Mercosul: acordo com UE está mais perto do que com ALCA
09/01/2009
SÃO PAULO, 10 (ANSA) – O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou que estaria disposto a trocar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) por um acordo bilateral com os Estados Unidos, e recordou que Washington já conta com este tipo de acordo com quase todos os paises americanos, menos com o Mercosul.
“Acredito que eles (os norte-americanos) pensam que podem obter mais concessões dos outros do que do Mercosul, que conta com o Brasil e a Argentina, estamos unidos”, disse o chanceler numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
Para ele, a ALCA “não é essencial” ao seu país, mas, o Brasil quer um acesso maior ao mercado norte-americano, “com ou sem a ALCA”.
Os Estados Unidos “pensa que, no contexto da ALCA, o que conseguiram dos outros atuará como uma pressão. Mas, com o Mercosul é mais difícil”, advertiu Amorim.
Segundo o chanceler, a ALCA continua na agenda do governo brasileiro, “mas, não pode ser a única prioridade ou obsessão do governo”.
“Nosso comércio com paises de desenvolvimento tem aumentado extraordinariamente, e já corresponde a 49% das exportações brasileiras.
Anos antes este comércio correspondia a 30%. E esse é um contexto de crescimento do comércio com os Estados Unidos e Europa”, relembrou Amorim.
“Não estamos falando de algo político, doutrinado ou ideológico. É uma coisa prática”, disse.
O chanceler brasileiro acredita que, na mudança, há a possibilidade de que, neste ano, o Mercosul firme tratados de livre comércio com a União Européia (UE), que não se desenvolveu em 2004, pela falta de acordos.
“Acredito que é possível avançar com a UE. Nos aproximamos muito nas negociações com a UE, diminuímos a distância. Com a ALCA isso não aconteceu”, explicou.
Amorim admite que o Brasil está limitado em suas negociações internacionais, pelo fato de ter que fazer estas negociações junto aos seus parceiros no Mercosul, mas, destaca que “isso sucede todo o processo associativo”.
“Você acredita que a Alemanha não tinha feito um acordo mais rápido com o Mercosul se não fosse pelos agricultores franceses?”, se pergunta Amorim.
“Mas esse não é um motivo para que (a Alemanha) abandone a UE”, continua.
E destaca que “no nosso caso (no caso do Brasil), não teria sentido (abandonar o Mercosul), nem do ponto de vista político, nem do ponto de vista ideológico. Nosso comércio com o Mercosul e com a América do Sul cresceu fortemente”.
O chanceler brasileiro resume finalmente as diretrizes da política exterior brasileira que, assegura, não querem confrontar a visão do mundo unipolar dos Estados Unidos, e sim construir um “mundo multipolar”.
“O que o presidente Lula da Silva quer é uma nova geografia comercial mais equilibrada, um Mercosul mais integrado, uma América do Sul mais integrada e as Nações Unidas reformuladas.
A iniciativa é boa. Falta apenas saber se haverá financiamento para rodar este filme”, concluiu o chanceler.
(ANSA)