Montadoras se preparam para concorrência dos chineses

09/01/2009

Montadoras brasileiras têm entre três e cinco anos para se prepararem para a guerra. Esse é o prazo que consultores dão para que carros chineses comecem a entrar no País em volumes significativos. A presença da empresa Chana Automobile no Salão do Automóvel em outubro e o acerto que a Chery está fazendo com um distribuidor brasileiro para importar o compacto QQ são apenas balão de ensaio.

A invasão chinesa já não é ameaça, mas realidade, constata José Eugênio Pinheiro, vice-presidente de manufatura da General Motors para América Latina, África e Oriente Médio. Quem não estiver preparado, com carros de qualidade, fábrica eficiente e custos competitivos tombará no caminho.

O que ocorre com a Volkswagen, que quer demitir milhares de trabalhadores e ameaça fechar uma fábrica, pode ocorrer com outras montadoras. ?O caso Volks pode não ser isolado?, alerta Cláudio Galeazzi, sócio-fundador da Galeazzi & Associados, especializada em reestruturação de empresas.

No Brasil há 49 anos, a Volks afirma que precisa encolher de tamanho para resgatar sua competitividade. A marca perde mercado para concorrentes locais, como Fiat e GM. Não bastasse isso, a matriz alemã ameaça fechar uma fábrica, enquanto projeta investimentos na China, Índia e Leste Europeu.

?O que dá ao Brasil um pouco de tempo para se preparar é a péssima qualidade do carro chinês?, diz Galeazzi. Mas isso vai mudar. ?Não dou mais que dois anos para os chineses elevarem a qualidade de seus carros?, calcula Pinheiro. Em 2000, a China produziu 2 milhões de veículos. Em 2005, foram 5,7 milhões e este ano serão 6,4 milhões. O Brasil, em igual período, teve salto de 50% na produção, de 1,67 milhão de unidades para 2,52 milhões. Para este ano, prevê crescimento de apenas 4,5%.

O excedente da China irá para países onde o consumidor, limitado pela renda, compra carro barato. A minivan Chana, que será mostrada no Salão, terá preço perto de R$ 20 mil. Nessa mesma faixa deve chegar o Chery QQ em 2007. O modelo mais barato do Brasil, o Mille, no mercado há mais de 20 anos, custa R$ 21,6 mil. Para muitos consumidores, o que importa é o preço e a qualidade funcional. Mas há quem duvide da capacidade imediata de importação da China por causa do frete e da alíquota de importação, de 35%.

?A questão não é só importar, mas ter rede de distribuição e assistência técnica?, acrescenta Paulo Roberto Garbossa, da consultoria ADK. A GM já encontrou uma solução, mas no Chile. A própria marca iniciou a importação do Corsa feito na China, que pode substituir versões exportadas por Argentina e Brasil. Estratégia igual não está nos planos da GM brasileira, diz Pinheiro.

Na opinião de Garbossa, empresas chinesas não devem montar fábricas locais, pois teriam de operar com o ?custo Brasil?. Pinheiro discorda. ?Não demora muito e elas farão associações para produzir aqui, primeiro com peças da China.?

Entre as montadoras que se preparam para o enfrentamento, o consultor Corrado Capellano, da Roland Berger, cita a Fiat, que mantém uma só unidade no País e já passou por reestruturação. A fábrica em Betim (MG) teve 20 mil funcionários e hoje tem 9 mil. Boa parte das atividades foi terceirizada. Enquanto a Volks anuncia 1,8 mil demissões, a Fiat está contratando 300 pessoas.

Ford e GM construíram fábricas fora de São Paulo, onde o custo produtivo é menor. Um carro feito pela GM em Gravataí tem economia média de R$ 500 só em mão-de-obra, ante o fabricado em São Caetano do Sul.

Fonte:
A Tarde online