No ano, mais de 20 empresas brasileiras já tiveram nota rebaixada
12/03/2015
Em pouco mais de dois meses, mais de 20 empresas brasileiras já tiveram as suas notas de crédito rebaixadas pelas agências de classificação de risco. Levantamento feito pelo G1 identificou 24 companhias e coligadas que tiveram o chamado 'rating' cortado pelas três grandes agências – Fitch, Moody's ou Standard & Poor's (S&P) –, incluindo Petrobras e Vale.
A avaliação de risco é um sistema de nota utilizado para alertar os investidores de todo o mundo sobre os perigos do mercado ou da empresa que eles escolhem para aplicar seu dinheiro. Entenda como funciona
Os rebaixamentos deste começo de ano no Brasil refletem diretamente o conturbado momento econômico e político do país, no qual o governo federal também se esforça para não perder o chamado grau de investimento – o patamar mínimo nas escalas das agências para que os títulos da dívida pública possam ser considerados um bom investimento, com baixo risco de calote.
Na Moody´s, os 10 rebaixamentos deste começo de ano já igualam a marca de todas as ações de rating envolvendo empresas brasileiras em 2014, quando foram registrados 10 rebaixamentos e uma elevação de nota. Além disso, das mais de 50 empresas brasileiras avaliadas pela agência 12 estão atualmente com a perspectiva da nota negativa, o que significa que outros cortes de rating poderão ocorrer nos próximos meses.
Na Fitch, 14 empresas brasileiras tiveram a nota nacional ou internacional rebaixada neste ano. Em 2014, 18 ratings de companhias brasileiras tiveram a nota global cortada. Em 2015, em pouco mais de 2 meses, a agência já cortou 5 notas globais e 13 nacionais, incluindo a da Petrobras, e não elevou nenhuma.
As construtoras representam a maioria das empresas rebaixadas. Muitas delas estão no centro das investigações da Lava Jato, e tiveram suas operações afetadas, diante das dificuldades de caixa e preocupações com o impacto do escândalo de corrupção da Petrobras.
A lista de rebaixadas inclui também empresas de construção civil, como a PDG, a siderúrgica Usiminas, a Brasil Pharma, a Unimed-Rio, e o grupo Virgolino de Oliveira, de usinas de etanol. (Confira no final desta reportagem a lista das empresas brasileiras rebaixadas)
Segundo as agência classificadoras de risco, o maior número de rebaixamentos em 2015 está relacionado à deterioração do ambiente de negócios e dos fundamentos econômicos.
“Não é algo pontual, específico de um setor só. O ambiente é negativo e pode piorar", disse ao G1 Ricardo Carvalho, diretor sênior de empresas da Fitch Ratings. “A combinação de geração de caixa mais baixa, crédito mais restrito e alavancagem subindo é o cenário perfeito para que o Brasil tenha um volume elevado de downgrades em 2015”, acrescenta.
Para Marianna Waltz, diretora-gerente do Grupo de Finanças Corporativas da Moody’s, os impactos da Lava Jato no setor de construção civil e na cadeia de óleo e gás apenas adicionaram um ingrediente a mais no ambiente econômico. "Já esperávamos um ano mais fraco, com o mercado doméstico mais desacelerado e as empresas exportadoras com resultados pressionados pelo preço mais baixo das commodities", afirma.
Maior dificuldade de liquidez e de captação
Os rebaixamentos deste começo de ano refletem também a maior dificuldade das empresas brasileiras levantar recursos no exterior. Em 2015, até o momento, nenhuma companhia emitiu títulos da dívida fora do país.
"Há um movimento ainda grande de aversão a risco, principalmente com relação ao Brasil. Então, boa parte dessas ações de rating reflete a percepção de risco de liquidez e de que essas empresas possam ficar com acesso mais restrito aos mercados", afirma a diretora da Moody’s.
Na prática, quem buscar uma captação no exterior terá de pagar juros mais altos, em razão da maior avaliação de risco. Para complicar, o crédito no mercado doméstico em se mostrado mais restritivo, com prazos mais curtos e custos mais elevados.
"O mercado hoje está praticamente fechado para a maioria das companhias. As que poderiam acessar estão optando por não fazer dado o mau humor em relação ao Brasil, o que exige um prêmio de risco muito alto para emissões brasileiras no mercado de bônus", diz Ricardo Carvalho, da Fitch. "Para algumas empresas, o mercado ficou altamente restritivo porque o risco de crédito é acima que o investidor deseja hoje comprar para Brasil", acrescenta.
Efeito câmbio
A desvalorização do real frente ao dólar também tem efeito direto sobre a dívida em moeda estrangeira, o que pressiona o caixa das companhias, sobretudo daquelas que não são exportadoras.
"Para as empresas exportadoras, o dólar mais alto até mitiga o preço baixo das commodities. Mas as empresas que têm parte dos seus custos relacionados a importações, como as do setor de telecom, acabam tendo suas margens pressionadas", diz Marianna Waltz.
