Montadoras terão forte retração

05/12/2014

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC

As montadoras caminham para ter o pior resultado de vendas no mercado nacional dos últimos quatro anos. Isso porque, pelo ritmo esperado pelas fabricantes para este mês, na melhor das hipóteses, o setor fechará 2014 com 3,46 milhões de unidades vendidas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, 8% abaixo dos números de 2013. O resultado ficaria acima apenas dos números de emplacamentos de 2009, quando foram licenciados 3,14 milhões de veículos.

O cálculo toma como base a expectativa de média diária de 15 mil unidades em dezembro, que ficaria bem acima do registrado até outubro (em torno de 13 mil por dia) e também mais do que no mês passado. “Em novembro, ultrapassamos com folga as 14 mil unidades diárias, que foram, mais precisamente 14.734. O desafio é a meta de 15 mil unidades”, destaca o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan.

Essa projeção leva em conta alguns fatores favoráveis para o segmento, entre os quais a nova legislação, que entrou em vigor há poucos dias e que prevê agilizar a retomada do veículo financiado do consumidor inadimplente. Segundo Moan, a expectativa é que, com a nova regra, os bancos passem a oferecer mais crédito e a ficar menos seletivos na aprovação dos financiamentos. “A norma premia quem é adimplente (ou seja, quem paga as contas em dia)”, cita. O dirigente acrescenta que, mesmo com a elevação dos juros básicos da economia (a Selic), pelo Banco Central, a nova lei pode ajudar a contrabalançar isso, e fazer com que as taxas ao consumidor final fiquem estáveis.

A seletividade do crédito por parte dos bancos foi um dos obstáculos para as vendas do segmento neste ano, avalia o presidente da Anfavea. Ainda segundo o dirigente, o ano foi difícil também por causa do excesso de feriados e poucos dias úteis, principalmente no metade inicial de 2014. Até agora (de janeiro a novembro), o setor totaliza 3,13 milhões de unidades comercializadas, 8,4% menos em relação ao mesmo período de 2013.

PREÇOS – Outro fator favorável para as vendas em dezembro é a retirada, a partir de janeiro, do incentivo do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido para os carros zero. A Anfavea trabalha com a expectativa de que o governo não deve alterar o decreto que retoma o patamar normal do tributo no início de 2015. No caso dos populares (com motor 1.0) a alíquota deve subir de 3% para 7%. De acordo a entidade, os automóveis devem começar 2015 com preços quase 4,5% mais altos que neste ano. Pode ser um estímulo para que os consumidores interessados em trocar de carro efetivem negócios antes da virada de 2014.

PATAMAR – Moan estima ainda que, se mantido o ritmo de vendas do segundo semestre, há a perspectiva de que 2015 seja ligeiramente melhor que em 2014. De julho a novembro, o setor registrou a média de 293 mil licenciamentos por mês, o que é 5,7% superior à média mensal do primeiro semestre.

Indústria fecha 9.406 vagas em 12 meses

O setor automobilístico nacional voltou a apresentar redução no nível de emprego em novembro. Foram fechadas cerca de 500 vagas no mês passado e, na comparação com novembro de 2013, as montadoras, que contam com 127,4 mil trabalhadores, estão com 9.406 postos de trabalho a menos, retração de 7,9% em 12 meses. É o pior nível desde maio de 2012, quando as fabricantes assumiram o compromisso com o governo federal de manutenção de emprego em contrapartida à redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O presidente da Anfavea, Luiz Moan, cita que o compromisso não inclui a possibilidade de saída do trabalhador por meio de PDVs (Programas de Demissão Voluntária), por pedidos de demissão dos funcionários, pelo fim de contratos temporários, por acordo com sindicatos e por aposentadorias.

Moan destaca ainda que as montadoras seguem com nível inadequado de estoques e, por isso, continuam atuando em duas frentes: promoções para tentar ampliar as vendas e, ao mesmo tempo, medidas de ajuste na produção, como lay-off, licença remunerada, abertura de PDVs e férias coletivas.

Os pátios seguem cheios, apesar da queda significativa de 9,7% na produção mensal do setor. As empresas do setor fabricaram 264,8 mil unidades em novembro, cerca de 30 mil a menos que no mês anterior. Mesmo com o ritmo menor de atividade, o número de carros parados nas empresas do segmento cresceu. Em outubro, as 413,4 mil unidades em estoque correspondiam a 40 dias (tempo necessário para a comercialização desse volume pelo ritmo do mercado). Já em novembro, foram 414,3 mil, que representavam 42 dias.

Incertezas em relação ao crédito do BNDES afeta área de caminhões

Para os fabricantes de caminhões e ônibus, as incertezas em relação às propostas do programa PSI-Finame do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para 2015 são obstáculo para o planejamento de vendas do ano que vem. Essa linha de crédito oferece condições especiais para a compra desses veículos, atualmente, com juros anuais de 6%, ou seja, abaixo da inflação, que, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no ano até outubro está em 6,59%.

A expectativa é que a taxa subirá, mas a preocupação é de que haja definição rápida dos novos juros e também de prazos financiáveis, por exemplo, para que não ocorra como foi em 2014, em que não foi possível fechar contratos de Finame em janeiro, porque a operacionalização das regras deste ano só ocorreu dia 24 daquele mês.

RENOVAÇÃO – O vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Gomes de Moraes, considera que deve sair do papel, finalmente, ainda neste mês, o programa de Renovação da Frota de Veículos, que está sendo discutido com o governo federal pela associação, junto com outras entidades ligadas ao setor.

A ideia é oferecer estímulo (crédito tributário) ao dono de caminhão com mais de 30 anos, para que ele troque de veículo por outro mais novo. Moraes destaca que o projeto, além da venda, envolve a reciclagem veicular, com a destinação dos caminhões velhos como sucata, e tem como alvo também a redução de acidentes nas estradas e a retirada de veículos altamente poluentes de circulação.  

 

Fonte:
diario do grande abc