Mantega promete ajustes na economia em 2015, sem ‘choque’

15/09/2014

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira (15) que ajustes na economia em 2015, em caso de um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, serão feitos com "estratégia gradualista", "em oposição a tratamento de choque".

"Ajustes se fazem necessários sempre, ainda mais quando se defronta com uma crise mundial, como os ingleses chamam de 'a grande recessão', e se fazem necessários mais ajustes na área macroeconômica", disse o ministro na abertura do 11º Fórum de Economia Ajuste Macroeconômico na Economia Brasileira, na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.

Mantega, que confirmou, em entrevista ao jornal O Globo, que não participará de um eventual segundo mandato, por "questões familiares", afirmou que será mantido o chamado "tripé econômico".

Baseado na política fiscal, com o aumento gradual do superávit primário (economia para pagar juros da dívida), cuja meta será de 2 a 2,5% do PIB, esse "tripé" é composto ainda por política monetária com a autonomia operacional do Banco Central, como já é atualmente, e política de câmbio flutuante.

O ministro citou ainda a reforma tributária do ICMS, PIS/Cofins, simplificações e desonerações na folha de pagamento, o Programa Reintegra, para exportações, o Simples, para os micro e pequenos empresários, a manutenção da política industrial, com o Plano de Sustentação do Investimento e a política de conteúdo local, e incentivos à política agrícola com programas como o Plano Safra e o Moderfrota.

Mantega disse que o governo continuará com programas de desenvolvimento como o PAC, o Minha Casa Minha Vida 3, Programa de Concessão de Infraestrutura que será ampliado e programas de educação como Fies e Ciência sem Fronteira.

O ministro afirmou que a expansão se apoiará na competividade, na nova classe média, bem estar social, emprego e renda, investimento em infraestrutura, educação e inovação, no mercado interno e externo, no investimento estrangeiro e na produtividade.

“Ele é negativo, é abaixo da inflação. Nunca vi um estreitamento tão grande para crédito de consumo, e é isso que dificulta. Quando você tem falta de crédito, você não tem encomendas para a indústria"
Guido Mantega, ministro da Fazenda

Falta de crédito
O ministro justificou os problemas na economia brasileira no 1º semestre de 2014 com a demora na recuperação da economia mundial e a turbulência causada pelo Fed (banco central dos EUA), a forte seca no Brasil, a pressão inflacionária, com custos de energia, alimentos e Copa, a restrição de crédito com juros altos, menos dias úteis com feriados e Copa, e problemas de confiança.

Mantega reconheceu que falta crédito para consumo. “Ele é negativo, é abaixo da inflação. Nunca vi um estreitamento tão grande para crédito de consumo, e é isso que dificulta. Quando você tem falta de crédito, você não tem encomendas para a indústria.”

O ministro disse ainda que, apesar desses problemas conjunturais, o crédito já começou a voltar com a flexibilização do BC, o que possibilita recuperação do mercado de consumo.

“A seca tende a se dissipar, temos condição sólida da economia, as reservas estão mais elevadas que em 2008, o câmbio está relativamente estável, dívida externa pequena, bolsa subindo há vários meses, então a economia está mais sólida agora que em 2008. Então, temos condições de retomada da economia. Estamos prontos para iniciarmos um novo ciclo de expansão da economia”.

Autonomia do Banco Central
Mantega fez críticas a promessas de candidatos à Presidência que, para ele, seriam “tratamento de choque”, como a independência do Banco Central, que entraria em conflito com o regime de metas de inflação.

“Teria que acabar com o regime de metas. Um grupo de iluminados que não foi votado tem mais poder sem ter diálogo com o presidente e com as pessoas eleitas pela população. Acho isso um pouco complicado”, afirmou.

“O que mais me preocupa foi o que ouvi falar em desmame na política industrial, cortar o subsídio da indústria quando ela vai comprar equipamentos que são subsidiados, e a indústria seria submetida a mais concorrência dos estrangeiros, isso a meu ver seria trágico para a indústria”, disse.

 

Fonte:

G1