Nestlé fará do Brasil pólo de exportação

09/01/2009

A Nestlé, que em 2004 respondeu por 55% das vendas externas de lácteos brasileiras, fará do Brasil seu pólo de exportação desses produtos na América Latina, segundo o presidente da companhia no país, Ivan Zurita. A maior competitividade da produção de leite no país em relação aos concorrentes e o potencial de expansão da atividade no Brasil explicam a aposta da Nestlé, que exporta leite em pó e leite condensado.

Em 2004, o Brasil embarcou o equivalente a 250 milhões de litros em produtos lácteos, para países da África e América Latina, entre outros. Para este ano, a perspectiva é exportar também para o México, que acaba de fechar acordo sanitário com o governo brasileiro. O novo mercado estimulará investimentos por parte da Nestlé no Brasil. “Nosso mapa de exportação prevê uma fábrica só para atender o México”, disse Zurita, que participou, na quinta-feira, do debate “Brasil, maior exportador de lácteos do mundo?”, na Expomilk, em São Paulo.

Ele ponderou, porém, que a decisão sobre a nova fábrica dependerá de aspectos técnicos do acordo que estão sendo tratados entre Brasil e México. A exportação dos lácteos, como leite em pó, deverá ser feita da Nestlé do Brasil para a Nestlé do México. Segundo Zurita, hoje o país importa 100 mil toneladas de leite em pó por ano de EUA e Nova Zelândia.

O executivo descartou uma suposta resistência por parte da Nestlé mexicana à importação dos lácteos brasileiros, conforme foi relatado por Vicente Nogueira, da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios, durante o debate. Nogueira participou, com governo e iniciativa privada, das negociações para abertura daquele mercado. Segundo Zurita, o México tem um déficit de 3 bilhões de litros de leite – produz 10 bilhões de litros e consome 13 bilhões – portanto precisa recorrer às importações. “O México vai ser um grande comprador do Brasil”, previu Zurita, que presidiu a Nestlé mexicana por cinco anos.

Além da fábrica para atender o México, a Nestlé também anunciará na próxima semana uma nova unidade no Nordeste. Lá a empresa produzirá lácteos, cereais e outros produtos. Conforme Zurita, a Nestlé também está “prospectando” as regiões Sul e Norte para implantar novas indústrias. Hoje a companhia tem 26 unidades no Brasil. “A cada 3% de crescimento, temos de fazer uma nova fábrica”, disse Zurita, que estimou um aumento de 8% no faturamento do grupo este ano, para R$ 11 bilhões. Maior captadora de leite no país – através da DPA, parceria com neozelandeza Fonterra -, a Nestlé adquiriu 1,9 bilhão de litros do produto no ano passado e deve captar 13,5% mais em 2005.

A maior competitividade brasileira nas exportações de lácteos já levou a Nestlé a fechar unidades em outros países, pois é mais vantajoso exportar a partir do Brasil. O presidente da Nestlé no Brasil citou o caso de Angola, mas não indicou outros países em que isso ocorreu.

Para Zurita, o Brasil está “condenado” a ser o maior produtor de leite do mundo e também grande exportador porque tem vantagens em relação a outros países, como a Nova Zelândia, que é competitiva mas não tem grande capacidade de expansão, ou a União Européia, que tem custos altos e enfrenta redução nos subsídios. “O crescimento no Brasil é de 4% em média nos últimos 10 anos, o que já nos coloca como grande exportador”. Em 2004, o país produziu 23,5 bilhões de litros de leite.

O deputado federal Xico Graziano (PSDB), ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, ponderou no debate, no entanto, que o caminho do Brasil para se tornar o maior exportador mundial ainda é longo. Enquanto a Nova Zelândia exporta 76% de sua produção de 11,3 bilhões de litros, o Brasil embarcou apenas 1,1% de sua produção de 23,5 bilhões de litros em 2004, informou.

E esse caminho implica enfrentar os subsídios europeus e alcançar mercados como a China. No país asiático, o consumo de leite cresce 26% ao ano – o que significa 60 mil toneladas adicionais de leite em pó – , e o volume per capita é de apenas 29 litros por habitante/ano, bem abaixo dos 129 litros do Brasil, segundo Zurita. A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo de 180 litros.

Diante desses números, Zurita vê grande potencial de consumo na China, que não tem área para expandir sua produção de leite. Mas Graziano, que defendeu a negociação de acordos bilaterais para ampliar as vendas externas de lácteos, avalia que a China não resolverá o problema dos excedentes de oferta no Brasil, que derruba os preços do leite ao produtor. “Precisamos de uma política de incentivo do consumo de leite também no mercado doméstico”.

Fonte:
Valor Economico
Alda do Amaral Rocha
29/7/2005