Ministro quer que Brasil volte a investir em energia nuclear

09/01/2009

Um kw nuclear emite 250 vezes menos gases poluentos que carvão, diz Resende

As conseqüências catastróficas do aquecimento global, previstas pelo relatório lançado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) na sexta-feira, trouxeram munição para dois grupos que historicamente atuam em campos opostos: ambientalistas e cientistas defensores da retomada da energia nuclear.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, é o mais ilustre defensor deste segundo grupo. Tão logo os resultados do painel foram divulgados, ele não hesitou em defender que o Brasil retome o modelo nuclear como uma das fontes de obtenção de energia. “Precisamos adotar modelos limpos. E a produção de 1 quilowatt nuclear emite 250 vezes menos gases poluentes do que carvão, 200 vezes menos do que óleo”, afirma. “O assunto precisa voltar à pauta”, diz em referência ao projeto da usina Angra 3.

O ministro não está sozinho nesta defesa. Em nome da redução da emissão na atmosfera de gases que provocam o efeito estufa, o planeta vive uma retomada do modelo nuclear, há tempos abandonado por vários países.

Hoje há no mundo projetos para construção ou reativação de 25 usinas, afirma Rezende. E outros 50 projetos estão em estudo. “O Brasil tem a sexta maior reserva de minério de urânio, já é um indício de que a adoção do modelo é uma das coisas mais inteligentes para se fazer”, defende. Para ele, mesmo o problema do destino dos rejeitos nucleares já tem solução. “Há formas de armazená-los sem riscos pelos próximos 100 anos.”

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, é radicalmente contra essa proposta. “Seria trocar um câncer pelo outro. Há risco de acidentes, não se sabe quais as conseqüências que tais depósitos terão, ao longo dos anos”, avalia.

Convicto de que a energia nuclear é uma das saídas para o aquecimento global, Rezende não se deixa abater. Observa que num país com as dimensões do Brasil, o importante é recorrer a várias matrizes energéticas. “Uma das regiões mais carentes de energia é o Sudeste. De que adianta construir uma hidrelétrica no Norte? No caminho da transmissão, necessariamente terá de haver um desmatamento. Sem falar que parte vai se perder no trajeto entre a usina e o ponto de chegada.”

Para o ministro, os resultados do relatório exigem medidas imediatas no País. Além do debate sobre modelos de produção de energia, ele afirma que o ministério já encomendou ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) relatórios sobre os trabalhos realizados na área de clima.

A partir desses dados, o ministério pretende formar uma rede de instituições para interligar pesquisas de diagnóstico do aquecimento global e que ofereçam formas de enfrentá-lo. Rezende espera que até a próxima semana o primeiro levantamento sobre os trabalhos brasileiros chegue às suas mãos.

“A partir dessa análise, vamos concentrar esforços, verificar quais trabalhos são prioritários”, afirma. Para financiar as linhas de pesquisa, Rezende pretende contar com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. São R$ 8 bilhões para os próximos quatro anos, R$ 1,4 bilhão para 2007. “Este montante terá de ser repartido para todas as linhas de pesquisa. Mas uma fatia certamente irá para o estudo e desenvolvimento de ações para enfrentar o aquecimento global.”

Transgênicos de 2ª geração
Entre as linhas de pesquisa que ele considera fundamental, estão os transgênicos de segunda geração, sementes desenvolvidas para suportar altas temperaturas e oferta restrita de água. Tais sementes são apontadas por alguns grupos como a grande saída para evitar perdas na agricultura, o que poderia provocar prejuízo e fome.

“É chegada a hora de as pessoas perderem o medo dos transgênicos. Há tempos eles estão aí, mas se criou uma idéia incorreta de que eles são inseguros.”

Assim como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Rezende avalia que o Brasil tem do que se orgulhar no que se refere a medidas para evitar o aquecimento. “Reduzimos o desmatamento, produzimos biocombustível, fomos atores importantes na discussão internacional que definiu a criação dos créditos de carbono”, afirma.

A política de créditos de carbono é uma espécie de compensação, em que países desenvolvidos depositam num fundo valores que podem ser usados por países subdesenvolvidos, para implantação e projetos de políticas de produção limpa.

Fonte:
Estadão.com.br
Lígia Formenti