Logística tem déficit de investimentos há 15 anos

09/01/2009

– Um estudo realizado junto as 100 maiores empresas exportadoras do País sobre logística, pelo Centro de Estudos em Logística do Coopead/UFRJ, revelou que “há um déficit de 15 anos” de investimentos em infra-estrutura de transportes no País.

Segundo o diretor do Centro de Estudos em Logística do Coopead/UFRJ, Paulo Fleury, em 1995 os investimentos em transportes atingiam 1,8% do PIB e, desde 1999, não ultrapassaram 0,2% do PIB, chegando a 0,15% no ano passado.

“Existem grandes barreiras a ser vencidas, o País perdeu capacidade de planejamento integrado da infra-estrutura de tranportes e o problema vem se arrastando de vários governos”, disse. Para ele, o problema do projeto de Parceria Público-Privada (PPP), que considera uma boa iniciativa, é o “risco regulatório”.

Segundo Fleury, “hoje no Brasil qualquer empresa que investe em infra-estrutura não sabe de onde vai receber um tiro: se do Tribunal de Contas da União, do Ibama ou até de órgãos reguladores”, disse, acrescentando que “para ter o PPP, será necessária essa mudança institucional no País”.

O estudo apresentado hoje, durante o X Forum de Logística que está sendo realizado no Rio, até a próxima quarta-feira (18), mostrou que os problemas de infra-estrutura no setor acarretam perdas equivalentes a US$ 4,8 billhões para os exportadores, levando-se em conta os cerca de US$ 80 bilhões exportados pelo Brasil no ano passado.

No custo de capital das empresas exportadoras (ou seja, o que elas estão perdendo do que poderiam investir) a perda chega a US$ 1,2 bilhão a cada ano, segundo o diretor do Coopead, Paulo Fleury. A conclusão do estudo é que a necessidade de estocagem adicional média de pouco mais de 20 dias por causa dos gargalos às exportações provocam essas perdas. “Os impactos desses gargalos são muito grandes sobre a eficiência e os custos das empresas exportadoras”, disse.

Segundo ele, 65% das empresas entrevistadas disseram que os problemas de logística “afetam muito” as margens de lucro. Fleury alertou que, por causa desses problemas “o grande risco do Brasil é ficar conhecido como aquele que vende mas não entrega, que tem produtos bons e baratos mas que não chegam ao destino no prazo estipulado”, disse. Ele afirmou que algumas empresas exportadoras chegam a desembolsar US$ 5 milhões ao ano por causa de atrasos no cumprimento de contratos de vendas externas.

O estudo revelou ainda que entre 1999 e o ano passado o Brasil aumentou sua participação no total das exportações mundiais de 0,86% para 1,03%, ou seja, houve um crescimento de 20%, o que ele considera um incremento muito forte. Outro exemplo da “dramática” expansão das exportações no País desde a desvalorização do real citado por ele é que, enquanto as vendas externas correspondiam a 7% do PIB brasileiro em 1998, hoje equivalem a 13%. “O aumento das exportações expôs o enorme gargalo logístico que ameaça o crescimento futuro das exportações”, disse Fleury.

Transporte marítimo

O transporte marítimo tem “domínio absoluto” na infra-estrutura logística de exportações do País, já que 95% das exportações brasileiras são feitas por navio, segundo revelou o estudo. De acordo com os dados, 94% das 100 empresas exportadoras entrevistadas dizem que a infra-estrutura logística do País, inclusive dos portos, “não atende ou atende precariamente” às suas necessidades.

“Não é possível deixar a infra-estrutura nas mãos da iniciativa privada, sem investir. A infra-estrutura logística em qualquer lugar do mundo é assunto de Estado, de segurança”, disse. Segundo Fleury, a pesquisa mostrou que, no caso dos gargalos para as exportações em geral, 34% dos problemas são de responsabilidade das empresas (capacidade produtiva, dificuldades de penetrar no mercado externo) e 66% são problemas do governo (como barreiras ao comércio e logística).

Tempo de escoamento

A análise do tempo gasto para escoamento das exportações no Brasil mostra que o tempo médio de transporte do produto até o local de embarque é de 27 horas, enquanto o tempo médio pra liberar a mercadoria nos portos alcança 52 horas. Por isso, segundo Fleury, as empresas têm que elevar o prazo de estocagem e minimizar ganhos ou acumular prejuízos. “Das empresas entrevistadas, 80% disseram que os impactos dos gargalos são aumentos de custos muito elevados”, disse.

Fleury disse que o estudo mostrou ainda que os problemas logísticos vão além dos portos e atingem todos os modais de transportes do País. Prova disso é que 93% das empresas entrevistadas disseram que as ferrovias também “não atendem ou atendem de forma precária” às suas necessidades. “Não adianta olhar só para os portos, pois para chegar neles é preciso usar outros meios de transporte”, disse.

Agencia Estado