Marcas européias usam “Brasil” para vender biquíni

09/01/2009

A feira de moda praia e lingerie Lyon, Mode City, que termina hoje em Lyon (França), mostrou que o Brasil tem procurado adequar-se às exigências do mercado europeu, da mesma forma que as grifes européias têm utilizado o país como inspiração para seus produtos de verão.

Na feira de Lyon o Brasil não está presente apenas nas marcas nacionais. Empresas baseadas na França valem-se da tradição, e às vezes do know how brasileiro, para conquistar o cliente europeu. É o caso da Colors do Brasil, empresa aberta na França, mas que produz biquínis, cangas, bolsas de praia e outros acessórios no Rio de Janeiro. As peças mostram um estilo muito brasileiro, com bordado de fitinhas do Senhor do Bonfim.

“O Brasil tem uma moda praia única”, diz Juliete Viry, diretora comercial da Colors. “Essa coisa de ter, na mesma coleção o biquíni que combina com a canga e que combina com a bolsa, só tem no Brasil”, explica Juliete, que morou no Rio de Janeiro durante um ano. Foi no Rio que Juliete conheceu outra francesa apaixonada pelo Brasil, Amanda de Mantal, estilista e hoje sua sócia na grife.

A Colors do Brasil produz em oficinas cariocas e importa as peças para a França. Os biquínis da grife chegam ao consumidor custando entre ? 30 e ? 60. Juliete tambem é representante de 25 grifes brasileiras, na França, como Leny (de biquínis), Osklen e Costança Basto.

A produção da Colors, 25 mil peças por ano, em biquínis e acessórios, é vendida para lojas como Printemps e Galeries Lafayette.

A recém criada grife Batucada, do francês Löick Leblond, é outra que se vale do sucesso que a marca “Brasil” faz em outros continentes. Leblond, que trabalhava para a Parfum de France e morou dois anos no Brasil, decidiu criar uma grife que “traduzisse” tudo o que o empresário havia visto no Brasil. A modelagem das peças segue a brasileira, com calcinhas menores, e detalhes de sementes de urucum, casca de coco e sementes de guaraná.

Ainda assim, o tecido vem da Itália e a confecção das peças é feita em Portugal. “O tecido brasileiro é muito grosso porque tem de aguentar 356 dias de sol por ano”, diz Leblond. A mulher européia prefere tecidos mais finos e de secagem mais rápida. O empresário é também representante do designer brasileiro Marzio Fiorini, que faz jóias de borracha.

A grife Gaaz Bikinis, de São Paulo buscou a qualidade da impressão digital para se diferenciar das marcas brasileiras ou estrangeiras que tentam entrar ou já estão presentes na Europa. Feita pela Salete, empresa do grupo Rosset, a impressão digital permite maior definição da estampa e que a empresa trabalhe com estampas exclusivas.

“O processo é mais caro, mas vale a pena”, diz Geraldo Freitas, diretor financeiro da grife. Enquanto o quilo do tecido com estampa normal custa entre R$ 60 e 70, o quilo do estampado digitalmente pode chegar a R$ 300.

A estampa tradicional sobre o tecido de elastano requer uma quantidade mínima de 110 kg de tecido, o que daria para confeccionar 2 mil biquínis. Mas para uma confecção de pequeno porte não compensa ter tantos biquínis iguais, com a mesma estampa, explica Freitas, que abriu a Gaaz há três anos, pensando em exportar o produto. A empresa tem capacidade instalada para produzir 1500 biquínis por dia, mas ainda produz 60% disso.

Quase 80% da produção vai para o mercado externo, sobretudo Itália e Israel. A grife tem apenas duas lojas no Brasil, em Trancoso e Arraial D´Ajuda, na Bahia. Funcionam como um laboratório. “É lá que conhecemos o gosto da mulher européia e americana”, diz Freitas. A francesa , por exemplo, só troca de biquíni quando ele, literalmente, se desfaz. “Não existe essa cultura de comprar peças novas a cada verão.”

Para 2006 esta prevista a abertura de lojas em Saint Tropez (França) e Ibiza (Espanha). “O próximo passo é entrar no mercado americano”, informa o diretor da Gaaz. A meta é atingir um faturamento anual de US$ 1 milhão, até 2008.

Fonte:
Valor Economico
Vanessa Barone De Lyon
5/9/2005