"As exportadoras podem se beneficiar um pouco mais, mas está difícil encontrar alguma variável positiva que permita falar que um setor tende a performar melhor do que os outros", concorda Carvalho.
Efeitos da crise da Petrobras
A Moody's foi a primeira das três grandes agências de classificação risco a tirar o grau de investimento da Petrobras – uma espécie de selo de qualidade de aplicações consideradas seguras para os investidores. Nas agências Fitch e Standard & Poor's, o rating da petroleira segue no degrau mais baixo do grau de investimento.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (9), a Moody’s avaliou que a crise da Petrobras e as investigações da Lava Jato devem afetar negativamente partes dos setores público e privado.
"Os problemas da Petrobras deverão afetar negativamente a cadeia de produção de petróleo e gás no Brasil, os setores de construção e infraestrutura, assim como o setor imobiliário no Estado do Rio de Janeiro e as empresas que dão suporte a estes setores", destacou o documento.
Para a agência, no entanto, o apoio do governo para a estatal "provavelmente ajudará a conter outros cortes de nota. "A Petrobras desempenha um papel central nos projetos de investimento de longo prazo no Brasil. Uma deterioração significativa na sua qualiade de crédito colocaria o setor bancário brasileiro, mercados domésticos de capitais e a economia como um todo em risco”, diz o relatório.
Já a Fitch entende que a atual nota da Petrobras, dentro do grau de investimento, suporta inclusive a necessidade de eventual aporte do governo. "Trata-se de uma empresa controlada pelo governo, altamente estratégica, não só para o governo como para economia de uma forma geral, o quem nos leva a acreditar que um suporte do governo em caso de necessidade ocorreria dentro do timing", avalia Carvalho, destacando que o principal desafio para a petroleira manter o seu rating é conseguir publicar um balanço auditado.
Nota do Brasil
Com relação à nota de crédito soberano do Brasil, a diretora da Moody´s disse ao G1 que uma nova avaliação e eventual revisão do rating dificilmente ocorrerá em 2015.
Em setembro de 2014, a agência revisou a perspectiva da nota do país, de estável para negativa, citando "o contínuo baixo crescimento", a piora das contas públicas e o risco de queda do nível de investimento no país.
O Brasil segue com grau de investimento na classificação das 3 principais agências e o governo Dilma Roussef tem defendido a aprovação das medidas do ajuste fiscal para manter o selo de local seguro para investidores e, com isso, garantir a atração de investimentos internacionais ao país.
"O que será observado nos próximos meses é exatamente a capacidade e eficiência da equipe econômica em conseguir aprovar estes ajustes, e o que medidas anunciadas vão significar em termos de tendência de crescimento e de contas fiscais para 2016 e 2017", afirma Marianna Waltz.
REBAIXADAS PELA MOODY'S
Confira as 10 empresas que tiveram a nota revisada e o rating atual:
– Agropecuária Nossa Senhora do Carmo S.A. (C)
– Brasil Pharma S.A. (B3)
– Construtora Andrade Gutierrez S.A. (Ba2)
– Mega Energia Locacao e Admin. de Bens S.A. (C)
– Mendes Junior Trading e Engenharia S.A. (Ca)
– Mills Estruturas e Servicos de Engenharia (Ba3)
– OAS S.A. (C)
– PDG Realty S.A. Empreend. e Participacoes (B3)
– Petrobras (Ba2)
– Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. (Ba3)
Outras 5 empresas tiveram a perspectiva da nota revisada para baixo:
– Magnesita Refratarios S.A.(de positiva para estável)
– Construtora Norberto Odebrecht (de estável para negativa)
– Paranapanema S.A. (de estável para negativa)
– Vale (de positiva para estável)
– Votorantim Participacoes S.A. (de positiva para estável)
REBAIXADAS PELA FITCH
Confira as 14 empresas e coligadas que tiveram a nota revisada e o rating atual:
– João Fortes Engenharia (BB-)
– Petrobras (BBB-)
– Unimed-Rio (BBB)
– Unimed-Rio Participações(BBB)
– Viver (CC)
– Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário S.A (BBB+)
– Galvão Engenharia S.A. (BB+)
– Galvão Participações S.A. (BB+)
– Construtora Queiroz Galvão (A)
– Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A (CC)
– Virgolino de Oliveira S/A Açúcar e Álcool (RD)
– OAS S.A (RD, penúltima nota da escala)*
– Construtora OAS (RD)*
– OAS Empreendimentos (RD)*
* Ratings das empresas do grupo OAS foram rebaixados 2 vezes neste ano
REBAIXADAS PELA S&P
Procurada pelo G1, a S&P não divulgou a relação completa de empresas brasileiras rebaixadas no ano.
Entre as companhias que tiveram o rating rebaixado neste ano, estão a Vale, cuja nota foi revisada de "A-" para "BBB+" e a construtora OAS, cuja nota caiu de "B+" para "CC".
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