e fabricantes de embalagens e insumos como garrafas, rótulos e latas no mesmo pólo. Já são 142 indústrias. O pólo é considerado o maior da região.
Valor Online
20/12/2004