Juros altos no Brasil vão na contramão de tudo o que está sendo feito no mundo
08/12/2008
Um levantamento feito pela LCA Consultores, com base em 22 países, mostra que 13 deles cortaram a taxa de juros desde a quebra do Lehman Brothers, em meados de setembro.
Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reúne-se para decidir se altera ou não a taxa básica brasileira, que hoje está em 13,75%. O Brasil tem hoje a maior taxa real do mundo, com 7,85%. O número é resultado da taxa básica, descontada a inflação.
Algumas das economias mais desenvolvidas, como Reino Unido e Suíça, já estão no terceiro corte desde o agravamento da crise, com juros de 2% e 1%, respectivamente. A União Européia reduziu os juros pela quarta vez desde então e está em 2,5%.
O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, diz que a queda dos juros tem sido a regra entre os países ricos por eles estarem sofrendo mais rápida e diretamente o impacto da crise. Muitos já estão oficialmente em recessão, e outros a consideram inevitável.
Juros mais baixos ajudam a impulsionar o crédito e o consumo. Por isso são utilizados como um dos principais instrumentos na recuperação econômica.
"Já o caso brasileiro é diferente", diz Borges. Segundo ele, o consumo no Brasil ainda está aquecido, o que pressiona os preços para cima.
Apesar de alguns sinais de desaquecimento econômico, sobretudo na produção industrial, o país ainda apresenta um desequilíbrio entre oferta e demanda, de acordo com o economista. Por esse motivo, ele acredita que o BC brasileiro não deve acompanhar a tendência internacional.
"No Brasil, o que dita o comportamento dos juros é a inflação, tanto a atual, como a expectativa. O BC não vai reduzir os juros porque outros países o fizeram", diz o economista.
Redução
A taxa básica de juros tem sido tema de grandes embates entre especialistas do país. Aqueles que defendem a sua manutenção nos atuais níveis argumentam que a recente valorização do dólar tem forte impacto inflacionário.
Aqueles do outro lado do debate apontam para recentes quedas na demanda interna em alguns setores da economia, como o automobilístico, e na queda do preço das commodities, para mostrar que juros altos podem prejudicar o crescimento brasileiro em tempos de recessão global.
O professor de economia internacional da FGV-Rio, André Nassif, é um dos que apostam na manutenção dos juros, "mas a contragosto", segundo ele.
"Os preços das commodities estão caindo, o petróleo principalmente. Isso diminuiu a pressão sobre a inflação", diz. Segundo ele, essa queda de preços no mercado internacional compensaria a recente valorização do dólar, que tem poder inflacionário.
"O Banco Central brasileiro deveria ser mais atrevido e reduzir os juros", defende o professor.
O economista João Brogger, da Leme Investimentos, também aposta na manutenção da Selic na próxima reunião. Mas, para ele, o BC "já não está apenas olhando para a inflação".
"Os dados negativos estão vindo mais cedo que se imaginava", diz Brogger. Segundo ele, o próprio governo, que chegou a minimizar o impacto da crise, está mais consciente do problema.
Diferença
Enquanto a redução dos juros tem sido a regra entre os países ricos, no grupo dos emergentes a tendência já não é tão clara.
O levantamento da LCA mostra que, dos 22 países pesquisados, cinco mantiveram a taxa inalterada desde setembro, e dois deles tiveram de aumentar a dose. Isso sem citar o caso da Hungria, que já aumentou e reduziu os juros desde então.
Enquanto Brasil, Chile, México e África do Sul não mexeram nos juros, China e Índia já estão no quarto e segundo cortes, respectivamente.
O Chile é um dos que sofre com a pressão inflacionária, com índice anual em 8,9%, número muito acima da meta estabelecida pelo governo, de 3%. Na última reunião, o banco central chileno manteve a taxa de juros em 8,25%.
Na China, a inflação deixou de ser um problema para o governo. Em função da crise, os preços caíram drasticamente em outubro, abrindo espaço para a redução dos juros.
Em geral, países com taxas de juros muito acima do praticado em outras economias tendem a atrair capitais. Países como Islândia e Rússia, que dependem fortemente do capital estrangeiro, aumentaram os juros na tentativa de atrair esse investidor.
Na opinião de Nassif, entretanto, essa é uma regra que não funciona em situações de turbulência. "Existe uma crise de confiança no mundo. Por mais que se ofereçam juros altos, o investidor estrangeiro pensará duas vezes."
Uol Economia
Fabricia Peixoto
BBC Brasil