Massa salarial aumenta e estimula avanço do PIB
09/01/2009
Depois de três anos em queda, a massa salarial real deve crescer 5% em 2004, segundo estimativas do Credit Suisse First Boston (CSFB). Essa melhora do poder de compra dos trabalhadores deve ajudar a sustentar a recuperação da atividade econômica nos próximos meses.
Os analistas do CSFB não acreditam que essa expansão da massa real de salários, após vários anos de perdas, vai colocar mais lenha na fogueira da inflação. A mesma avaliação é compartilhada por outros analistas.
Para eles, se esse aumento moderado da renda provocar pressões inflacionárias significativas, o que vai se evidenciar é que o crescimento potencial do país é mais baixo do que se pensa. A questão, segundo alguns economistas, é que aumentos salariais acima da inflação são um fator a mais de preocupação para o Banco Central (BC), num momento em que há o risco de que a inflação não convirja para as metas.
A partir de maio, o mercado de trabalho começou a dar sinais mais expressivos de melhora, com a queda do desemprego e crescimento do rendimento real, um processo que deve continuar nos próximos meses. Nesse cenário, os analistas do CSFB sentem-se confortáveis em projetar queda da taxa de desemprego para a casa de um dígito – em julho, estava em 11,2% – e aumento da massa salarial real neste ano.
Eles ressalvam, porém, que não deverá haver “aumento muito expressivo no poder de compra da população, por conta da incorporação no mercado de trabalho de mão-de-obra em setores com salário médio mais baixo, como a construção civil”. Por isso, prevêem um crescimento de 5% da massa salarial real, um número modesto, especialmente se for levado em conta que o indicador recuou 3,4% em 2001, 1,7% em 2002 e 6,7% em 2003. Se ela realmente avançar 5% neste ano, ainda será necessária uma expansão de 10% para voltar ao nível médio de 2000.
A massa salarial real é calculada pela divisão da massa nominal pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A nominal, por sua vez, é obtida pela multiplicação do salário médio nominal pela população ocupada.
A queda do desemprego e a recuperação da renda já começam a estimular os setores de bens de consumo semi e não duráveis, como alimentos e vestuário. Daqui para a frente, esses segmentos devem crescer com mais força do que os ligados à exportação e os que dependem do crédito, afirma o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada.
No primeiro semestre, a produção de bens não duráveis cresceu só 2,1% em relação ao mesmo período de 2003, bem menos que os 25,2% da indústria de bens de capital e dos 23,9% da de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos. Nos próximos meses, os não duráveis é que devem registrar variações mais fortes, afirma Jensen.
O economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores, não acredita que o crescimento da massa salarial real este ano – que ele estima em 5,9% – vá criar pressões inflacionárias preocupantes. “A taxa de desemprego ainda está muito alta e os salários perderam poder de compra nos últimos anos”, afirma. Faria entende que a recuperação da renda real é um processo saudável e que vai ajudar a sustentar o crescimento nos próximos meses. Faria prevê uma expansão de 4,4% do PIB neste ano.
Para os analistas do CSFB, a continuidade da expansão da massa salarial real é um fator muito importante para garantir a sustentabilidade do crescimento. Segundo eles, se houver pressão inflacionária com um aumento de 5% do indicador, é sinal de que o crescimento potencial do país é baixo.
As avaliações dos analistas não são conclusivas quanto ao ritmo de expansão que o Brasil pode manter sem criar problemas inflacionários mais graves ou desequilíbrios no balanço de pagamentos, variando entre 2,5% e 4%. Se um aumento de 5% da massa salarial real provocar inflação, é um sinal de que o crescimento potencial está mais perto de 2,5% do que de 4%.
O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, é mais cauteloso. Embora afirme que, por si só, o crescimento da massa salarial não deve ter um impacto dramático sobre a inflação, é mais um fator a ser monitorado num ambiente em que os índices de preços estão pressionados. Mesquita diz que aumentos substanciais de salários não se transformam em elevações de preços quando há ganhos significativos de produtividade na economia, o que não parece ser o caso no momento.
“Esse não é o fator principal, mas é um ingrediente a mais num ambiente em que a inflação pode divergir da meta”, afirma ele. Para Mesquita, o resultado das negociações salariais no segundo semestre deve ser acompanhado com atenção, uma vez que aumentos muito acima da inflação podem provocar pressões inflacionárias mais significativas.
Valor Economico
Sergio Lamucci
9/9/2004