Mantega projeta crescimento médio de 6% ao ano até 2014
31/08/2010
Na sua opinião, o PIB deste ano deve avançar entre 6,5% e 7%, "com maior probabilidade de ser próximo dos 7%". "Se essa expectativa se confirmar será o maior crescimento nos últimos 24 anos (desde 1986). Porém, vamos ter certeza ao sair o resultado do PIB do segundo trimestre, a ser divulgado pelo IBGE na sexta-feira", ressalta, ao acrescentar que prevê avanço com intervalo entre 0,5% e 1% da economia no período.
A perspectiva do ministro é de que o aumento da formação bruta de capital fixo (FBCF) de 22%, projetado para 2010, sustente o crescimento. "Além disso, o IPCA deve ficar entre 5% e 5,2% [neste ano], o que, para um crescimento de 7%, é muito bom", disse.
O ministro descartou a possibilidade de que o ritmo "mais lento" da recuperação das economias mais desenvolvidas possa prejudicar a solidez do País. De acordo com ele, o PIB dos países europeus deve crescer 1% e o dos Estados Unidos deve avançar 2,5% em 2010.
Desafios
O otimismo do ministro da Fazenda, segundo ele, é reflexo da confiança de que o próximo governo, "independentemente de quem for eleito", deve prosseguir com a atual política econômica. "O Brasil tem transformado dificuldades em oportunidades. Até mesmo o fato de que a taxa Selic está alta permite que, se economia precisar, haja espaço para reduzi-la. O Bernanke [presidente do banco central dos EUA] está desesperado porque não tem como impulsionar a economia, com juros próximos do zero", avaliou o ministro. No entanto, Mantega admitiu que a taxa Selic "está longe da ideal".
Os especialistas participantes do fórum foram taxativos em afirmar que a alta taxa de juros prejudica o crescimento do País. "Apesar da economia brasileira ter condições de ultrapassar o PIB da França e da Inglaterra, em sete anos de discussões [no fórum da FGV], ainda falamos sobre o alto valor da taxa de juros no Brasil", apontou o presidente da Fundação, Carlos Ivan Simonsen Leal.
A maioria dos desafios que Mantega comentou durante o fórum, ele diz que ficará de herança para o próximo governo. Dentre eles está a modernização do sistema financeiro, cujo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, havia adiantado na última sexta-feira. Esta modernização prevê desenvolver mecanismos para promover os financiamentos privados de longo prazo, feitos hoje, apenas, pelo BNDES.
Segundo o ministro da Fazenda, o projeto será finalizado nos próximos dois meses. "Lançaremos nos próximos dias uma agência brasileira de garantias e seguros para fomentar esses créditos privados de prazos mais longos. Já temos o cadastro positivo que ainda não foi aprovado e devemos reduzir os custos do spread bancário", exemplifica.
Outro desafio que ele se refere é o de dar equilíbrio às contas externas. "Precisamos dar mais espaço ao comércio exterior. Temos que combater a guerra fiscal, que beneficia a importação em detrimento da exportação. Devemos ser mais rigorosos em casos como de dumping [acordo ilegal de preços]", explicou. Porém, ele disse que as transações correntes devem apresentar déficit, pelo menos, nos próximos dois anos, por conta da lenta recuperação da economia mundial.
Neste aspecto, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, ao participar do evento da FGV, destacou que o Brasil não pode esperar um ou dois anos para conter o saldo negativo da conta corrente. "Deve ser resolvido agora", entende.
Indústria
Durante o Fórum, os economistas presentes discutiram sobre a possibilidade do Brasil estar em processo de desindustrialização. "Pela definição técnica, desindustrialização é quando há redução da participação da indústria no PIB. E é o que acontece", afirmou o economista José Luís Oreiro. De acordo com o presidente da Fiesp, que também é presidente da CSN, há um risco ao setor por conta de uma importação "descontrolada" e de que todos as áreas industriais seriam afetadas.
Entretanto, Mantega rebateu as críticas. "Não vejo processo de desindustrialização", disse. "Com a crise de 2008, houve um encolhimento do mercado de manufaturados, mas eu não falaria que isso é uma desindustrialização. Mesmo porque a maior parte dos investimentos é feita pela indústria que terá crescimento expressivo frente a 2009", acrescentou.
Fonte:
DCI