Mercado paralelo é estimado em US$ 63 bi por ano no país

09/01/2009

Curitiba é o epicentro da maior investigação sobre doleiros já realizada no Brasil. A apuração é conduzida pela Força Tarefa CC5, um grupo de policiais federais e procuradores que se vale de um contêiner de documentos enviados por promotores dos Estados Unidos para tentar jogar luz num negócio que se caracteriza pelo sigilo entre as partes e pela ausência de documentos.

Curitiba abriga a central de investigações por causa das remessas ilegais para os EUA feitas pela agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná) de Foz do Iguaçu entre 1996 e 2002. A CPI do Banestado estimou que o banco tenha remetido cerca de R$ 150 bilhões nesse período. A agência usava contas CC5 (que deveria ser restrita a estrangeiros) para fazer as remessas para os EUA -daí o nome da força-tarefa.

Os réus em processos que tiveram origem na força-tarefa remeteram US$ 20 bilhões de 1996 a 2003.

Estima-se que o mercado paralelo de dólar movimente US$ 63 bilhões por ano no país. A Polícia Federal tem especial interesse nesse setor por ele girar dinheiro sem origem declarada, seja ele gerado por corrupção, tráfico de drogas ou caixa dois de empresas.

O IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) aponta que as empresas são atualmente os principais clientes dos doleiros. O comércio exterior explicaria por que empresas tornaram-se clientes preferenciais dos doleiros, segundo o IBPT. Para exportar ou importar produtos e pagar menos impostos, parte dos pagamentos é feita no exterior. Quem cuida de fazer essas remessas sem pagar impostos são os doleiros.

Foi em Curitiba que foi criada a segunda vara da Justiça Federal especializada em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro –a primeira é a de Porto Alegre.

O acúmulo de informações sobre esse mercado levou uma série de doleiros a participar do programa de delação premiada da Força Tarefa CC5.

O objetivo dos policiais e procuradores ao negociar a redução de pena em troca de informações é levar à prisão pessoas famosas, sejam elas empresários, artistas ou políticos.

Eles acreditam que a punição de famosos teria uma função “didática”: serviria para desestimular o recurso ao mercado paralelo.

Fonte:
Folha de S.Paulo